Adega - Edição 159 (2019-01)

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Esse fenômeno não afeta os vinhos de colheita tardia?
Vai ficar cada vez mais difícil alguém produ-
zir Eiswein, porque o período em que as uvas
terão que ficar expostas no vinhedo (portan-
to, sujeitas a doenças) será muito longo [os
Eiswein são produzidos com uvas sadias, mas
colhidas já congeladas, nos meses mais frios,
em geral de dezembro a fevereiro].

Porque a Riesling não tem a mesma popularidade da
Chardonnay ou da Sauvignon Blanc?
Um primeiro fator é que as uvas francesas
são mais conhecidas pelo consumidor. Ou-
tra questão é que você precisa se acostumar
à Riesling, porque a acidez pode incomo-
dar algumas pessoas. Nós temos um vinho
chamado Knyp, com acidez reduzida pela
adição de lacto-bactérias. É muito fácil de
beber. Às vezes, numa degustação, as pessoas
provam nossos melhores vinhos, mas vejo
que acabam voltando para o Knyp. Foi o que
elas gostaram mais. O Riesling é sempre de-
safiador. E também tem que levar em conta a
comida, porque ela pode absorver parte dessa
acidez.

Que tipo de comida seria melhor com um bom Riesling?
Alguns vão bem até com um bife, como um
GG (Grosses Gewächs) envelhecido. Um
Riesling seco jovem vai bem com saladas. Os
doces vão bem com comida condimentada.
Os Auslese, Beerenauslese e Trockenbeere-
nauslese (mais doces) combinam com sobre-
mesas ou com queijos.

A legislação alemã também não dificulta a aceitação
dos Riesling, porque é preciso entender muita coisa no
rótulo para saber exatamente o que se está bebendo?
Talvez seja mais uma questão do rótulo. Es-
tamos diminuindo isso na Verband deutscher
Prädikatsweingüter - VDP [associação que reú-
ne 200 dos melhores produtores alemães]. Nas
novas safras dos vinhos secos, não mais usamos
os “predicados” no rótulo. E estamos discutindo
como incorporar isso à legislação. Por enquan-
to, é só para os vinhos secos. Nos doces, vamos
manter os predicados [Kabinett, Spätlese, Aus-

A nomenclatura usada nos
rótulos dos vinhos alemães
continua sendo um desafio
para os consumidores, mesmo
quem entende a língua. Hoje,
existem duas classificações. A
mais tradicional é a que associa
“predicados” aos melhores
vinhos, que vão de Kabinett a
Trockenbeerenauslese (TBA),
passando por Spätlese, Auslese,
Beerenauslese e Eiswein,
embora esse último possa ser
considerado quase uma categoria
à parte pelo modo como é
produzido. Ao contrário do que se
convencionou, essa classificação
não indica necessariamente
o grau de doçura dos vinhos,
mas o teor alcoólico potencial
que a presença de açúcar no
mosto permite alcançar. Assim,
dependendo da região, os
Kabinett, Spätlese e mesmo os
Auslese podem ser doces (semi-
secos, no caso dos primeiros)
ou secos. Já os três últimos

(Beerenauslese, Eiswein e TBA)
são sempre doces.
Há não muitos anos, a VDP,
associação que reúne 200 dos
melhores produtores alemães,
criou uma segunda classificação,
que segue basicamente o
modelo adotado na Borgonha.
São quatro níveis: Gutswein,
que seriam os vinhos genéricos
da região produtora; Ortswein,
o equivalente ao Village; Erste
Lage (Premier Cru) e Grosse Lage
(Grand Cru). A menção GG no
rótulo de um vinho de produtor
associado à VDP significa Grosses
Gewächs, um vinho top e sempre
seco. Mas essa classificação só
vale para os membros da VDP, o
que só aumenta a confusão.
Em resumo, os alemães
parecem adeptos do bordão
popularizado por Chacrinha, o
“velho guerreiro”, figura lendária
do entretenimento brasileiro: “eu
não vim para explicar; vim para
confundir”.

A DIFICULDADE DOS NOMES
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