Aventuras na História #235A - 02Dez22_compressed

(lenilson) #1
Inglaterra, como o “chifre do diabo”: dois gru-
pos atacaram pelas laterais, simultaneamente.
Os soldados britânicos estavam muito dis-
tantes entre si, o que facilitou o ataque frontal.
“A linha de fogo britânica se estendia por
2750 metros, o que significa que havia espaço
demais entre os soldados. Havia dado certo em
outras campanhas britânicas, em especial con-
tra os xhosas, também do sul da África, porque
o poder de fogo dos Martini-Henry conseguiu
eliminar a linha de frente adversária. Não foi
o caso em Isandlwana.” Para complicar ainda
mais a situação, as duas colunas laterais dos
zulus encontraram os f lancos desprotegidos,
de forma que foi possível cercar os inimigos
europeus. Rapidamente, os zulus dispersaram
os inimigos que restaram.
“Percebendo que estavam sendo cercados,
os britânicos perderam coesão, o que permitiu
aos zulus separá-los em pequenos grupos e
provocar a batalha da maneira como eles mais
gostavam, com combates corpo a corpo até a
morte de um dos adversários, em geral os eu-
ropeus”, afirma John Laband, professor emé-
rito da Wilfrid Laurier University, do Canadá,
e autor de Historical Dictionary of the Zulu
Wars (sem tradução). “Apenas alguns homens
a cavalo conseguiram escapar.”
Muitos soldados morreram tentando se de-
fender usando facas ou transformando suas
armas descarregadas em porretes. Alguns, que
optaram por fugir correndo, simplesmente fo-
ram cercados e forçados a lutar até o fim. Quan-
do a batalha havia se tornado uma simples per-
seguição, era perto das 14h30. Nesse horário,
aconteceu um eclipse total do sol, que deu à
derrota britânica um ar ainda mais funesto.
Em parte, o fracasso da estratégia se explica
pela grande diferença de contingente: eram 67

oficiais e 1707 soldados britânicos, contra uma
quantidade muito maior de zulus: 23 mil ho-
mens. Morreram 1300 militares do lado inglês
(ou seja, 76% do total) contra aproximadamen-
te mil africanos (ou 4% dos combatentes).
Das três frentes que iniciaram a invasão ao
reino zulu, uma foi destroçada em Isandlwana.
As outras duas se viram isoladas, porque pene-
traram rápido demais no terreno adversário e
os zulus só precisaram cortar as linhas de for-
necimento de mantimentos. O general Frederic
Thesiger se viu forçado a recuar para fora do
país inimigo. O erro inicial marcaria sua car-
reira para sempre, mas ele ainda não sabia dis-
so. Ainda acreditava que podia receber os louros
por trazer um novo território inteiro, e suas
minas de diamantes, para a posse da Coroa.

A TRAIÇÃO DA COROA


Thesiger havia provocado uma tensão que antes
não existia entre britânicos e zulus, e decidira
partir para a guerra sem o aval de seus superio-
res. Agora estava decidido a se recompor dian-
te de uma das derrotas mais vergonhosas da
história do império a que servia. “A vitória zulu
mudou a abordagem dos britânicos. A derrota
em Isandlwana deu aos europeus um novo res-
peito pelos inimigos, além de fornecer um in-
centivo: os europeus se tornaram determinados
a se vingar, a impor ao reino zulu uma vitória
tão embaraçosa quanto a que eles mesmos so-
freram”, afirma Jack Hogan, professor do De-
partamento de História Internacional da Lon-
don School of Economics and Political Science.
As motivações para a Guerra Anglo-Zulu
são difíceis de entender. A Inglaterra começou
a colonizar o sul da África em 1806, apresen-
tando concorrência aos bôeres, europeus mo-
radores dos Países Baixos, da Alemanha e da
Dinamarca, em geral calvinistas, que já esta-
vam estabelecidos em colônias na região. O
Império Zulu surgiu dez anos depois, em 1816,
e se tornou um aliado tradicional, primeiro
dos bôeres, depois dos ingleses – no caso dos
bôeres, eles alcançaram um convívio tranqui-
lo depois de uma primeira tentativa de invasão
europeia, repelida em 1837. E assim os zulus

UM ECLIPSE TOTAL DO SOL


DEU À DERROTA BRITÂNICA


UM AR AINDA MAIS FUNESTO


ÁFRICA


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