Aventuras na História #235A - 02Dez22_compressed

(lenilson) #1

SOLDADOS DOPADOS


Boa parte dos africanos utilizava
estimulantes para a batalha. Os africanos
surpreenderam os britânicos não pela
técnica apurada, mas porque pareciam não
ter medo algum de morrer. Hoje se conhece
a razão: todos os soldados faziam uso de
cogumelos e ervas, misturados e
transformados em chás. Era sob o efeito do
alucinógeno que eles partiam para a
batalha, insensíveis ao medo e à dor e sem
parecer ter nenhum tipo de noção de perigo.
Já os comandantes preferiam a dagga, uma
variação da cannabis que os deixava
centrados e otimistas.

Índia. Mas, até que Wolseley chegasse, Thesiger
tinha pela frente alguns meses para agir.
De fato, ele conseguiu mudar a situação:
ajustou a estratégia e solicitou mais homens.
Para a segunda invasão, o número total de
soldados havia saltado de 15 mil para 25 mil,
com maior participação de europeus – na pri-
meira investida, a maioria dos homens, 9 mil,
eram africanos treinados às pressas e sem a
mesma experiência em batalha.
Assim, alcançou uma sequência de vitórias,
culminando com a Batalha de Ulundi, em 4 de
julho de 1879. Nesse dia, iniciou o ataque com
uma hora e meia de bombardeio incessante,
seguido pelo deslocamento de uma linha de
frente compacta, que disparava sem parar. Era,
na prática, o fim do Império Zulu.
“O prestígio inglês no sul da África foi for-
temente abalado pela derrota, então era essen-
cial para o general demonstrar a superioridade
militar por meio de uma vitória incontestável
sobre os zulus”, afirma John Laband. “Por isso,
todas as tentativas de trégua ou acordo da par-
te dos zulus foram rapidamente rejeitadas. Os
ingleses só poderiam aceitar a rendição com-
pleta, a abolição da monarquia zulu e o des-
monte de seu temido exército.”

O AMARGO FIM


A derrota inicial também definiu o trato aos
derrotados. “Foi uma campanha brutal”, diz
Laband. “Os britânicos tomaram poucos pri-
sioneiros. Os feridos eram assassinados ainda
no campo de batalha e os britânicos passaram
a usar a cavalaria a seu favor, de maneira a
transformar a retirada do adversário numa
verdadeira caçada.” Apesar da vitória, Frederic
Thesiger nunca mais veria um campo de bata-
lha até falecer, em 1905, assim como Henry
Bartle Frere, que morreria em Londres, com-
pletamente desprestigiado, em 1884.

Ao receber uma vitória consagrada, Garnet
Wolseley foi firme em sua estratégia de dividir
o inimigo. “O antigo reino foi rachado em 13
fragmentos fracos, que não ofereciam nenhu-
ma ameaça ao território britânico vizinho”,
explica o professor. A estratégia foi bem-suce-
dida, até demais.
Deposto, o rei Cetshwayo kaMpande seguiu
para a prisão de Robben Island, a mesma onde,
no século seguinte, Nelson Mandela passaria
27 anos detido. Mas os conf litos entre os dife-
rentes governantes do antigo reino foram tão
constantes que o antigo monarca foi convida-
do a retornar a seu país natal em 1883.
Morreria no início de 1884, depois de sofrer
uma série de derrotas para Zibhebhu kaMa-
phitha Zulu, um dos mais importantes líderes
dos 13 territórios, que tentava, sem sucesso,
reconstruir o Império Zulu.
Apesar do final melancólico, o rei
Cetshwayo imortalizou seu nome ao emplacar
uma vitória estrondosa sobre o mais poderoso
império da História.

O PRESTÍGIO INGLÊS NO SUL DA ÁFRICA FOI


FORTEMENTE ABALADO PELA DERROTA


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