Aventuras na História #235A - 02Dez22_compressed

(lenilson) #1
dragão havia sido derrotado. Após
mais de uma década de guerras ca-
tastróficas, redesenhando os mapas
da Europa conforme sua conveniên-
cia, ao custo de milhões de vidas, Napoleão
não podia mais fazer nada. Relatos vindos de
sua prisão, a Ilha de Elba, no Mediterrâneo,
asseguravam que tudo estava sob controle.
“Começo a achar que ele está bem resignado
ao seu retiro”, escreveu Neil Campbell, oficial
do Exército britânico que escoltou Napoleão
Bonaparte em seu primeiro exílio, em carta
ao Lorde Castlereagh, secretário de Relações
Exteriores da Grã-Bretanha.
Em 11 de abril de 1814 fora forçado a re-
nunciar. No dia 2, o Senado Conservador o
havia deposto, em busca de um acordo de paz
com o resto da Europa. Seus generais, exaustos
desde o desastre da campanha na Rússia, em
1812, recusaram-se a cumprir suas ordens para
invadir Paris. Entregue aos seus adversários,
eles preferiram não criar um mártir, e seu
castigo foi relativamente brando.
Quase um ano depois, naquele março de
1815, diplomatas da Rússia, Prússia, Áustria,
Suécia, Inglaterra e outras nações estavam
reunidos em Viena na tentativa de restaurar
os territórios ao seu estado pré-Napoleão. E,
enquanto dormiam o sono dos justos, o dragão
estava no mar. Sem que ninguém soubesse,
fora resgatado em 26 de fevereiro.
Em 20 de março, entraria triunfalmente por
Paris. Eram os 100 dias de Napoleão, sua cam-
panha na tentativa de recuperar o que fora
perdido com a abdicação forçada.

FORA O REI, VOLTA O IMPERADOR


Em 16 de março, pouco antes da chegada de
Napoleão a Paris, Luís XVIII – irmão do gui-
lhotinado Luís XVI, restaurado ao trono fran-

cês desde a abdicação do imperador – discur-
sou para as Câmaras Legislativas. “Deixem as
duas Câmaras darem à Carta Constitucional
a força de autoridade que ela exige e essa guer-
ra vai verdadeiramente provar ser uma guer-
ra nacional, mostrando o que pode ser feito
por um grande povo unido por seu amor ao
rei e por seu amor fundamental do Estado.”
Ele partiu para o exílio apenas três dias depois,
fato seguido em horas pela entrada de Napo-
leão na capital.
Diante da notícia da volta do imperador, o
Teatro Comédie Française cancelou a apresen-
tação da noite. Em contraste, o popular Théâtre
de la Porte Saint-Martin ergueu um palco tem-
porário do lado de fora, com bustos de Napo-
leão, para que um de seus atores oferecesse
elogios ao imperador quando ele passasse
rumo ao Palácio das Tulherias. “A maioria das
pessoas esperava que as forças monarquistas
derrotassem rapidamente o pequeno e risível
exército de Napoleão, mas as tropas do rei de-
sertaram aos bandos para o imperador regres-
sado”, diz o escritor britânico Bernard Cor-
nwell, autor de Waterloo: A História de Quatro
Dias, Três Exércitos e Três Batalhas.
O coronel Girod de l’Ain estava entre os
oficiais que haviam lutado sob o comando de
Napoleão. Forçado a se aposentar, quis se jun-
tar novamente ao imperador em 1815. Saiu dos
Alpes franceses, onde morava, rumo a Paris e
registrou: “O país inteiro era uma turbulência
só. Viajei de uniforme, mas tomei a precaução
de providenciar duas fitas para o chapéu, uma
delas branca e outra tricolor, e, dependendo
da cor da bandeira que eu via tremulando (...),
rapidamente decorava meu chapéu com a fita
apropriada”.

DE VOLTA À “NORMALIDADE”


O primeiro desafio do imperador girava em
torno de que tipo de ordem ele procuraria
impor. Tendo retornado sob alegação de legi-
timidade popular, ele não poderia se permitir
perda de apoio do povo. “Em seus primeiros
dias de volta a Paris, ele se viu forçado a

AO ESCAPAR DE SEU PRIMEIRO EXÍLIO NA ILHA


DE ELBA, O IMPERADOR FRANCÊS DEU INÍCIO


AO TUDO OU NADA EM SEUS ÚLTIMOS 100 DIAS


NO PODER POR MARIA CAROLINA CRISTIANINI


O


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