O Estado de São Paulo (2020-03-23)

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B4 Economia SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


● As informações sobre a pandemia têm provocado um efeito direto nas ações listadas na Bolsa de
Valores. A correlação com as notícias, tanto na alta como na queda, é praticamente imediata

O IMPACTO DO CORONAVÍRUS NAS EMPRESAS

FONTES: AGÊNCIA ESTADO E BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

NOTÍCIA

A ação da BR Malls atinge a
mínima de R$ 7,90. O papel
fechou o dia em baixa de
23,88%, a R$ 8

A ação da Eletrobrás caiu para
a mínima de R$ 19,18 , às
15h45 , mas se recuperou e
fechou o dia em queda de
16,1% , a R$ 21,

A ação da Rumo Logística foi
beneficiada com a informação
de retomadas de embarques
para a China e encerrou o dia
em alta de 17,49% , a R$ 18

Efeito direto nas ações das
companhias aéreas desde o
início do dia: Azul subiu 15,29%
para R$ 13,80 , e Gol Linhas
Aéreas disparou 16,48% ,
a R$ 7,

CONSEQUÊNCIA NA BOLSA

AE - 18/3 - 13h
O governador de São Paulo,
João Doria (PSDB), anunciou o
fechamento de todos os shopping
centers da Região Metropolitana de
São Paulo

AE - 18/3 - 14h
O ministro de Minas e Energia, Bento
Albuquerque, foi diagnosticado com
o novo coronavírus. A informação foi
dada pelo presidente Jair Bolsonaro
em coletiva de imprensa no Palácio
do Planalto

AE - 19/3 - 12h
A movimentação de cargas
no Porto de Santos registrou um
crescimento de 5,4% em fevereiro
frente igual período de 2019, recorde
para o período

AE - 20/3 - 9h
A Associação Internacional de
Transporte Aéreo (Iata, na sigla em
inglês) saudou o governo do Brasil
pelas medidas recentemente
apresentadas para ajudar o setor
aéreo durante a crise do coronavírus

CVC e IRB lideram a


lista de maiores


desvalorizações do


Ibovespa no ano. Apenas


uma ação se salva


PEQUENO AVANÇO

GPA ON
EM REAIS

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

16
MAR

20
MAR

55,

60,

65,

70,00 67,

7,8%
VARIAÇÃO
NA SEMANA

“Crise na Argentina, óleo no Nordeste, falência da Avianca e erro no balanço.”


José Ayan Júnior


O cenário otimista projetado
para os investimentos em ren-
da variável em 2020 foi rapi-
damente substituído pelo pâ-
nico causado pelo coronaví-
rus. Com a escalada da doen-
ça, as Bolsas de Valores mun-
diais passaram a derreter. As
notícias ligadas à pandemia
têm um efeito direto no mer-
cado financeiro e as ações rea-
gem a elas. No Brasil, apenas
um papel do Ibovespa, o prin-
cipal índice da B3, consegue
resistir neste ano: o da Tele-
fônica Brasil, com alta de
0,64%. O índice acumula des-
valorização de 42%.

Ponto fora da curva neste mo-
mento de crise, os dados corpo-
rativos têm sido a força da Tele-
fônica. Os analistas conside-
ram que a redução do nível de
alavancagem, com o pagamen-
to de empréstimos e financia-
mentos, e o aumento da remu-
neração dos acionistas por
meio de dividendos e juros so-
bre o capital próprio são fatores
importantes para que os investi-
dores prefiram manter a ação
na carteira a vendê-las.
Em contrapartida, empresas
ligadas ao turismo e ao entrete-
nimento estão em baixa. A dis-
parada do dólar, estabelecendo


o recorde nominal para acima
de R$ 5, e o agravamento da pan-
demia que cancelou viagens e
voos em massa têm feito as
ações despencarem.
As perspectivas nada anima-
doras estão ligadas a um cená-
rio de total incerteza, com um
sentimento do mercado de que
o “pior ainda está por vir”. A pos-
sibilidade de pedidos de falên-
cia também já está no radar dos
investidores. As ações da Gol já
foram penalizadas no ano com
uma queda 80,22%, seguida pe-
la Azul, com baixa de 76,32%. A
Smiles também teve seus pa-
péis afetados, com recuo de
74,21%.
“Como as pessoas estão em
isolamento e há uma queda
brusca de demanda, as em-
presas estão cortando
90% dos voos inter-
nacionais e os voos
domésticos estão
caindo 50%”, diz
Jorge Leal Medei-
ros, especialista em
aviação e professor
da Poli-USP. “Gol,
Azul e Latam estão em
uma situação muito difícil e pre-
cisam de suporte do governo.”
Na última semana, o governo
anunciou medidas de emergên-
cia para reduzir o custo das em-
presas, como o adiamento do
pagamento das tarifas de nave-
gação aérea, a flexibilização do
pagamento dos bilhetes emiti-
dos, além de colocar uma linha
de crédito em estudo.
Mas nada se compara ao caso
da operadora CVC, que acumu-
la desvalorização de 81,26% no

ano e é a pior entre as empresas
que fazem parte do Ibovespa.
Além dos fatores que afetam to-
das as demais do setor de turis-
mo e entretenimento, há um his-
tórico de pontos negativos que
contribuiu para a forte desvalo-
rização da ação.
“A crise da Argentina, as man-
chas de óleo no Nordeste, a fa-
lência da Avianca e um critério
contábil errado no balanço for-
maram uma tempestade perfei-
ta para a CVC”, diz Pedro Galdi,
analista de investimentos da Mi-
rae Asset.

Efeito Buffett. Outra empresa
que está sendo afetada tanto pe-
los fatores externos como por
internos é o IRB. Com perda de
81,26% no ano (sim, o mes-
mo que a CVC), a ação
da resseguradora
chegou a recuar
mais de 30% em
um único pregão,
perdendo mais de
R$ 8 bilhões em va-
lor de mercado.
Em meados de feve-
reiro, investidores alega-
ram que a administração da em-
presa os teria induzido a acredi-
tar que a Berkshire Hathaway,
empresa do megainvestidor
Warren Buffett, teria triplicado
sua participação no IRB, apro-
veitando a baixa das ações da
resseguradora no mercado.
Uma semana depois, o bilioná-
rio divulgou um comunicado
afirmando que não é, nunca foi
e nunca será acionista da com-
panhia.
A imagem da empresa no mer-

cado já havia sido arranhada
quando a gestora Squadra levan-
tou questionamentos a respei-
to do balanço, acusando a com-
panhia de inflar valores contá-
beis. “Desde que o IRB realizou
sua abertura de capital em Bol-
sa de Valores, em 2017, temos
dedicado esforços na análise de
seus negócios e resultados. Nes-
se processo, encontramos indí-
cios que apontam lucros norma-
lizados (recorrentes) significa-
tivamente inferiores aos lucros
contábeis reportados nas de-
monstrações financeiras da
companhia”, escreveu a Squa-
dra, em carta.
A crise de credibilidade culmi-
nou na demissão de José Carlos
Cardoso e Fernando Passos, en-

tão presidente e diretor finan-
ceiro da resseguradora, respec-
tivamente, além de levar Ivan
Monteiro à renúncia do cargo
de presidente do conselho de
administração.

Uma outra guerra. A Petro-
brás, umas das companhias de
maior relevância no Ibovespa,
registra quedas de 60,24% na
ação preferencial e de 61,81% na
ordinária. Apesar de um início
de ano promissor, com boas
perspectivas de melhorias ope-
racionais, desalavancagem e re-
corde de produção, a tensão en-
tre Arábia Saudita e Rússia caiu
como uma bomba e resultou
em uma forte queda no preço
do petróleo.

O resultado não poderia ter
sido outro: o investidor quis evi-
tar riscos e houve uma fuga do
papel na Bolsa.
“Há uma grande correlação
entre preços da Petrobrás e o
comportamento do petróleo
no ano. Sendo assim, podemos
atribuir grande parte desse mo-
vimento de queda ao preço da
commodity”, diz Ricardo Fran-
ça, analista da corretora Ágora
Investimentos.
Com a mudança macroeconô-
mica, a agenda da petroleira de
venda de ativos e melhora de
fundamentos deve ser adiada. A
Ágora estima que os resultados
de desalavancagem da compa-
nhia para 2020 só serão entre-
gues nos próximos dois anos.

Na contramão do Ibovespa,
que caiu 18,8% na semana
passada, a ação ordinária do
Pão de Açúcar subiu 7,8%
para R$ 67,23 na sexta-feira.
Autoridades federais e esta-
duais reafirmaram que os
supermercados estão entre
os setores essenciais da eco-
nomia, condição para fica-
rem abertos durante toda a
crise do coronavírus.


Bolsa recua 42%.


Por que algumas


ações caem mais?


Ação do Pão de Açúcar


sobe 7,8% na semana


CONSUMO


81,26%
É A QUEDA
ACUMULADA DAS
AÇÕES DE CVC E
IRB NESTE ANO

Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, sobre a tempestade perfeita da CVC

Papéis defensivos
para ficar de olho
Além das ações de supermer-
cados como Pão de Açúcar e
Carrefour Brasil, analistas
recomendam atenção às em-
presas listadas que atuam
em serviços essenciais co-
mo energia, concessão, dis-
tribuição de combustíveis e
telecomunicações. Nessa
lista estão papéis como Co-
san, Taesa, Equatorial Ener-
gia e Transmissão Paulista.

BOLSA
Respeito ao perfil
é recomendado
No atual ambiente de incer-
tezas e volatilidade, os inves-
tidores devem redobrar a
atenção ao perfil de risco:
conservador, moderado, ar-
rojado ou agressivo. Respei-
tar esses limites é fundamen-
tal para passar pela crise. O
pior, neste momento, é en-
trar cegamente nas ondas
de mercado e perder parte
do patrimônio.

COMPORTAMENTO
Bancos priorizam
canais digitais
Em tempos de restrição de
circulação de pessoas, os
bancos sugerem o atendi-
mento por meio dos canais
digitais, sem precisar ir até
as agências. A orientação é a
utilização dos aplicativos no
celular com internet para
fazer, com segurança, paga-
mentos de contas, consul-
tas, transferências e em-
préstimos.

ORIENTAÇÃO
Agenda do BC mexe
com a segunda-feira
A semana começa movimen-
tada. Além da esperada Pes-
quisa Focus com analistas
de mercado, o Banco Cen-
tral (BC) decidiu antecipar
de amanhã para hoje, a divul-
gação da ata do Comitê de
Política Monetária (Co-
pom). O presidente do BC,
Roberto Campos Neto, con-
cede entrevista virtual às 9
horas.

FIQUE DE OLHO
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