O Estado de São Paulo (2020-03-23)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-5:20200323:
O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2020 Economia B


A


pergunta que todos estão se fa-
zendo agora é: para onde cor-
rer? Afinal, onde colocar o di-
nheiro na situação que estamos viven-
do?
Vou insistir na resposta que tenho dado:
não mexa nas suas aplicações neste mo-
mento, a não ser que haja muita necessi-
dade de caixa. Em momentos de alta vola-
tilidade como a que estamos vivendo,
sair de uma posição pode significar am-
pliar as perdas. Muitos questionam se
não é hora de partir para um dos portos
seguros dos investimentos. Mas existe
um porto seguro na atual situação? O ou-
ro é sempre mencionado, mas o preço do
metal caiu quase 13% desde 6 de março.
Pensando em renda fixa aqui no Brasil os
ganhos estão minguando. Mas, há casos
de ganho real, mesmo com a Selic a
3,75% ao ano. Por exemplo, LCI/LCA que
pague próximo a 100% do CDI pode tra-
zer ganho real de 0,5% em um ano. Um
CDB com 116% do CDI, mesmo com im-
posto, traz retorno real de 0,38%. Os fun-
dos de forma geral estão com retornos
negativos. O Tesouro IPCA+ está sendo
negociado de 4,05% a 4,61%, ao ano mais
a variação do IPCA. As ações estão muito
baratas, mas só se você tiver estômago
para suportar o movimento do mercado.
E não há como prever quando o mercado
vai parar de apresentar essa volatilidade
tão grande.

l O que são as ações chamadas de super-
preferenciais?
Algumas empresas internacionais e, mais
recentemente, empresas nacionais, estão
lançando ações preferenciais com super
direitos econômicos sobre o que usual-
mente é oferecido, como ter maiores divi-
dendos. Apesar de não dar direito a voto,
ela permite, que um grupo possa ser o
dono “econômico” de uma empresa, mas
permitindo que um líder dite os rumos
da empresa, um “capo” dono do negócio.
Por outro lado, há também as ações cha-
madas de superordinárias que são aque-
las com voto plural. Em outros termos,
são papéis com direito a mais de um voto
por ação. Este tipo de ação é vetado no
Brasil, mas é prática possível no Estados
Unidos. O movimento na direção da cria-
ção tanto das ações superpreferenciais
quanto das superordinárias encontra bar-
reiras e sofre criticas das instituições liga-
das a governança corporativa.

Thiago Lasco

Com as sucessivas reduções
na taxa básica de juros, a ren-
tabilidade dos títulos de ren-
da fixa está achatada. Na se-
mana passada, o Copom, do
Banco Central, reduziu a Se-
lic para 3,75% ao ano. Soma-
se ao menor juro da história
uma inflação projetada para
2020 beirando os 3%. O inves-
tidor que não olhar com cui-
dado para suas aplicações e
fizer algumas correções de
rumo pode acabar tendo ga-
nhos reais próximos de zero


  • ou até mesmo negativos, se
    lembrarmos que em vários ti-
    pos pode haver taxa de admi-
    nistração ou a incidência de
    Imposto de Renda.
    É preciso defender a cartei-
    ra e adaptá-la aos novos tem-
    pos. Embora conhecer o per-
    fil seja importante, existem
    opções que oferecem boa
    rentabilidade sem expor o in-
    vestidor a grandes riscos. No
    momento atual, quem se des-
    taca são os papéis prefixados

  • aqueles com a remunera-
    ção definida no momento da
    compra.
    Enquanto os juros no cur-
    to prazo sofrem os efeitos do
    encolhimento da Selic, as ta-
    xas oferecidas em títulos pre-
    fixados de médio e longo pra-
    zo subiram. “As taxas de 2, 3
    ou 4 anos estavam baixas, na
    casa de 4,5% ao ano. Hoje, há
    títulos prefixados de 3 anos
    do Tesouro Direto sendo ne-
    gociados perto de 7%”, diz
    Luís Barone, sócio-diretor
    da Ativa Investimentos.
    Ainda que os prefixados es-
    tejam em uma boa fase, isso


não significa que é preciso mi-
grar todo o seu capital inves-
tido para papéis desse tipo.
O ideal é dividir as quantias
em horizontes de curto, mé-
dio e longo prazos, cada um
com uma estratégia.
Para aquele dinheiro que
precisa estar sempre à mão
para qualquer necessidade,
nada melhor que os títulos
pós-fixados, atrelados ao
CDI – os mais conhecidos
são os CDBs. É verdade que o
retorno deles não é tão atrati-
vo neste momento. Mas eles
compensam oferecendo
maior liquidez. “É importan-
te guardar um pouco de di-
nheiro nesse colchão, até pa-
ra aproveitar as oportunida-
des que surgirem”, afirma
Fernando Fridman, head de
produtos da Ourinvest.
Uma alternativa para alo-
car o dinheiro em prazos
maiores é investir em títulos
atrelados à inflação. Esse ti-
po de papel paga a variação
do IPCA, índice que consoli-
da a oscilação de preços no
varejo, e mais uma taxa de ju-
ros. No cardápio do Tesouro
Direto existe a opção do títu-
lo Tesouro IPCA.
No entanto, essa estraté-
gia é vista com cautela por
parte dos analistas de merca-
do, justamente porque a in-
flação está sob controle. Di-
versificar continua sendo a
melhor opção. “O investidor
primeiro divide entre CDI,
prefixado e inflação. Depois,
acrescenta fundos multimer-
cado e renda variável. E com-
plementa com câmbio”, diz
André Souza Fernandes, da
Ágora Investimentos. “Di-
versificar dilui o risco, por-
que a carteira consegue res-
ponder a cenários diferen-
tes. Ela fica equilibrada, so-
fre flutuações menos brus-
cas, e as variações positivas
são mais acentuadas que as
negativas.”

Taxa básica de juros
influencia a renda fixa.
Fique atento ao que
deve ser feito para
ajustar a carteira

Onde investir


com a Selic a


3,75% ao ano


ENTREVISTA

A

declaração pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) da pandemia do novo corona-
vírus traz à baila uma questão da maior im-
portância para todos os segurados, de to-
dos os tipos de apólice que possam gerar
sinistro em função da propagação da covid-
19 pelos mais de 150 países atingidos.
A cláusula que todo segurado deveria ler é a dos ris-
cos excluídos. Riscos excluídos são os riscos que, inde-
pendentemente do ramo e das garantias oferecidas, em
caso de sinistro, o seguro não indeniza. Não há apólice
de seguro que não contenha cláusula de riscos excluí-
dos, até porque as seguradoras devem demonstrar clara-
mente as razões pelas quais deixam de pagar uma inde-
nização, ainda que, em teoria, estando coberta.
As razões para o não pagamento da indenização em
função da cláusula de exclusão de riscos são variadas e
têm razões diferentes, que vão desde a participação do-
losa do segurado no evento danoso, até situações em
que a sobrevivência do próprio setor de seguros pode
ser posta em xeque.
Dois exemplos dessas situações seriam o assassinato
do segurado pelo beneficiário do seguro de vida e a eclo-
são de uma guerra nuclear global. No primeiro caso, te-
ríamos um ato criminoso praticado pelo beneficiário do
seguro para receber a indenização e, no segundo, tería-
mos a destruição da sociedade humana como a conhece-
mos. A função do seguro não é premiar um ato doloso
do beneficiário do seguro, mas pagar indenizações dos
sinistros cobertos em que não haja sua participação cri-
minosa. No caso de uma guerra nuclear global, a socieda-
de como a conhecemos seria destruída, não havendo,
em consequência, seguradora para pagar a indenização,
nem segurado para recebê-la.
A primeira providência de quem contrata um seguro
deveria ser sempre, antes de assinar, ler as condições esta-
belecidas no contrato. A operação de seguro se materiali-
za através da assinatura de um contrato entre a segurado-
ra e o segurado, no qual estão estabelecidas todas as con-
dições da avença, começando pelo que está coberto, co-
mo está coberto, por que valor e que prazo está coberto;
passando pelo que está excluído e quais os bens não co-
bertos; seguindo em frente com o preço e a forma de paga-
mento da apólice, a definição do sinistro, as providências
para avisar o sinistro, o processo de regulação do sinistro,
os casos de perda de direito à indenização, o pagamento
da indenização e, finalmente, a renovação do seguro.
O contrato de seguro é um contrato complexo, com
particularidades únicas. Ele é um contrato aleatório e
de resolução futura. Quer dizer, o sinistro pode ou não
acontecer. Assim, ele só pode acontecer depois da con-
tratação do seguro. É um contrato oneroso para o segu-
rado, que paga o seguro, e para a seguradora, que, mes-
mo que não pague a indenização, tem custos para poder
operar. E é de boa-fé entre as partes.
Raramente um brasileiro lê a apólice. Assim, é comum
o “achismo” prevalecer em relação ao clausulado do con-
trato, o que pode levar a uma série de surpresas desagra-
dáveis depois da ocorrência do sinistro. A mais comum
é o cidadão achar que estava coberto e descobrir que a
indenização não será paga porque aquela situação esta-
va excluída pela apólice.
A pandemia do coronavírus traz para o dia a dia das
pessoas uma série de situações envolvendo seus segu-
ros, dos mais diferentes ramos. E, justamente por se tra-
tar de uma pandemia, a maioria delas não tem cobertu-
ra. Cada seguradora redige suas apólices como quer,
usando redação própria. Como o que vale é o que está
escrito, duas apólices para o mesmo risco, mas com re-
dações diferentes, podem indenizar ou excluir um deter-
minado evento.
A imensa maioria das apólices têm exclusão expressa
para todas as consequências de uso militar ou civil de
energia nuclear, guerra, revolução, terrorismo, atos dolo-
sos do segurado e epidemias e pandemias. Assim, a não
ser que a apólice não tenha a previsão expressa da exclu-
são, a seguradora pode negar a indenização decorrente
de sinistro ocasionado pela pandemia do coronavírus.

]
SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E
SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Henrique Bredda, sócio-fundador da gestora Alaska Asset Management

Valéria Bretas

O cenário que se desenhava
no início do ano não poderia
ser melhor para os investido-
res que ensaiavam uma mi-
gração para a renda variável.
Com a taxa Selic no menor
nível da história, a Bolsa de
Valores se tornou a nova me-
nina dos olhos. Porém, a pan-
demia do coronavírus derre-
teu os mercados e colocou
boa parte da carteira no ne-
gativo – tanto a dos grandes
como a dos pequenos. Em
entrevista ao E-Investidor,
Henrique Bredda, sócio-fun-
dador da gestora Alaska As-
set Management, que detém
R$ 10 bilhões sob gestão, diz
que a retomada do mercado
de ações deve acontecer
quando o ritmo de infecta-
dos estabilizar.

lA crise do coronavírus pegou
os investidores de surpresa. O
que fazer?
Historicamente, o erro clássi-
co do investidor nesses mo-
mentos é se recolher quando
os preços caem. Isso acon-
teceu na quebra do
Lehman Brothers, em
2008, e na eleição
presidencial do Bra-
sil, em 2002. Quan-
do a pessoa já está
na Bolsa, a solução é
não fazer nada e
esperar o turbi-
lhão passar.
O número de
pessoas físi-
cas na Bolsa
mais que do-
brou em dois
anos no País.

lPoderemos ver

um efeito de debandada na
Bolsa?
Pode acontecer um movi-
mento de troca: sai um gru-
po machucado que não esta-
va preparado para uma pan-
cada desse porte, mas entra
muita gente. Vamos nos
acostumar com uma no-
va safra de pessoas com-
prando ações nos próxi-
mos dez anos. Os mais
jovens estão chegando
no mercado de trabalho.
Eles estão mais acostu-
mados com as plata-
formas de investi-
mentos. Mesmo
em uma desace-
leração, esse já
é um fluxo
estrutural
difícil de ser
interrompi-
do.

lO que vem pela frente?
Fazendo uma analogia, pode-
mos dizer que estamos pas-
sando por uma situação de
guerra. As pessoas estão sen-
do obrigadas a ficar em casa,
escolas fechando e hospitais
com leitos cheios. A diferen-
ça é que essa guerra tem co-
meço meio e fim. A gente já
viu o fim dela em outras re-
giões do mundo, então sabe-
mos que é algo que vai pas-
sar e precisamos ficar de
olho na retomada.

lÉ um bom momento para
comprar ações?
O movimento é arriscado
para quem pensa no curto
prazo. É melhor entrar nos
60 mil pontos do que nos
100 mil. Mas isso para quem
está com a cabeça em 2030,
e não em 2021.

Mercados


US$ 1/NY 1 EuEuropro/aLo1 Lnibdreras/ BR$ 1/rasil
Dólar americano 1,0000 1,0728 1,2291 0,
Euro 0,93221,0000 1,14570,
Franco suíço 1,0006 1,0736 1,2300 0,
Iene 113,38 121,62 139,36 36,
Libra esterlina 0,81360,8729 1,0000 0,
Peso argentino 15,5560 16,686519,1164 5,
Yuan 6,9136 7,41768,4929 2,

Venc.C. Ab. C. Neg.Mín.Máx. AjusteVar.%
Abr/17 1.957.247 53 12,13 12,13 99.411,03-0,
Mai/17 277.551 27 11,81 11,84 98.633,55-0,
Jun/17 213.774 11 11,56 11,57 97.726,47 -0,
Jul/17 2.718.0781.68311,17 11,23 96.931,97-0,
Jan/18 2.629.094 5.3269,97 10,07 92.766,44-0,
Jan/19 1.620.4156.931 9,47 9,65 85.083,38 -1,
Jan/20 1.191.942 5.909 9,68 9,89 77.247,70 -1,
Jan/21 1.515.646 11.045 9,91 10,13 69.857,03 -1,
Jan/22 90.956 198 10,09 10,30 63.105,44 -1,

Venc.C. Ab. C. Neg. Mín. Máx.AjusteVar.%
Abr/17 553.331 45.6113.113,00 3.193,50 3.125,84 -1,
Mai/17 6.600 3 3.148,50 3.186,00 3.145,21 -1,
Jun/17 4.875 4 3.170,00 3.204,00 3.169,05 -2,

Venc.C. Ab. C. Neg.Mín. Máx. AjusteVar.%
Abr/17 255.110 15.830 65.06066.950 65.3732,
Jun/17 30.450 6 66.20066.80066.438 0,
Ago/17 2.205 - - -67.448 -

Conversão

AS MOEDAS NA VERTICAL:VALOR DE COMPRA SOBRE AS DEMAIS FONTE: IDC FONTE: BROADCAST

Maiores altas do Ibovespa
R$Var. % Neg.
VALE PNA 31,63 6,75 38.
VALE ON 33,25 6,67 20.
ESTÁCIO PART ON 15,72 6,58 7.
SID NACIONAL ON 11,42 6,43 8.
BRASIL TELEC PN 24,05 6,23 8.
Maiores baixas do Ibovespa
SUZANO PAPEL PNA 12,30 -3,53 28.
KLABIN S/A UNT 15,00 -1,19 8.
EMBRAER ON 18,39 -0,97 12.
MARFRIG ON 5,79 -0,17 6.



No mundo Pontos Dia% Mês%Ano%

(^1) Nova York DJIA 20.950,10 0,54 0,66 6,
1 NASDAQ 5.900,05 0,74 1,28 9,
(^1) Frankfurt-DAX 12.009,87 0,18 1,48 4,
1 Londres-FTSE 7.368,64 0,15 1,45 3,
(^1) Tóquio - NIKKEI 19.577,38 -0,16 2,40 2,
Mais negociadas da Bolsa
R$Var. % Vol. neg.(R$)

VALE PNA 31,67 6,88 946.325.
PETROBRÁS PN 14,20 4,49 767.856.
ITAÚUNIBANCO PN 39,77 0,84 562.907.
BRASIL ON 34,22 0,91 323.281.
BRADESCO PN 32,66 1,74 320.146.
Mercado futuro
Dólar
(em R$)
COMERCIAL PARALELO TURISMO
Dia CompraVendaCompraVendaCompraVenda
7/3
3,118 3,119 3,1873,287 3,0573,
8/3 3,167 3,168 3,2373,337 3,087 3,
9/3 3,194 3,195 3,2673,367 3,1203,
10/3 3,143 3,144 3,2133,313 3,080 3,
13/3 3,1523,153 3,2303,330 3,1273,
14/3 3,1733,173 3,2503,350 3,1233,
15/3 3,102 3,103 3,1833,283 3,0673,
AçõesMoedas
DI de 1 Dia
(Contr. = R$ 100.000.,00; cotação = Taxa)
Dólar Comercial
(Contr. = US$ 50.000,00; cotação = R$/US$1.000,00)
Ibovespa (Contr. = cotação futura x R$1,00;
cotação = pontos de índice)

BOVESPA: 66.234,87 PONTOS 1 DIA 2,37 (%) MÊS - 0,64 (%) ANO 9,97 (%)
mercados
]
FÁBIO GALLO
7%
é a taxa perto
da qual
estão sendo
negociados
alguns títulos
prefixados
de três anos
do Tesouro
Direto
Riscos
excluídos

l]
ANTONIO PENTEADO
MENDONÇA

NILTON FUKUDA/ESTADÃO
‘Crise do coronavírus tem começo, meio e fim’
Sair neste momento
de uma aplicação
pode ampliar perdas

4,05%
a 4,61% ao ano,
mais a variação
da inflação, é
quanto estão
rendendo os títu-
los do Tesouro
Direto atrelados
ao IPCA
Artigo

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