O Estado de São Paulo (2020-03-23)

(Antfer) #1

Caderno 2


Malcolm X


inspira doc


Nova investigação


levanta dúvidas sobre
assassinato do líder

Pág. C

Literatura. Colunistas do ‘C2’ falam sobre


os livros que estão lendo na quarentena


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS



Ubiratan Brasil

O desafio para todos agora é en-
frentar a quarentena provocada
pelo novo coronavírus de forma
saudável e enriquecedora. Para
facilitar, o Estado consultou
seus colunistas (todos especiali-
zados em literatura) para reve-
lar quais livros cada um lê neste
momento e quais recomenda-
ria aos leitores. As respostas são
ricas e surpreendentes.
É o caso de Luis Fernando Ve-
rissimo que, ao aproveitar o confi-
namento para organizar os li-
vros, descobriu uma revista literá-
ria inglesa que nem se lembrava
mais, Areté. “Nela, redescobri o
roteiro para um filme sobre o Ga-
lileu escrito pelo Tom Stoppard”,
conta o brasileiro, fã de carteiri-
nha do dramaturgo britânico. “O
filme, cujo script ocupa toda a re-
vista, nunca foi feito. Como leio
tudo que encontro escrito pelo
Stoppard, foi uma boa surpresa”,
continua ele, que indica ainda Es-
sa Gente (Companhia das Le-
tras), de Chico Buarque, pois “o
rapaz precisa de um incentivo”.
Milton Hatoum também foi
incisivo: “Nesse período de re-
clusão, li dois bons romances:
Apátridas , de Alejandro Chacoff,
e O Que Ela Sussurra , de Noemi
Jaffe, ambos editados pela Com-
panhia. Esses e outros, que li an-
tes da chegada da pandemia,
mostram o vigor e a diversidade
da literatura brasileira. Cada
um, com seus temas e modos de
narrar, aludem a esta época es-
tranha, para não dizer sombria”.
O sociólogo Roberto DaMatta
buscou refúgio em um clássico.
“Releio trechos de A Montanha
Mágica (Nova Fronteira), de Tho-
mas Mann, que é muito citado e
pouco lido, só para lembrar a iro-
nia humana do livro: um jovem
vai visitar um primo doente de
tuberculoso em Davos. Lembro
que, no século passado, a tuber-
culose era uma doença tipo coro-
navírus: contagiava e, pior, não

tinha cura, sobretudo para quem
morava em clima tropical.”
Sérgio Augusto lê, com entu-
siasmo, O Retalho (Todavia), do
francês Philippe Lançon. “É um
romance poderoso, contando a
história do autor, sobrevivente
do atentado terrorista ao jornal
de humor Charlie Hebdô , em


  1. Ao longo de suas 416 pági-
    nas, com idas e vindas no tem-
    po, concatenados com invejá-
    vel desenvoltura, Lançon retro-
    cede à sua infância no interior
    do país (Vanves), às guerras afri-
    canas que cobriu como corres-
    pondente e ao que viu e apren-
    deu escrevendo sobre cultura
    em Paris e em Cuba.”
    Enquanto cuida dos filhos Se-
    bastião e Joaquim, Marcelo Ru-
    bens Paiva acompanha a trajetó-
    ria de Zózimo Barroso do Ama-
    ral, colunista que fez história e é
    biografado em Enquanto Houver
    Champanhe, Há Esperança
    (In-
    trínseca), de Joaquim Ferreira
    dos Santos, um mestre na habili-
    dade prender a atenção. “Fala do
    duro período da ditadura e de co-
    mo a sociedade se uniu e tentou,
    apesar de tudo, viver dignamen-
    te, com humor, alegria, tentan-
    do romper o cerco da censura.”
    Ignácio de Loyola Brandão se
    divide entre várias obras, como
    Do Que É Feita a Maçã (Compa-
    nhia), de Amos Oz (“conversas
    sobre vida, trabalho, amor, culpa
    e prazeres – como nunca lhe de-
    ram o Nobel?”), e História do Mun-
    do Feudal
    (Vozes), de Mario Cur-
    tis Giordani, “que me ajuda a en-
    tender a mentalidade medieval
    do Bolsonaro. Talvez mude para
    a História de Roma , para ver como
    ele e Nero são os mesmos...”.
    “Estou relendo, acredite, O
    Amor nos Tempos do Cólera
    (Re-
    cord), de Gabriel García Már-
    quez, romance ao qual me re-
    conduziu à ironia da situação
    atual – na fila, A Peste (Record),
    de Albert Camus, outra releitu-
    ra que tem tudo a ver”, conta
    Humberto Werneck.


Dicas de


especialistas



““




Cantor de ópera espanhol Plácido Domingo tem exame positivo para a doença. Pág. C4 }


Loyola. Na
fazenda de
um amigo,
onde lê de
3 a 4 livros
ao mesmo
tempo

Descobri
uma revista
literária
inglesa que
eu nem me
lembrava
que tinha,
chamada
‘Areté’”
Verissimo

ESCRITOR


Loyola. Na
fazenda de
um amigo,
onde lê de
3 a 4 livros
ao mesmo
tempo

Leio mais de
um livro de
cada vez,
mas só um
pode ser de
ficção ou
confunde a
cabeça”
Sergio
Augusto

ESCRITOR


O que
mudou no
mundo?,
repito,
nesse breve
encontro
com Thomas
Mann”
Roberto
DaMatta

SOCIÓLOGO


A obra de
Gabriel
García
Márquez me
reconduziu
à ironia da
situação
atual”
Humberto
Werneck
ESCRITOR

Biografia
do Zózimo,
colunista
dos anos
1960-70, que
fala do duro
período da
ditadura”
Marcelo
R. Paiva
ESCRITOR

‘A Gaiola’,
de José
Revueltas, é
um recorte
da vida
degradante
de três
presidiários”
Milton
Hatoum
ESCRITOR

PEDRO VERISSIMO JOÃO HATOUM

MARIA LÚCIA RANGEL ACERVO PESSOAL

ACERVO PESSOAL ACERVO PESSOAL

MÁRCIA GULLO

%HermesFileInfo:C-1:20200323:C1 SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2020 ANO XXXIV – Nº 11602 O ESTADO DE S. PAULO

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