O Estado de São Paulo (2020-03-23)

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2020 A


Esportes


Jogos de Tóquio. Entidade avisa que competição pode ter programação alterada, mas que definirá isso apenas em quatro semanas


COI já admite chance de mudar data


Paulo Favero
Raphael Ramos


Os Jogos de Tóquio, até o mo-
mento, não tiveram suas datas
alteradas, seja para a Olimpía-
da, marcada para 24 de julho, se-
ja para a Paralimpíada, que co-
meça em 25 de agosto, mesmo
com a pandemia de coronaví-
rus. Enquanto isso, em muitos
países os espaços para a prática
do esporte estão fechados e
competidores de elite não con-
seguem treinar para o evento
mais importante do ano.
Os atletas estão se virando co-
mo podem e usando a criativida-
de para minimizar os proble-
mas. Hugo Calderano, que vive
na pequena cidade alemã de
Ochsenhausen, de cerca de 8
mil habitantes, acabou levando
a mesa de sua modalidade es-
portiva, o tênis de mesa, para
dentro de seu apartamento. Ob-
viamente as condições para a
prática não são as mais adequa-
das, mas pelo menos ajuda nes-
se momento de isolamento e
ele não fica parado.
“Eu pedi autorização ao clu-
be para trazer uma mesa e al-
guns equipamentos para o meu


apartamento. Pegamos uma
van e trouxemos tudo para cá. É
claro que o espaço é pequeno, e
não é possível treinar com a
mesma intensidade no aparta-
mento, mas estamos tentando
usar o que temos da melhor for-
ma possível”, comentou o joga-
dor do Liebherr Ochsenhau-
sen, que, apesar do aperto, ten-
ta se manter em atividade.
Ele está na Alemanha desde
2014, mas está tendo a compa-
nhia de Vitor Ishiy, atleta da se-
leção brasileira e que também
mora em Ochsenhausen. “Ele
está treinando comigo. É muito
ruim ficar sem poder treinar,
principalmente sem saber por
quanto tempo isso vai durar. O
tênis de mesa é um esporte mui-
to técnico e é importante sem-
pre estar em contato com a ra-

quete. Vou fazer de tudo para
essa parada me afetar o mínimo
possível”, avisou Calderano.
Quem também adaptou sua
rotina à quarentena em casa foi

o lutador de taekwondo Icaro
Miguel, que está com sua famí-
lia no interior de Minas Gerais.
“Após a conquista da vaga olím-
pica, vim para a casa dos meus
pais para evitar o contato com
muitas pessoas. Estou treinan-
do aqui em casa mesmo e a par-
te técnica fica um pouco mais
difícil de preparar, porém esta-
mos focando em algumas coi-
sas da parte física que consegui-
mos adaptar e trabalhar em
qualquer lugar”, contou.
Ele sabe que é fundamental
um atleta não ficar parado. “Ca-
da dia de trabalho é importante
durante todo o processo, pois
ficar sem treino pode culminar
em uma possível necessidade
de fazer pré-temporada. Isso le-
va em consideração de que não
temos tanto tempo assim até os
Jogos Olímpicos. Por isso nos-
sa preocupação em manter os
treinos nem que seja em casa.”

Espada. Outro caso é o de Na-
thalie Moellhausen, da esgri-
ma, que vive em Paris e tem pra-
ticado em seu apartamento.
“No meu caso não está sendo
tão difícil porque estou muito
acostumada a treinar sozinha
durante alguns períodos. Já ti-
nha construído dois anos atrás
um boneco de metal, que fica
fixo na parede e me permite pra-
ticar. Esse boneco representou
muito na minha preparação pa-
ra o Mundial. Foi um comple-
mento importante que ajudou a
acelerar a velocidade da minha
mão e reforçar o meu braço”,
explicou a esgrimista, que foi
campeã mundial no ano passa-
do, em Budapeste, na Hungria.
“Quando essa situação do co-
ronavírus aconteceu eu sabia
que teria a vantagem de ter esse
boneco em casa para poder trei-

nar, e que seria meu interlocu-
tor. Graças ao meu preparador
estou acostumada a treinar no
apartamento usando os elemen-
tos da casa, como os móveis. Já
fazia isso antes com bolas,
elásticos, cordas. Era parte da
minha rotina”, continuou Na-
thalie, que espera o tempo me-
lhorar na cidade de Paris para
poder colocar um equipamento
para praticar os passos da esgri-
ma em um pátio que tem atrás
de sua cozinha.
Já o lutador brasileiro nasci-
do na Armênia Eduard Sogho-
monyan garantiu vaga nos Jo-
gos de Tóquio na Seletiva Pan-

Americana de Wrestling, reali-
zada em Ottawa, no Canadá.
Ele mora em Los Angeles, cida-
de norte-americana que entrou
em quarentena por causa do co-
ronavírus. O Estado da Califór-
nia tem mais de mil casos confir-
mados e 40 milhões de pessoas
estão isoladas dentro de casa,
entre elas Eduard.
“Passei pelo teste no aeropor-
to do Canadá e depois nos EUA.
Não estava sentindo nada e os
testes deram negativo. Saio só
para fazer caminhada e faço
exercícios em casa. Não pode-
mos parar de treinar de jeito ne-
nhum”, avisa o lutador.

Pela primeira vez o Comitê
Olímpico Internacional
(COI) admitiu a possibilida-
de de adiar os Jogos de Tó-
quio em razão da pandemia
do novo coronavírus que as-
sola o mundo e tem prejudica-
do a preparação dos atletas.
Após reunião extraordinária
ontem, o comitê executivo da
entidade garantiu que a Olim-
píada não será cancelada e
prometeu dar a resposta final
sobre a data do evento em
quatro semanas.

A Olimpíada está prevista pa-
ra ser realizada entre 24 de ju-
lho e 9 de agosto deste ano. Já os
Jogos Paralímpicos estão pro-
gramados para 25 de agosto a 6
de setembro. Após se recusar
por algumas semanas em falar
de mudanças e bancar o evento
na data estipulada inicialmen-
te, o COI afirmou que cogita a
possibilidade da modificação
do planejamento em relação às
datas das competições.
Segundo a entidade, o prazo
de um mês será suficiente para
ter uma resposta e confirmar se
mantém a data ou adia. “Esta
etapa permitirá uma melhor vi-
sibilidade do rápido desenvolvi-
mento da situação da saúde em
todo o mundo e no Japão. Servi-
rá de base para a melhor decisão
no interesse dos atletas e de to-
dos os demais envolvidos.”
Há cenários diferentes que se
apresentam em relação à mu-
dança de datas. Existe a possibi-
lidade de os Jogos de Tóquio se-
rem remarcados para os últi-
mos meses deste ano, ou, en-
tão, para o verão de 2021 (no
Japão) ou de 2022. O que não
está em questão, segundo a enti-
dade, é a não realização da Olim-
píada, enfatizando que “o cance-
lamento dos Jogos Olímpicos
de Tóquio não resolveria qual-
quer problema, nem ajudaria
ninguém”, explicou.


O COI afirma que é possível
que a data do evento não seja
alterada, ao mesmo tempo em
que cogita adiar o evento. A enti-
dade faz ponderações e ressal-

vas, explicando que confia nas
autoridades japonesas, mas
que reconhece a gravidade da
crise de saúde pública provoca-
da pela covid-19.

“Por um lado, há melhorias
significativas no Japão (...) Isso
poderia fortalecer a confiança
do COI nos anfitriões japone-
ses de que o COI poderia, com

certas restrições de segurança,
organizar os Jogos Olímpicos
no país, respeitando seu princí-
pio de salvaguardar a saúde de
todos os envolvidos”, continua
o comunicado.
A nota prossegue e comenta
que “existe um dramático au-
mento no número de casos e no-
vos surtos de covid-19 em dife-
rentes países de diferentes con-
tinentes. Isso levou o comitê
executivo a concluir que o COI
tem de dar o próximo passo no
planejamento pensando em di-
ferentes cenários para isso.”
A pressão sobre o COI para o
adiamento da Olimpíada se in-
tensificou nos últimos dias. Vá-
rios atletas, comitês olímpicos
nacionais e federações esporti-
vas de países diferentes se mani-
festaram a favor do adiamento
do evento, incluindo o Comitê
Olímpico do Brasil (COB). As
críticas aumentaram especial-
mente depois das declarações
do presidente do Comitê Olím-
pico Internacional, Thomas Ba-
ch, que disse, seguidas vezes,
que a data não seria alterada.
Após a reunião do comitê exe-
cutivo, Bach escreveu uma car-
ta à comunidade global de atle-
tas para dar uma explicação so-
bre a abordagem da entidade.
“As vidas humanas têm prece-
dência sobre tudo, incluindo a
realização dos Jogos. O COI
quer fazer parte da solução. Por-
tanto, tornamos nosso princí-
pio maior proteger a saúde de
todos os envolvidos e contri-
buir para conter o vírus. A cha-
ma olímpica será uma luz no
fim do túnel”, disse Bach.
Para Paulo Wanderley, presi-
dente do COB, a tendência será
mudar a data da Olimpíada.
“Creio que essas quatro sema-
nas serão suficientes e acho que
o resultado disso será o adia-
mento dos Jogos”, afirmou, em
entrevista à CNN Brasil.

Movimento


paralímpico


mostra apoio


Enquanto o Comitê Olímpico
Internacional (COI) vai espe-
rar cerca de um mês para bater
o martelo sobre adiar ou não os
Jogos de Tóquio, o Comitê Para-
límpico Internacional (IPC, na
sigla em inglês) já manifestou
seu apoio qualquer que seja a
decisão tomada pela entidade.
A Paralimpíada será realizada
depois da Olimpíada e se os
eventos foram adiados, isso
não será alterado.
“Vamos apoiar o COI em ca-
da passo que der. O IPC e, estou
seguro, todo o movimento para-
límpico, apoiam plenamente a
decisão do COI de examinar os
cenários possíveis relativos aos
Jogos de Tóquio, incluindo o
adiamento. A vida humana é
muito mais importante que
qualquer outra coisa e atual-
mente é vital que todos, incluin-
do atletas, permaneçam em
suas casas para ajudar a preve-
nir uma maior propagação do
coronavírus”, disse Andrew Par-
sons, brasileiro que é presiden-
te do IPC.
Ele explica que nas próximas
quatro semanas o COI terá tem-
po para ver se a situação sanitá-
ria global melhora. “Como to-
dos podem imaginar, mudar as
datas dos Jogos Olímpicos e Pa-
ralímpicos é um enorme desa-
fio logístico, e o IPC apoiará o
COI em cada passo desse cami-
nho”, comentou o dirigente,
que também é membro do COI.
“Temos de considerar a situa-
ção sem precedentes que en-
frentamos neste momento”,
continuou Parsons.

estadao.com.br/e/futebolaustralia

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Quarentena obriga


atletas a treinar em casa


Olimpíada. Esportistas


brasileiros se viram


como podem para


manter o foco de olho


nos Jogos de Tóquio


JEAN-CHRISTOPHE BOTT/EFE

Decisão. Thomas Bach diz que o COI trabalha diferentes cenários para os Jogos de Tóquio

Esgrima.
Nathalie
aproveita
boneco
na parede
para
praticar
em casa

Tênis de mesa. Calderano levou o equipamento para casa

NATALIO SIMIONATO

NA WEB
Bola rolando. Na
Austrália o futebol
não está parado

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FOTOS: TIME CALDERANO
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