O Estado de São Paulo (2020-05-21)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2020 Economia B


O


ex-ministro Luiz Mandetta
alertou que a crise seria lon-
ga. Em 16 de março, afirmou
que a curva de novos casos da co-
vid-19 atingiria o platô apenas em
julho. O declínio efetivo se daria em
setembro, assumindo 50% da popu-
lação imunizada (ou já infectada).
Em pesquisa recente, Fernando
Reinach apontou na mesma dire-
ção. A taxa de imunização na cidade
de São Paulo – provavelmente supe-
rior à média do País – está em 5,2% e
chegaria a 65% em 2 meses. Uma
taxa de imunização inferior a 60%
seria suficiente para estabilizar a
curva de infectados.

Na economia, alguns analistas – co-
mo esta colunista – alertaram que a
volta da economia seria lenta, diferen-
temente da crise de 2008, por conta da
natureza da crise e da fragilidade eco-
nômica do País.
Esse cenário se cristaliza cada vez
mais, ainda que com boa dose de incer-
teza. Não se sabe quando o período de
calamidade pública será superado.
As demandas por socorro governa-
mental continuarão crescendo, por-
tanto. Será necessário zelo técnico
nas decisões de postergar os atuais
programas e criar outros futuros. Não
será possível ajudar a todos, nem seria
sábio fazê-lo, pelo custo para a socieda-

de e gerações futuras.
Retomo esse tema por sua importân-
cia. Estabelecer prioridades em linhas
gerais – como cuidar da saúde das pes-
soas e garantir sua subsistência – é a
tarefa mais fácil. Difícil é desenhar po-
líticas públicas focalizadas e efetivas,
afastando oportunismo e desperdício;
especialmente em um país com pou-
cos exemplos de política pública bem-
sucedida.
Um exemplo de medida que preci-
sará de ajustes no caso de sua (inevitá-
vel) postergação é o auxílio emergen-
cial. Será necessário aprimorar os
controles (por exemplo, 73 mil milita-
res receberam o auxílio) e definir um
novo valor (certamente menor e tal-
vez com diferenciação pelo tamanho
da família), com base em estudos téc-
nicos.
Conforme se avança na lista de prio-
ridades, mais complexa a tarefa.
Definir o escopo da política de crédi-
to subsidiado a empresas – não se tra-
ta de compensá-las por todas as per-
das, mas apenas garantir a travessia
durante a epidemia – não é tarefa
fácil. E contrapartidas devem ser re-
queridas às beneficiadas, como não

demitir e cortar dividendos e salários
elevados.
Empresas com acesso minimamen-
te preservado ao mercado de crédito e
que podem contar com aportes dos
acionistas e controladores deveriam
ficar de fora.
O mesmo vale para empresas que
não serão viáveis no pós-pandemia,
por não serem bem geridas (vão que-
brar de qualquer forma) ou por seu
funcionamento depender de aglome-
ração de pessoas. Aqui é necessária a
participação do sistema bancário na
seleção dos contemplados.
Raghuram Rajan defende, para os
EUA, um quesito para exclusão da aju-
da estatal: pequenos negócios que po-
derão ser facilmente substituídos de-
pois da crise, ao contrário de empre-
sas com capital organizacional – um
ativo intangível associado à qualida-
de da gestão, que gera eficiência pro-
dutiva e inovação e benefícios que
vão além do ambiente da empresa.
Levando à risca os critérios acima,
não sobrariam muitas empresas a se-
rem socorridas. O Brasil tem muitas
empresas ineficientes de menor porte


  • em grande medida fruto de benefí-


cios tributários equivocados que as
protegem. Mudar essa realidade de
forma abrupta na pandemia custa-
ria muito caro em termos sociais.
Convém avaliar a recomendação de
Rajan com cautela.
Não é momento de misturar ques-
tões conjunturais (agudas) e estru-
turais (crônicas). Toda ajuda esta-
tal deve ter como objetivo a traves-
sia nos próximos meses, e não corri-
gir falhas estruturais.
O auxílio emergencial não visa a
corrigir injustiças sociais, mas sim
prover subsistência aos vulnerá-
veis. O mesmo vale para o crédito
subsidiado. A ideia é estabelecer
limites para o socorro estatal: de
um lado, preservar estruturas orga-
nizacionais e empregos que valem
a pena, e de outro, limitar a inevitá-
vel “seleção natural” no setor pri-
vado.
Há um longo caminho pela frente
e as políticas públicas precisam ser
bem calibradas.

]
CONSULTORA E DOUTORA EM ECONOMIA
PELA USP

ZEINA


LATIF


Idiana Tomazelli / BRASÍLIA


Contra o que determina a lei
que criou o auxílio emergen-
cial de R$ 600, a Caixa anun-
ciou que vai, num primeiro
momento, impedir cidadãos
que recebem o benefício pela
poupança digital de fazer a
transferência dos recursos
da segunda parcela para algu-
ma outra conta por meio de
DOC ou TED.

Na semana passada, o presi-
dente da Caixa, Pedro Guima-
rães, justificou que a medida foi
adotada porque as famílias esta-
vam transferindo o dinheiro pa-
ra conhecidos e, assim, driblan-
do o calendário de saques for-
mulado para evitar aglomera-
ções nas agências.
A lei que criou o benefício, po-
rém, garante a operação. O tex-
to diz que é garantida “no míni-
mo uma transferência eletrôni-
ca de valores ao mês sem custos
para conta bancária mantida
em qualquer instituição finan-
ceira habilitada a operar pelo
Banco Central”.
Questionada sobre o respal-
do legal para a proibição, a Cai-
xa respondeu que “as regras de-
finidas para o pagamento da se-
gunda parcela do auxílio emer-
gencial seguem o estabelecido
pela portaria n.º 386 do Ministé-
rio da Cidadania, publicada no
Diário Oficial da União no dia 15
de maio de 2020”.
No ordenamento jurídico bra-
sileiro, porém, uma portaria ser-
ve apenas para regular uma lei
já existente, sem poder criar, ex-
tinguir ou contrariar normas le-
gais. Hierarquicamente, uma


lei aprovada pelo Congresso Na-
cional e sancionada pelo presi-
dente da República tem maior
força do que uma portaria mi-
nisterial.
“A Caixa informa ainda que a
organização do pagamento das
novas parcelas do auxílio emer-
gencial visa evitar aglomera-
ções nas agências bancárias e
contribuir para a observância
das medidas de proteção à saú-
de da população e de segurança
no sentido de evitar a propaga-
ção da covid-19”, afirmou o ban-
co, em nota.
Ontem, a Caixa começou a
creditar a segunda parcela pa-
ra os beneficiários do progra-
ma que não fazem parte do Bol-
sa Família, ou seja, aqueles que
se inscreveram pelo aplicativo
ou site ou que fazem parte do
Cadastro Único. Os R$ 600 só
serão creditados, porém, para
os que receberam a primeira
parcela até 30 de abril. Os pri-
meiros a receber serão cerca
de 5 milhões de beneficiários
nessa situação nascidos em ja-
neiro e fevereiro.
Para os beneficiários que vão
receber a a segunda parcela e
não fazem parte do Bolsa Famí-
lia, os pagamentos trazem mais
restrições. Todos vão receber
por meio de conta poupança di-
gital da Caixa – mesmo quem
recebeu a primeira parcela em
outra conta.
Além disso, a poupança digi-
tal não vai permitir transferên-
cias inicialmente – apenas paga-
mento de contas, de boletos e
compras por meio do cartão de
débito virtual. Transferências
para outras contas e saques só

serão liberados a partir de 30 de
maio, de forma escalonada con-
forme o mês de aniversário. O
calendário vai até o dia 13 de ju-
nho. A Caixa tem agora três ca-
lendários: um para recebimen-
to em poupança social, um para
saque em espécie para benefi-
ciários do Bolsa Família e um
para saque em espécie para pou-
pança social e transferência de
recursos.
Já a primeira parcela para o
novo grupo de trabalhadores se-
rá creditada na conta escolhida
pelo beneficiário, da forma co-
mo receberam os primeiros be-

neficiários: nas contas da Cai-
xa, na poupança social digital
ou em contas de outros bancos.
Esses beneficiários também po-
derão fazer o saque em espécie
do auxílio na data da liberação.
As restrições impostas pela
Caixa para a segunda parcela
também atende preocupação
do Banco Central com a falta de
dinheiro em espécie para o paga-
mento do auxílio. Em abril, a ins-
tituição fez uma consulta à Ca-
sa da Moeda sobre a possibilida-
de de antecipar a entrega de cé-
dulas para construir “estoques
de segurança”.

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Caixa bloqueia transferência de auxílio


Denise Luna / RIO


A Petrobrás informou às distri-
buidoras ontem que vai aumen-
tar a gasolina em 12% a partir
desta quinta-feira seguindo a re-
cuperação do preço do petróleo
no mercado internacional. Esse
é o terceiro aumento no mês, os
outros foram feitos nos dias 7 e



  1. Com isso, só em maio o com-
    bustível já teve alta de 37,47%.
    De acordo com a Associação
    Brasileira dos Importadores de
    Combustíveis, o aumento será
    de R$ 0,1350 por litro.
    Os reajustes ocorrem após o
    preço do petróleo tipo Brent, re-
    ferência internacional, ter avan-
    çado cerca de 40% em maio, rea-


gindo a cortes de produção de
grandes produtores e a um rela-
xamento de medidas de isola-
mento contra o coronavírus em
países da Europa e nos Estados
Unidos, o que chega com a pro-
messa de reativação da econo-
mia nesses lugares.
Ainda assim, os valores da ga-
solina da Petrobrás neste ano
ainda acumulam queda de 34%,
depois de o mercado de petró-
leo ter sofrido fortemente com
uma desaceleração da econo-
mia global, diante de impactos
da pandemia. O recuo acumula-
do do Brent neste ano é de apro-
ximadamente 47%.
Esta semana, a Petrobrás
não alterou o valor do diesel,
que havia sido elevado na se-
mana passada em 8%, na pri-
meira alta aplicada ao combus-
tível pela petroleira neste ano.
No caso do diesel – um produ-
to sensível aos caminhoneiros


  • a queda acumulada no ano é
    de cerca de 40%.


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


E-MAIL: [email protected]
ZEINA LATIF ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS

Veto contraria a lei que criou o benefício emergencial por causa da pandemia; instituição diz estar amparada por uma portaria ministerial


Preço da gasolina sobe


12% nas distribuidoras


Projeto que proíbe despejo é aprovado pelo Senado. Pág. B7}


WILTON JUNIOR / ESTADÃO-16/04/

Rotina. Fila em agência da Caixa para obter ajuda do governo

Aumento entra em


vigor hoje e é o terceiro


promovido pela


Petrobrás no mês, que já


acumula 37,47% de alta

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