O Estado de São Paulo (2020-05-31)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-9:20200531:


O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2020 Política A


J. R.


GUZZO


Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA


O presidente Jair Bolsonaro es-


creveu ontem em sua página


no Facebook que “tudo apon-


ta para uma crise”, ao comen-


tar decisões recentes do Supre-


mo Tribunal Federal (STF), do


Tribunal de Contas da União


(TCU) e do Tribunal Superior


Eleitoral (TSE), que miram a


família, aliados e a sua campa-


nha presidencial em 2018.


“Primeiras páginas dos jornais


abordaram com diferentes desta-


ques, as decisões envolvendo a


atuação do Supremo Tribunal Fe-


deral, da Polícia Federal, do Tribu-


nal de Contas da União e do Tribu-


nal Superior Eleitoral em relação


ao governo Bolsonaro e seus alia-


dos”, escreveu o presidente, ci-


tando notícias publicadas nas edi-


ções de ontem dos jornais.


Nos post, Bolsonaro citou o


encaminhamento, pelo minis-


tro Celso de Mello, à Procurado-


ria-Geral da República (PGR) de
um pedido de investigação con-
tra o deputado Eduardo Bolsona-
ro (PSL-SP) por crime de incita-
ção à subversão da ordem políti-
ca ou social. A prática está previs-
ta na Lei de Segurança Nacional.
A notícia-crime foi protocola-
da na Corte para investigar as de-
clarações de Eduardo de que não
se trata de uma questão de “se”,
mas sim de “quando” Bolsonaro
adotará uma “medida energéti-
ca” após operação da Polícia Fe-
deral no inquérito das fake news
atingir aliados do Planalto.
Bolsonaro também observou
que os principais jornais do País
destacaram o pedido da Polícia
Federal para prorrogar, por
mais 30 dias, as investigações
do inquérito que apuram se o
presidente da República tentou
interferir politicamente na cor-
poração, conforme acusou o ex-
juiz federal Sérgio Moro.
O presidente da República

ainda destacou reportagem pu-
blicada na edição de ontem do
Estadão, que informou que o
avanço do inquérito das fake
news deve chegar ao núcleo ins-
talado no Palácio do Planalto. A

expectativa de integrantes do
STF é a de que, se em um primei-
ro momento Moraes optou por
focar nos tentáculos operacio-
nais do “gabinete do ódio” – re-
velado pelo Estadão em setem-

bro de 2019. O vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ)
deve ser atingido já na etapa fi-
nal do inquérito, com o aprofun-
damento das investigações.
O “gabinete do ódio” está ins-

talado dentro da estrutura do ga-
binete do presidente. “Estadão
noticia que o ‘gabinete do ódio’
também entrou na mira do Tri-
bunal de Contas da União. O
subprocurador, Lucas Furtado,
ingressou com uma representa-
ção para que o plenário do TCU
analise se a ação do grupo de ser-
vidores é financiada, ou não,
por recursos públicos. O grupo
teria 23 servidores trabalhando
na assessoria especial do gabine-
te presidencial”, escreveu.
Outra reportagem menciona-
da é a que informou que o in-
quérito das fake news pode pavi-
mentar o caminho da cassação
de Bolsonaro no TSE. A avalia-
ção entre ministros da Corte é a
de que, caso seja autorizado, um
compartilhamento das provas
do STF com a Justiça Eleitoral
deve dar fôlego às investigações
sobre disparo de mensagens em
massa na campanha presiden-
cial de Bolsonaro em 2018.

Presidente faz comentário ao escrever nas redes sociais sobre decisões do STF, TCU e TSE que miram sua família, aliados e campanha


J


á não existe mais nada a dizer, à
esta altura, em matéria de con-
denação à gritaria, nas redes so-
ciais e por trás delas, que pede o
fechamento do Supremo Tribunal
Federal, “cadeia” para os seus mi-
nistros e eliminação do Congresso
Nacional – ou a outros sermões his-
téricos que poluem o debate políti-
co do Brasil de hoje. Todo esse xin-
gatório de arquibancada vale nota
zero dos pontos de vista moral, po-
lítico e legal; tem mesmo de ser de-
nunciado com clareza, por sua ma-
lignidade congênita, como é o caso
de todos os extremismos, de uma

ponta a outra do arco-íris. Isso se deve
fazer sempre. A questão, agora, vai
além de denunciar o que se diz na in-
ternet. O que interessa é o seguinte:
como reagir com eficácia ao discurso
em favor da desordem?
Uma das sugestões mais sensatas e
realistas para lidar com o problema
vem do ministro Luís Roberto Barro-
so, do STF – justo do STF, em nome do
qual seu colega Alexandre de Moraes
conduz desde março de 2019 um obs-
curo inquérito criminal para investi-
gar ofensas, falsidades e outras agres-
sões verbais contra o tribunal, seus
ministros e suas famílias. Barroso

acredita que a maneira mais produti-
va de tratar o problema não é na polí-
cia, mas no exercício da própria liber-
dade de expressão posta em xeque no
inquérito de Moraes. Após observar
que a internet permitiu o aparecimen-
to de “fontes de informação indepen-
dentes” e aumentou o “pluralismo de
ideias em circulação”, mas abriu espa-
ço para os “terroristas virtuais”, Barro-
so disse que “a atuação da Justiça é
limitada” quando se trata de resolver
esses desvios. Sugeriu, então, comba-

ter a mentira e as notícias falsas com a
livre exposição dos fatos capazes de
revelar o que realmente acontece.
“Os principais atores no enfrenta-
mento das fake news hão de ser as
mídias sociais, a imprensa profissio-
nal e a própria sociedade”, disse o mi-

nistro no discurso que fez ao assumir
suas funções como novo presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Haveria alguma ideia melhor para
combater o tráfego de notícias falsas
sem ferir o direito de livre manifesta-
ção do pensamento? Se houver, não
apareceu até agora. Com certeza, não
é censurar órgãos de imprensa, como
já fez Moraes – ou mandar a polícia
apreender celulares, revistar casas de
pessoas que não estão indiciadas no
inquérito que investiga suas ações,
convocar para depor deputados em
exercício de seus mandatos e outras
aberrações do mesmo tipo.
O centro do problema, na verdade,
não está aí. Não se trata de saber o que
as pessoas falam, mesmo porque es-
tão falando em público, sem segredo
nenhum, e sim o que fazem – e, mais
que isso, de saber quem faz o quê. Nin-
guém, obviamente, fecha o Supremo,
elimina o Congresso Nacional e dá
um golpe de Estado fazendo posta-
gens no Twitter; tudo isso pode ser

feito unicamente com tanque de
guerra, paraquedista e fuzil auto-
mático, coisas que só as Forças Ar-
madas têm. Tanto faz o que o em-
presário Zé ou o blogueiro Mané es-
tão falando nas redes sociais – con-
versa que não se transforma em
ação é só conversa. O que importa é
se os chefes militares que estão aí,
no exercício de suas funções, no co-
mando de suas tropas e com nome,
CPF e endereço conhecidos, que-
rem ou não querem fechar o Supre-
mo, etc. Se não quiserem, como di-
zem o tempo todo em público e em
particular que não querem, não vai
acontecer nada com a democracia.
Se um dia quiserem, os inquéritos
do ministro Moraes não vão servir
para absolutamente nada.
Não haverá saída para a questão
das fake news, ou qualquer outra,
fora da paz e da legalidade. Jogar
gasolina na fogueira do confronto
só vai dar conforto aos extremistas,
de qualquer dos lados.

Matheus Lara


A quinta edição do Brazil Fo-


rum UK, evento promovido pe-


la comunidade de estudantes


brasileiros em Oxford, será rea-


lizada por videoconferência e


com transmissão exclusiva das


plataformas do Estadão. O


evento estava previsto para


acontecer nos dias 16 e 17 de


maio, mas, por causa da pande-


mia do coronavírus, foi remar-


cado e agora vai ocorrer ao lon-


go de quatro semanas. Os pai-


néis terão início no dia 15 de ju-


nho e vão até 10 de julho.


O tema deste ano é “E agora,


Brasil? Alternativas para os


múltiplos desafios”. A progra-


mação terá início com um deba-


te sobre governança pública e,
para os painéis seguintes, no-
mes como o ministro do Supre-
mo Tribunal Federal (STF)
Luís Roberto Barroso – atual
presidente do Tribunal Supe-

rior Eleitoral (TSE) –, o ex-pre-
sidente do BNDES Joaquim
Levy e o ex-governador do Cea-
rá e candidato derrotado à Pre-
sidência em 2018 Ciro Gomes
já estão confirmados.
Os painéis vão abordar te-
mas que vão do funcionamen-
to dos sistemas de saúde brasi-
leiro, o SUS (Sistema Único de
Saúde), e o inglês, o National
Health System (NHS), gover-
nança ambiental, crises da ciên-
cia, cultura, desenvolvimento
econômico e eleições.
Para Julia Monnerat, que in-
tegra a organização do evento,
o Brasil tem como principal de-
safio o fato de ele ocorrer num
contexto de duas crises gra-
ves: a sanitária, provocada pe-
lo coronavírus, e a política. Pa-
ra ela, o problema se intensifi-
ca na medida em que essas cri-
ses por vezes têm respostas
conflitantes.
“Enquanto a crise sanitária de-
manda unidade nacional, articu-
lação e cooperação, a crise políti-

ca tem como consequência natu-
ral a ruptura, como por exemplo
um processo de impeachment
que se desenrola”, disse Julia.
“Então, para além do já debilita-
do desempenho econômico, te-

mos como principal desafio no
Brasil compatibilizar os esfor-
ços que as crises política e sanitá-
ria demandam”, afirmou.
Diversos líderes políticos e es-
pecialistas de áreas como eco-

nomia e outras já passaram pelo
Brazil Forum UK, que tem co-
mo o maior objetivo promover
um ambiente de debate plural e
democrático sobre temas rele-
vantes para o País.
Entre os que já falaram no
evento estão o ex-juiz federal e
ex-ministro da Justiça Sérgio Mo-
ro, a ex-presidente Dilma Rous-
seff, o médico Drauzio Varella e a
economista Elena Landau.

Multidisciplinar. “O fórum es-
tava pronto para acontecer quan-
do começaram os ventos da pan-
demia. É uma equipe diversa e
multidisciplinar na organização
e na curadoria do evento”, afir-
mou Eduardo Carvalho, um dos
organizadores.
O evento terá tradução si-
multânea para libras e para a
língua inglesa. “A versão digi-
tal abre uma porta para que
mais pessoas consigam assis-
tir ao evento e participar dos
debates.” A programação com-
pleta do fórum, que ainda está
em atualização, pode ser aces-
sada no endereço: https://bra-
zilforum.org/edicao-
2020/#agenda.

E-MAIL: [email protected]
J.R. GUZZO É JORNALISTA E ESCREVE
AOS DOMINGOS

Evento ‘Brazil Forum UK’ debate alternativas para o País


O que interessa é o seguinte:


como reagir com eficácia ao


discurso em favor da desordem?


Falar e fazer


l Um grupo de mais de 1,6 mil
personalidades brasileiras de
diferentes setores da sociedade
assinou um manifesto chamado
Estamos #Juntos. O texto referen-
dado por artistas, acadêmicos e
lideranças políticas prega a defe-
sa da “vida, liberdade e democra-
cia” e pede que os governantes
“exerçam com afinco e dignidade
seu papel diante da devastadora
crise sanitária, política e econômi-
ca que atravessa o País”.

Entre os signatários estão re-
presentantes de diferentes lados
do espectro político, como o ex-
presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) e o governador
do Maranhão, Flávio Dino (PC-
doB). Também subscrevem o
manifesto parlamentares como
Marcelo Freixo (PSOL) e Marcelo
Calero (Cidadania). O manifesto
foi publicado, ontem, nas pági-
nas na edição impressa de jor-
nais, incluindo o Estadão.
Já um grupo de juristas e advo-
gados lança hoje manifesto intitu-
lado “Basta”, contra os ataques
do presidente Jair Bolsonaro às
instituições. /ALESSANDRA
MONNERAT

Voo. O presidente Jair Bolsonaro viajou de helicóptero, ontem, até Abadiânia, em Goiás


ROBERTO JAYME/TSE

Debate, transmitido pelas


plataformas digitais do


Estadão, é promovido


pela comunidade de


brasileiros em Oxford


Ministro. Barroso, do STF,
é um dos participantes

Bolsonaro: ‘Tudo aponta para uma crise’


Criamos o ImovelWeb,primeiro portal imobiliáriodo Brasil + Implantamos o primeiro departamentoon-linededicado ao setor+


Em parceria com aCaixaEconômica Federal, promovemos o “Vem Que Tem”,primeiro feirão digitalpara o mercado imobiliário, que


reuniu 48 incorporadores e 127 empreendimentos com perfil econômico + É autora do bordão “Tijolo Moeda Forte” adotado até hoje


pelo setor+Com o cliente Brookfield Incorporações, hoje Tegra, lançou 63 empreendimentos+ Mais deR$ 20 bilhões*em VGV


comercializados com campanhas criadas e planejadas pela agência+ Mais de25 milhões**de m^2 lançados para grandes áreas como


Tamboré e Riviera de São Lourenço / Sobloco, entre outros+Mais de 40 empreendimentos lançados em parceria com a Upcon, hoje Gafisa


+Prestamos consultoria para o Grupo Estado, reposicionando a plataforma de imóveis do siteEstadão, que conta com uma audiência de mais


de45,8 milhõesde impactos em suas plataformas+Junto com os nossos clientes, conquistamos importantes prêmios, entre eles:ClioAwards,


Prêmio Colunistas, Top of Mind, Desafio Estadão que levou a agência aoCannesLions Festival e, também em parceria com nossos clientes,


por25 vezesganhamos o PrêmioMasterImobiliário+de 3000 empreendimentos lançados com campanhas de sucesso, planejadas pela agência.


Off-line +


On-line +


Below the line +


Branding +


Consulting


Presente nos mais importantes momentos do mercado imobiliário. Visite nosso site: archote.com.br


*Referente aos últimos 9 anos.**Referente aos empreendimentos: Riviera de São Lourenço, Parque Faber, Espaço Cerâmica, Central Park Guarujá e CidadeTamboré.

Manifesto une


diferentes


campos políticos


MAJOR VITOR HUGO/TWITTER
Free download pdf