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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 2 DE JUNHO DE 2020 A
Internacional
Trump exige prisão de manifestantes e
ameaça enviar tropas contra protestos
● Um levantamento mostra que os protestos após a morte de um homem negro por um policial
branco se espalharam por 130 cidades americanas
PROTESTOS CONTRA O RACISMO E VIOLÊNCIA POLICIAL
FONTE: NYT INFOGRÁFICO/ESTADÃO
CIDADES QUE TIVERAM PROTESTOS
NOS ÚLTIMOS CINCO DIAS
ESTADOS PARA ONDE A GUARDA
NACIONAL FOI ENVIADA
New York
Detroit
Indianapolis
Chicago
Lexington
Portland
Atlanta
Miami
TampaOrlando
Fayetteville
Columbia
Oakland
Las Vegas
Reno
Missoula
Salt Lake City
Houston New Orleans
Dallas
Minneapolis
Bismarck Fargo
Madison
Lincoln
Des Moines
Los Angeles
Fresno
San Diego
Cleveland
Pittsburgh
Fairmont
Memphis
Seattle
Phoenix
Honolulu
Anchorage
Oklahoma City
Washington DC
Philadelphia
Atlantic City
Denver
Kansas City
St. Louis
Little Rock
Montgomery
Albuquerque
Portland
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NE
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MS GA
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MINNEAPOLIS, EUA
Uma autópsia encomendada pe-
la família de George Floyd con-
cluiu ontem que ele morreu por
“asfixia”, após ter o pescoço
prensado pelo joelho de um poli-
cial em Minneapolis, nos EUA.
O laudo contradiz a primeira ne-
cropsia, que não encontrou ves-
tígios de estrangulamento e
apontou a causa da morte como
uma combinação de fatores, in-
cluindo doenças preexistentes,
como hipertensão e problemas
cardíacos.
A nova autopsia foi assinada
pelos médicos Michael Baden e
Allecia Wilson. Os dois tam-
bém dizem que Floyd morreu
no local, e não no hospital como
afirmaram as autoridades. “Pa-
ra George Floyd, a ambulância
foi apenas um carro fúnebre”,
dizem os dois no documento.
“O que descobrimos é consis-
tente com aquilo que as pessoas
viram”, escreveram os médicos.
“Não há nenhuma outra condi-
ção de saúde que tenha contri-
buídos para a morte. A polícia
tem a impressão errada de que,
se você pode falar, então pode
respirar. Isso não é verdade.”
No domingo, Benjamin
Crump, advogado da família,
voltou a mencionar o fato de o
policial Derek Chauvin ter tra-
balhado como segurança ao la-
do de George Floyd na mesma
boate El Nuevo Rodeo, em Min-
neapolis. Maya Santamaria, ex-
proprietária do estabelecimen-
to, já havia informado à polícia
que os dois trabalhavam às quin-
tas-feiras, dia de maior movi-
mento.
Maya, que vendeu a boate há
dois meses, no entanto, disse
acreditar que os dois não se co-
nhecessem. “Se Derek reconhe-
cesse George Floyd, teria de-
monstrado mais compaixão”,
afirmou em entrevista à Associa-
ted Press. De acordo com advoga-
dos, o fato é importante porque
pode demonstrar premedita-
ção do ex-policial, que poderia
ser acusado de homicídio dolo-
so – com intenção de matar. /
NYT e WP
Beatriz Bulla
CORRESPONDENTE / WASHINGTON
Em reunião por videoconfe-
rência, Donald Trump exigiu
ontem que os governadores
usem a força e prendam os
“bandidos” que tomam as
ruas do país há uma semana.
Em seguida, diante da igreja
St. John, em Washington, ele
chamou os manifestantes de
“terroristas” e ameaçou en-
viar o Exército para conter os
protestos.
“Vocês precisam dominar a
situação. Se não dominarem,
estarão perdendo tempo. Eles
vão atropelá-los. Vocês vão pa-
recer um bando de idiotas”,
disse Trump aos governado-
res, à tarde. “Vocês devem
prender e julgar as pessoas e
elas devem ficar presas por um
bom tempo.”
No início da noite, a manifes-
tação em Washington ficou ten-
sa. A polícia encurralou os mani-
festantes, expulsando a multi-
dão da Praça Lafayette, diante
da Casa Branca. Bombas de gás
explodiram e a polícia usou a
força para dispersar o protesto.
Minutos depois, Trump atra-
vessou a pé o local – agora sem
nenhum manifestante – para vi-
sitar a igreja St. John, cujo porão
foi incendiado no domingo. No
local, fez um dos discursos mais
duros desde que começou a cri-
se. “Prefeitos e governadores de-
vem estabelecer uma presença
forte das forças de segurança
até que a violência tenha sido
sufocada”, disse Trump, ao som
de bombas ao fundo. “Se uma
cidade ou um Estado se negar a
tomar as medidas necessárias,
enviarei o Exército e resolverei
rapidamente o problema.”
Protestos contra a morte a
violência policial vêm sendo re-
gistrados em várias partes do
mundo. Em Berlim, no sábado,
e em Londres, no domingo, as
manifestações se concentra-
ram diante da embaixada ameri-
cana. Em Amsterdã, uma multi-
dão lotou ontem a Praça do
Dam, no centro da cidade. Em
Paris, os franceses pediam justi-
ça para Adama Traoré, negro de
24 anos morto pela polícia em
2016.
Em países rivais dos EUA, a
onda de violência racial virou
uma chance de ironizar Trump,
principalmente na China, que
vinha se queixando da interfe-
rência americana na repressão
aos protestos em Hong Kong.
Hua Chunying, porta-voz da
chancelaria chinesa, respondeu
pelo Twitter a uma mensagem
do Departamento de Estado
americano com a frase “Não
consigo respirar”, usada por
George Floyd, negro asfixiado
por um policial branco de Min-
neapolis, episódio que desatou
a onda de protestos.
Na China, a imprensa oficial
tem tratado a crise como um si-
nal da decadência americana –
que ocorre ao mesmo tempo
em que o país acumula mais de
100 mil mortos pela pandemia
de covid-19 e 40 milhões de de-
sempregados. Na sexta-feira,
quando chegou a notícia de que
Trump havia sido levado para
um bunker na Casa Branca, a
hashtag #BunkerBoy chegou ao
segundo lugar no Twitter.
Os protestos também vira-
ram propaganda no Irã. O chan-
celer, Mohamed Zarif, publicou
no Twitter um comunicado an-
tigo em que o Departamento de
Estado dos EUA critica a repres-
são iraniana, mas substituindo
as menções ao Irã pela palavra
“América”. Até o aiatolá Ali Kha-
menei se pronunciou. “Se você
tem a pele escura, e está cami-
nhando nos EUA, não tenha tan-
ta certeza de que estará vivo nos
próximos minutos”, dizia a fra-
se em uma conta ligada ao líder
supremo no Twitter.
“Este não é o primeiro de
uma série de comportamentos
ilegais e de violência injustifica-
da por parte da polícia dos
EUA”, disse o Ministério das Re-
lações Exteriores da Rússia, em
comunicado. “O caso se soma à
longa história do Kremlin de as-
sinalar os abusos de direitos hu-
manos nos EUA.”
Em Washington, autoridades
do governo americano entra-
ram na batalha de propaganda.
“A diferença entre nós e muitos
países autoritários por aí é que,
quando algo como isso ocorre
aqui, nós investigamos”, decla-
rou o assessor de Segurança Na-
cional Robert O’Brien, no pro-
grama This Week, da rede ABC. /
REUTERS, NYT e WP
Endurecimento. Em conversa com governadores, presidente pede uso da força para conter onda de protestos que já afeta 130 cidades
do país e se espalhou pelo mundo; China, Irã e Rússia aproveitam para ironizar racismo e repressão da polícia americana contra população
NOVA YORK
Os mais destacados selos da in-
dústria musical se compromete-
ram a parar seus negócios hoje
em solidariedade aos manifes-
tantes antirracismo, que exi-
gem uma mudança social estru-
tural e o fim da brutalidade poli-
cial.
Atlantic Records, Capitol Mu-
sic Group, Warner Records,
Sony Music e Def Jam, entre vá-
rias outras companhias, se jun-
taram à iniciativa #TheShow-
MustBePaused (o show deve pa-
rar), surgida em meio aos pro-
testos em massa que vêm to-
mando as ruas de várias cidades
dos EUA após o assassinato, na
segunda-feira passada, de Geor-
ge Floyd, um homem negro de
46 anos, por um policial branco
em Minneapolis.
“É difícil saber o que dizer,
pois estive lidando com o racis-
mo toda minha vida. Dito isto,
por Deus, é hora de enfrentá-lo
de uma vez por todas”, disse le-
gendário produtor Quincy Jo-
nes em um comunicado.
“Como guardiães da cultura,
é nossa responsabilidade não
apenas nos unir para celebrar as
vitórias, mas também para nos
apoiar uns aos outros durante
uma derrota”, declarou. A Co-
lumbia Records, por sua vez, des-
tacou que esta terça-feira não se-
rá “um dia livre”, mas um mo-
mento para “encontrar formas
de avançar na solidariedade”.
“Quem sabe que com a músi-
ca desligada, realmente possa-
mos escutar”, afirmou a compa-
nhia em uma nota. Muitos selos
também se comprometeram a
fazer doações para organiza-
ções de defesa dos direitos civis.
O “apagão” da indústria da
música ocorre após dezenas de
celebridades, entre elas Rihan-
na, Beyonce, Jay-Z, Dr. Dre, Tay-
lor Swift, Cardi B, Billie Eilish e
Killer Mike, terem manifestado
sua solidariedade às vítimas e
sua revolta com o racismo. O
ator Jamie Foxx e a superestre-
la do pop Ariana Grande se uni-
ram pessoalmente às manifesta-
ções. / AFP
Nova autópsia indica que
Floyd morreu asfixiado
l Ameaça
“Se uma cidade ou um
Estado se negar a tomar as
medidas necessárias,
enviarei o Exército e
resolverei rapidamente o
problema”
Donald Trump
PRESIDENTE DOS EUA
Indústria da música
promove ‘apagão cultural’
Resultado contradiz
versão oficial, que dizia
que a morte havia sido
causada por problemas
de saúde preexistentes
JOSHUA ROBERTS/GETTY IMAGES/AFP
Violência. Polícia tem trabalho para esvaziar praça diante da Casa Branca para que Trump pudesse passar e realizar um discurso na igreja de St. John
Importantes selos dos
EUA manifestam
solidariedade aos que
exigem o fim do racismo
e da brutalidade policial