O Estado de São Paulo (2020-06-02)

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A18 TERÇA-FEIRA, 2 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Esportes

Futebol. Câmara vota hoje proposta que corta em 50% valor a ser pago pelo clube caso demita um jogador durante vigência do contrato


PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO

Forte aliado. Romário já revelou ser contrário à proposta

O esporte se uniu em protestos
contra o racismo na campanha
‘Black Lives Matter’ (Vidas Ne-
gras Importam), após uma
série de incidentes violentos e
que provocaram mortes em ca-
sos diferentes nos últimos
dias, com as forças policiais co-
mo agentes agressores.
Nos Estados Unidos, uma
malsucedida abordagem poli-
cial em Minneapolis terminou
com a morte por sufocamento
de George Floyd, de 46 anos. No
Brasil, João Vitor da Rocha, de
18 anos, foi baleado durante
uma entrega de cestas básicas, e
João Pedro Mattos Pinto, de 14
anos, foi atingido por um tiro de
fuzil dentro de sua casa – os
dois casos ocorreram no Rio.
Maior jogador de basquete da
história e hexacampeão da NBA


pelo Chicago Bulls, Michael Jor-
dan fez um desabafo no Twit-
ter. “Estou profundamente tris-
te, machucado e nervoso. Eu ve-
jo e sinto a frustração e ira de
todos. Eu fico do lado daqueles
que se opõem ao racismo e vio-
lência contra pessoas de cor no
nosso país. Basta.”
Nos EUA, outros esportistas
seguiram o mesmo caminho e
protestaram, como as tenistas
Serena Willians e Coco Gauff, o
jogador de basquete do Boston

Celtics Jaylen Brown e o dirigen-
te da NFL Roger Goodell.
Hexacampeão mundial de
Fórmula 1, o piloto inglês Lewis
Hamilton questionou a própria
modalidade em seu Instagram.
“Eu vejo aqueles de vocês que
estão calados, algumas das
maiores estrelas, ainda assim fi-
cam calados em meio à injusti-
ça. Nenhum sinal de ninguém
da minha indústria que, claro, é
um esporte dominado por bran-
cos. Eu sou uma das únicas pes-
soas de cor lá e estou sozinho.
Eu imaginei que, chegado este
momento, vocês veriam por
que isso acontece e falariam al-
go sobre isso, mas vocês não po-
dem ficar ao nosso lado. Ape-
nas saibam que eu sei quem vo-
cês são e eu vejo vocês.”
No futebol, o atacante Mar-
cus Thuram não celebrou seus
gols na vitória de 4 a 1 do Borus-
sia Mönchengladbach em cima
do Union Berlin. Ele ajoelhou-
se e baixou a cabeça, mesmo
gesto adotado por Colin Kae-
pernick, ex-quarterback do
San Francisco 49ers e que fez

um protesto solitário contra o
racismo em 2016, em um jogo
da pré-temporada da NFL. Ain-
da na Alemanha, o atacante in-
glês Jadon Nacho fez um dos
gols do Borussia Dortmund na
vitória por 6 a 1 sobre o Pader-
born e exibiu uma camiseta
com a frase “Justiça para Geor-
ge Floyd”.
Ontem, o Liverpool também
fez o seu protesto. No Insta-
gram, o clube postou uma foto
do perfil do meia Jordan Hen-
derson com todos os jogadores
ajoelhados em Anfield Road
com a legenda: a união faz a for-
ça. O goleiro brasileiro Alisson
republicou a mensagem.

Apoio. No Brasil, entre os atle-
tas que protestaram estão Vini-
cius Jr., que lembrou dos dois
jovens mortos no Rio, Gabriel
Jesus e Gabigol, entre outros.
Os clubes também aderiram à
campanha. Palmeiras, Vasco,
São Paulo, Santos, Avaí e Corin-
thians, entre outros, se manifes-
taram. “Já tivemos que mudar
de nome para continuarmos
existindo. Somos contra o racis-
mo e qualquer prática precon-
ceituosa que atente contra o di-
reito à vida e à liberdade. Nasce-
mos das diferenças e elas nos fa-
zem mais fortes”, escreveu o Pal-
meiras em suas redes sociais.

Ciro Campos


A Câmara dos Deputados vo-
ta na tarde de hoje em sessão
online um projeto de lei que
pode mudar radicalmente as
finanças dos jogadores do fu-
tebol. Uma proposta que tra-
ta de medidas emergenciais
para os clubes durante a pan-
demia do novo coronavírus
inclui entre os artigos um dis-
positivo para reduzir em 50%
o valor da cláusula compensa-
tória, acerto pago em resci-
sões contratuais unilaterais.
Atualmente, quando um atle-
ta é demitido e não há acordo
entre as partes o clube precisa
pagar ao jogador o valor inte-
gral dos salários corresponden-
tes até o fim do contrato. Essas
determinações estão previstas
na Lei Pelé, de 1998.
Pela proposta a ser votada na
Câmara, em caso de rescisão
contratual as equipes poderão
ressarcir o atleta com metade
do valor dos salários restantes,
com pagamentos divididos em
parcelas. A medida só vale para


quem recebe a partir de R$ 12
mil mensais. Se for aprovada, a
proposta seguirá para aprova-
ção do Senado e, se também pas-
sar, irá para a sanção presiden-
cial. E terá duração permanen-
te, ou seja, valerá mesmo de-
pois do fim da pandemia.
O projeto de lei, de autoria do
deputado Arthur Maia (DEM-
BA), está incluído como apenso
em um outro de grande interes-
se para os clubes: o que cria a
possibilidade de suspensão por

seis meses do pagamento de
parcelas do Profut, o Programa
de Refinanciamento Fiscal do
Futebol Brasileiro. A proposta
de congelamento é para dimi-
nuir as perdas financeiras com
a paralisação do calendário.
Vários jogadores se posicio-
naram contra o dispositivo de
mudança no acordo de rescisão
e cobraram mais diálogo com
os deputados. Como a proposta
tramitou em regime de urgên-
cia, vai a Plenário sem a necessi-
dade de ter passado por comis-
sões prévias.
A Federação Nacional dos
Atletas Profissionais de Fute-
bol (Fenapaf) chegou a divulgar
dois vídeos em que atletas co-
mo Felipe Melo, Fernando
Prass, Marinho, Diego e Cássio
se posicionam contra a medida.
“A proposta é um estímulo pa-
ra rescindir os contratos. Se a
torcida gritar, o clube vai que-
rer mandar embora o jogador.
Fora que o risco de não se pagar
a multa é real, porque os clubes
costumam ser inadimplentes”,
disse ao Estadão o presidente

da Fenapaf, Felipe Leite. A enti-
dade representa cerca de 18 mil
atletas profissionais.
A reportagem apurou que os
defensores do dispositivo ale-
gam que somente uma pequena
parcela dos jogadores brasilei-
ros recebe acima de R$ 12 mil e
entendem que o projeto de lei é

importante para preservar os
clubes no momento de pande-
mia. Além do congelamento do
Profut, o texto quer autorizar
também os clubes a assinarem
durante a pandemia contratos
com 30 dias de duração. O perío-
do mínimo atual é 90 dias.
Procurado, o deputado fede-

ral Arthur Maia não respondeu
aos pedidos de entrevista da re-
portagem. Nos bastidores, o
projeto de lei conta com o
apoio do presidente da Câma-
ra, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e
da CBF, que tem como diretor
de Relações Institucionais o de-
putado Marcelo Aro (PP-MG),
relator da proposta.

Romário. Diante da possível
aprovação do projeto de lei, os
jogadores têm como aliado o se-
nador Romário (Podemos-RJ).
O ex-atacante já revelou nas re-
des sociais ser contrário à pro-
posta e recebeu comentários de
vários atletas, entre eles Lean-
dro Castán, Éverton Ribeiro e
Fábio. “Alguns presidentes de
clube agora querem aproveitar
o momento de crise para enco-
brir gestões irresponsáveis que
vêm desde muito tempo, e não
por causa dos prejuízos com a
pandemia”, escreveu Romário.
A Fenapaf promete solicitar a
ajuda de Romário caso o proje-
to seja aprovado na Câmara e
enviado ao Senado.

REPÚDIO

OPOSIÇÃO

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


NILTON FUKUDA/ESTADAO–12/2/

CRISE FAZ CORINTHIANS
PERDER PATROCINADOR

LIVERPOOL

Mundo do Esporte se une em


campanha contra o racismo


Michael Jordan
ASTRO DO BASQUETE

Projeto reduz indenização dos atletas


Felipe Leite
PRESIDENTE DA FENAPAF

‘A proposta é estímu-
lo para rescindir con-
tratos. Se a torcida
gritar, o clube
vai querer mandar
embora o jogador’

] A crise provocada pelo novo coro-
navírus fez com que o Corinthians
perdesse um dos seus patrocinado-
res. Ontem, o clube confirmou o fim

do acordo com a MarjoSports Live
Score. De acordo com nota oficial, a
rescisão do contrato foi amigável. A
startup de tecnologia voltada ao mun-
do do entretenimento esportivo tinha
acordo desde abril de 2019 e o con-
trato terminaria em dezembro.

Mensagem. Jadon Nacho pediu ‘justiça para George Floyd’

Estrelas de várias


modalidades protestam


contra preconceito e


aderem ao movimento


‘Vidas Negras Importam’


LARS BARON/EFE–31/5/

Recado. Marcus Thuram também fez o gesto antirracismo

MARTIN MEISSNER/AP–31/5/

De joelhos.
Jogadores do
Liverpool em
Anfield Road

‘Vejo a frustração e
ira de todos. Fico
do lado dos que se
opõem ao racismo e
violência contra pes-
soas de cor. Basta’
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