O Estado de São Paulo (2020-06-06)

(Antfer) #1

A18 SÁBADO, 6 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Bruno Ribeiro


Um grupo de cinco deputados
estaduais de São Paulo invadiu
na tarde desta quinta-feira, o
Hospital de Campanha do
Anhembi, na zona norte da cida-
de, sob o argumento de fazer
uma vistoria no local, que rece-
be pacientes de baixa e média
complexidade infectados pelo


coronavírus. Em nota, a Prefei-
tura informou que “reitera to-
tal repúdio a atitudes violentas
e ações deliberadas para tentar
enganar a opinião pública”.
A situação envolveu Adriana
Borgo (Pros), Marcio Nakashi-
ma (PDT), Leticia Aguiar
(PSL), Capitão Telhada (PP) e
Sargento Neri (Avante). As su-
postas irregularidades que o
grupo iria denunciar estavam li-
gadas à subutilização do espa-
ço, que tem capacidade para até
1.800 pacientes e atende, no mo-

mento, 407 pessoas. A entrada
do grupo foi feita mediante em-
purrões e gritos entre os parla-
mentares, seus assessores e fun-
cionários do hospital. Os depu-
tados postaram essas cenas em
suas redes sociais.
Para a Prefeitura, o deputa-
dos agiram “de maneira desres-
peitosa, agredindo pacientes e
funcionários verbal e moral-
mente, colocando em risco a
própria saúde porque inicial-
mente não estavam usando EPI
e a própria vida dos cidadãos
que estão internados e em trata-
mento na unidade”. Ao Esta-
dão, Telhada (PP), questionou
os leitos ociosos. “Como eles es-
tão falando que vão ter de trans-
ferir pacientes para o interior,

se tem leitos?” A questão é que
o hospital de campanha não
tem leitos de UTI, mas alguns
desses equipamentos para a es-
tabilização de pacientes, caso
apresentem piora de saúde.
Telhada nega que tenha inva-
dido o espaço. “Liguei para se-
cretário (da Saúde) Edson Apa-
recido”, disse. Funcionários e o
próprio secretário tentaram pe-
dir para os deputados agenda-

rem um horário, mas ele disse
que não queria esperar.
Telhada citou ainda os valo-
res pagos com seguranças e pa-
ra a hospedagem de médicos,
enfermeiros, fisioterapeutas e
psicólogos que trabalham no lo-
cal, que superaria R$ 18 mi-
lhões, porém sem afirmar que o
valor é irregular. Também citou
que uma das empresas que ad-
ministra o hospital, o Iabas, es-
tá envolvida em irregularidades
no Rio, sem apontar nenhuma
suspeita concreta sobre o con-
trato com a Prefeitura. O depu-
tado, entretanto, reconheceu
que os pacientes relataram que
estão sendo bem tratados pela
equipe do hospital. “Preciso ser
justo, também”, disse.

Os políticos formaram um
grupo na Assembleia chamado
“PDO”, de Parlamentares em
Defesa do Orçamento, com o ar-
gumento de verificar gastos pú-
blicos durante a pandemia. O
grupo faz oposição ao governa-
dor João Doria (PSDB).

Violência. “Além da invasão e
das atitudes violentas, os parla-
mentares filmaram as alas do
hospital que ainda não foram
ativadas, mas que estão prontas
para serem colocadas em fun-
cionamento caso seja necessá-
rio”, disse a Prefeitura, por no-
ta. “E também gravaram pacien-
tes sem autorização prévia, mui-
tos dos quais estavam sendo hi-
gienizados em seus leitos.”

● MEC alerta para risco de interrupção do Enem caso Orçamento
para 2021 não seja ampliado

ORÇAMENTO MENOR

FONTE: MEC INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Despesas discricionárias
EM BILHÕES DE REAIS, VALORES NOMINAIS
ANO DESPESAS
2018

2019
2020

2021*

23,

23,
22,

18,780*

SERIAM "PREJUDICADAS
SERIAMENTE"

Situação das políticas públicas para Educação
em 2021, segundo MEC

Ofício enviado ao Ministério da Economia

Programa Nacional do
Livro e do Material
Didático – PNLD

Política Nacional
de Alfabetização

Repasses do FNDE
para apoio às redes
Programa de Inovação
Educação Conectada

Conclusão de obras de
creches e escolas
Programas de formação
de professores

*PRÉ-LIMITE INFORMADO PELO MINISTÉRIO DA ECONOMIA

Concessão de Bolsas de
Apoio a Educação Básica
(CAPES e FNDE);
Exames Nacionais de
Educação, incluindo o
Enem
Concessão de Bolsas de
Estudos no Ensino
Superior – CAPES
Programa de Residência
em Saúde
Programas de
Bolsa-Permanência e
Bolsa – PROUNI

SERIAM “AFETADAS GRAVEMENTE"
E PODERÃO SER INTERROMPIDAS

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Deputados de oposição a


Doria invadem Anhembi


Idiana Tomazelli / BRASÍLIA


Um corte de R$ 4,2 bilhões no
Orçamento do Ministério da
Educação (MEC) previsto pa-
ra 2021 pode levar à suspen-
são do Exame Nacional do En-
sino Médio (Enem) no ano
que vem. O alerta foi feito pe-
lo ministério em ofício envia-
do ao Ministério da Econo-
mia e obtido pelo Esta-
dão/Broadcast. A prova é usa-
da por milhões de estudantes
brasileiros como acesso à uni-
versidade.
Para evitar esse desfecho, o
ministro da Educação, Abra-
ham Weintraub, pediu comple-
mentação de R$ 6,9 bilhões ao
limite previsto para 2021, con-
forme revelou ontem o esta-
dao.com.br. O pedido ainda será
analisado pela área econômica,
que trabalha na elaboração da
proposta orçamentária do ano
que vem. O projeto precisa ser
enviado ao Congresso Nacio-
nal até 31 de agosto de 2020.
A estimativa inicial é de que o
MEC tenha R$ 18,78 bilhões pa-
ra despesas discricionárias (as
que não são obrigatórias), que
incluem o custeio de políticas
educacionais, uma queda de
18,2% em relação aos R$ 22,
bilhões programados para este
ano. “Ressalta-se que, dentre
os programas que correm risco
de não serem continuados, en-
contra-se o consagrado Enem,
e soma-se a esse prejuízo o fe-
chamento de cursos, câmpus e
possivelmente instituições in-
teiras, comprometendo a edu-
cação superior e a educação pro-
fissional e tecnológica”, diz o
ofício assinado por Weintraub
em 4 de junho.
Em nota técnica, o subsecre-
tário de Planejamento e Orça-
mento do MEC, Adalton de Ro-


cha Matos, também cita o risco
de suspensão na concessão de
bolsas de pesquisa por meio da
Capes e interrupção nos progra-
mas do Prouni, que concede
bolsas integrais e parciais para
estudantes ingressarem em uni-
versidades privadas.
No ano que vem, a restrição
nos gastos do governo volta a se
impor porque todas as regras
fiscais terão a vigência retoma-
da. Em 2021, a âncora da políti-
ca fiscal será o teto de gastos,
mecanismo que limita o avanço
das despesas à inflação. O teto é
considerado pela equipe econô-
mica instrumento fundamen-
tal para manter a credibilidade
dos investidores no processo
de ajuste das contas públicas.
Apesar de o limite ser corrigi-
do pela inflação, algumas despe-
sas acabam crescendo num rit-
mo superior, como são os casos
de benefícios previdenciários e
assistenciais, de pagamento
obrigatório. Quando isso acon-
tece, as despesas não obrigató-
rias, que incluem o custeio das
políticas e os investimentos,
acabam ficando com um espa-
ço menor no Orçamento – daí o
corte na previsão de gastos pa-

ra o MEC em 2021. Outras pas-
tas também devem ser atingi-
das.
O alerta do Ministério da Edu-
cação é uma primeira mostra
da pressão por recursos que a
equipe econômica deve come-
çar a sofrer no processo de ela-
boração do Orçamento. A situa-
ção do ano que vem é diferente
do cenário de 2020, em que o
estado de calamidade pública
decretado pela pandemia do no-
vo coronavírus livrou a equipe
econômica de cumprir regras
fiscais e autorizou a expansão
de gastos emergenciais para
combater a crise. O rombo nas
contas deve chegar a R$ 675,
bilhões este ano, mais de cinco
vezes o déficit de R$ 124,1 bi-
lhões autorizado inicialmente.
A situação ficou mais crítica
porque a proposta de Lei de Di-
retrizes Orçamentárias
(PLDO) de 2021, que lança os
parâmetros para a elaboração
do Orçamento, foi feita com ba-
se numa expectativa de corre-
ção do teto em 3,23%, mas a in-
flação deve ficar bem abaixo dis-
so. Como mostrou o Esta-
dão/Broadcast, o aumento dos
preços num ritmo menor deve
tirar R$ 16,7 bilhões do espaço
reservado para gastos no ano
que vem. Os pré-limites já fo-
ram repassados aos ministé-
rios com uma previsão de corre-
ção de 2,08% no teto.
No ano passado, Weintraub
teve uma atuação bem-sucedi-
da nas reuniões da Junta de Exe-
cução Orçamentária (JEO) que
bateram o martelo sobre o Or-
çamento de 2020. Mesmo sem
ser integrante permanente do
colegiado, ele garantiu lugar pri-
vilegiado nos momentos decisi-
vos da divisão do bolo de recur-
sos e, após uma pressão corpo a
corpo por mais dinheiro, conse-

guiu aumentar a dotação do
MEC em cerca de R$ 5 bilhões.
À época, outros ministérios ti-
veram perdas maiores, como In-
fraestrutura, Desenvolvimen-
to Regional (que administra o
Minha Casa Minha Vida), Mu-
lheres e Meio Ambiente.
Depois disso, Weintraub so-
freu desgastes por episódios co-
mo a ofensa aos chineses e à
China e a fala na reunião minis-
terial de 22 de abril em que de-
fendeu a prisão de ministros do
STF. Apesar disso, ele ainda

tem o apoio do presidente Jair
Bolsonaro, de seus filhos e da
ala ideológica do governo.
O Ministério da Economia in-
formou em nota que os limites
preliminares para gastos infor-
mados aos ministérios “foram
definidos com base em proje-
ções globais das despesas e re-
ceitas da União” e estão sujei-
tos a alterações. A pasta ressal-
tou que cabe ao ministério seto-
rial distribuir internamente os
valores, de acordo com as priori-
dades. O MEC não respondeu.

lOcupação

Enem pode ser suspenso no ano que


vem por falta de recursos, alerta MEC


lEconomia

Unicamp corta


questões do


vestibular


Primeira previsão orçamentária é de corte de R$ 4,2 bilhões em 2012. Ministro Weintraub fala da possibilidade de ‘fechamento de cursos,


câmpus e possivelmente instituições inteiras, comprometendo a educação superior e a educação profissional e tecnológica’


PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS

Metrópole


407 pessoas
São atendidas atualmente no hos-
pital do Anhembi, que tem capaci-
dade para 1,8 mil

TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO - 5/11/

Ludimila Honorato

A comissão permanente para os
vestibulares da Unicamp (Com-
vest) anunciou ontem mudan-
ças importantes na primeira fa-
se do vestibular de 2021 por cau-
sa da pandemia do novo corona-
vírus. A prova terá menos ques-
tões (72 e não mais 90) e dura-
ção de no máximo quatro horas


  • anteriormente eram cinco. A
    primeira fase será realizada em
    dias diferentes, divididos pela
    área de escolha dos candidatos.
    Tudo isso para reduzir o núme-
    ro de estudantes circulando e
    evitar aglomeração nas escolas.
    Os candidatos aos cursos do
    segmento de Ciências Huma-
    nas/Artes e de Exatas/Tecnológi-
    cas farão a prova no mesmo dia,
    em um sábado. A dos candidatos
    da área de Ciências Biológi-
    cas/Saúde será no dia seguinte.
    As inscrições para o vestibu-
    lar da Unicamp 2021 serão reali-
    zadas entre 31 de julho e 8 de
    setembro, pela página da Com-
    vest (comvest.unicamp.br). A
    data das provas da primeira fase
    ainda não foi definida.
    As mudanças foram aprova-
    das pela Câmara Deliberativa
    do Vestibular, em reunião na
    quinta-feira, e serão publicadas
    em edital. Segundo a Comvest,
    a primeira fase deve ser aplica-
    da em dois dias de janeiro de
    2021 e as provas da segunda fa-
    se, em dois dias de fevereiro. A
    definição dos dias depende da
    divulgação, pelo Inep, das datas
    do Enem e de reunião entre as
    universidades públicas paulis-
    tas, para que não haja coincidên-
    cia de datas, possibilitando aos
    estudantes prestarem mais de
    um processo seletivo.
    A primeira fase será constituí-
    da de uma única prova de conhe-
    cimentos gerais composta por
    72 questões objetivas sobre as
    áreas do conhecimento desen-
    volvidas no ensino médio. As
    questões serão as seguintes: 12
    questões de Língua Portuguesa
    e Literatura; 12 questões de Ma-
    temática; e oito questões de ca-
    da disciplina: Biologia, Física,
    Geografia/Sociologia, Histó-
    ria/Filosofia, Inglês e Química.


Espera. A Universidade de São
Paulo (USP) e a Universidade
Estadual Paulista (Unesp) man-
tiveram a posição de aguardar a
definição da nova data do Exa-
me Nacional do Ensino Médio
(Enem), que foi adiado pelo Mi-
nistério da Educação, para ava-
liar o adiamento de suas provas.

“Dada a necessidade de
cumprimento do teto de
gastos, é importante
destacar que as despesas
primárias obrigatórias vêm
crescendo ao longo dos
anos, o que comprime as
dotações disponíveis para
as despesas primárias
discricionárias, onde se
enquadram as despesas do
programa em questão.”
MINISTÉRIO DA ECONOMIA, EM
RESPOSTA À DEFINIÇÃO DE LIMITES

Incerteza. Segundo o MEC, há risco ainda ao Prouni e à concessão de bolsas pela Capes

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