O Estado de São Paulo (2020-06-06)

(Antfer) #1

A2 Espaçoaberto SÁBADO, 6 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Vice-presidente do Comitê
Organizador dos Jogos de Tó-
quio-2020, Toshiaki Endo afir-
mou que até março de 2021
não será possível saber com
certeza se haverá Olimpíada
ou se o evento no Japão terá
que ser cancelado devido à
evolução da pandemia.
Os Jogos Olímpicos deve-


riam começar no próximo dia
24 de julho, mas a competição
foi adiada para 2021, entre 23
de julho e 8 de agosto.
O Comitê Olímpico Interna-
cional (COI) não estabeleceu
um prazo para determinar o
cancelamento definitivo.

http://www.estadao.com.br/e/olimpiada

V


ive-se contínuo desas-
sossego em tempos de
Bolsonaro, fonte única
de uma crise política que não
tem outra razão de ser que não
sua personalidade conflituosa.
Tem-se a impressão de estar
a fazer viagem no trem fantas-
ma ao percorrer o Palácio do
Planalto: na primeira curva en-
contra-se a figura da viúva do
coronel Ustra com um retrato
do marido com dizeres em le-
tra grande: Herói Nacional. Lo-
go em seguida, tromba-se com
o Major Curió em cadeira de
rodas sendo homenageado. De-
pois de pequena reta, surge o
rosto encaveirado de Roberto
Jefferson vociferando contra
os vagabundos do Supremo
Tribunal Federal. Um longo tú-
nel retrata os grupos dos do-
mingos presidenciais antide-
mocráticos, bolsonaristas car-
regando faixas clamando pelo
fim do Congresso Nacional.
No final da viagem encontra-
se, bem sentado numa poltro-
na, sorridente, o ex-deputado
Valdemar Costa Neto.
Em face de investigação pelo
Supremo sobre as fontes das
fake news, com determinação
de busca e apreensão em ende-
reços de apoiadores do presi-
dente que constituem a ori-
gem da indústria de notícias
falsas, veio uma reação desme-
dida, com a pregação da possi-
bilidade até mesmo de guerra
civil por dezenas de coronéis,
com aviso nesse sentido pelo
ministro do GSI e o comentá-
rio do deputado Eduardo, o fi-
lho 03, reconhecendo inafastá-
vel a ruptura, bastando saber
quando ocorreria.
Em vista desse quadro de ra-
dicalismo crescente, com ata-
ques permanentes aos Poderes
Legislativo e Judiciário, a socie-
dade civil, até aí adormecida,
resolveu vir à tona para procla-
mar a defesa da democracia.
Surgiram, então, manifestos
que reúnem pessoas de diver-
sos matizes, ganhando desta-
que o divulgado pelo Movimen-
to Estamos Juntos, subscrito
por mais de 150 mil. Assevera-
se que “somos muitos, e forma-
mos uma frente ampla e diver-
sa, suprapartidária, que valori-

za a política”, pedindo eficácia
na resposta a crimes e desman-
dos de qualquer governo.
Em outro manifesto, intitu-
lado Basta, subscrito por cer-
ca de 600 profissionais do Di-
reito, pontua-se: “O presiden-
te da República faz de sua roti-
na um recorrente ataque aos
Poderes da República, afron-
ta-os sistematicamente (...).
Descumpre leis e decisões ju-
diciais. Assim, é preciso dar
um BASTA a esta noite de ter-
ror com que se está pretenden-
do cobrir este país. Não nos
omitiremos”.
Outro documento, com 170
assinaturas de personagens da
área do Direito, enfrenta a jus-
tificativa de interferência mili-
tar com base no artigo 142 da
Constituição federal: “A nação
conta com suas Forças Armadas
como garantia de defesa dos Po-
deres constitucionais, jamais pa-

ra dar suporte a iniciativas que
atentem contra eles. Assim, às
Forças Armadas não se agregam
o papel de poder moderador en-
tre os Poderes”.
Associações de magistrados
e procuradores foram incisi-
vas em sua manifestação, ao
deixar preciso que “todo ato
que atente contra o livre exercício
dos Poderes e do Ministério Públi-
co, em qualquer das esferas fede-
rativas, se não evitado, será obje-
to, portanto, de imediata e efetiva
reação institucional”. Igualmen-
te, a Associação dos Juízes Fe-
derais do Brasil (Ajufe) divul-
gou nota repudiando os even-
tos antidemocráticos que “de-
monstram desprezo absoluto
à independência judicial”.
Nota do colégio de ex-presi-
dentes da Associação dos Ad-
vogados de São Paulo explica:
“A Nação está exausta em ra-
zão do clima artificial de con-
fronto criado toda semana pe-
lo senhor Presidente da Repú-
blica. (...) A sua estratégia fica
dia a dia mais clara. A socieda-
de civil já percebeu o engodo

e vem se posicionando por
meio de manifestos que unem
pessoas de diversos matizes
políticos, identificados, toda-
via, pela crença nos valores da
democracia”.
Seis entidades da advocacia
de São Paulo emitiram nota,
pontuando não se poder viver
sob sombra de constante lem-
brança de intervenção ou rup-
tura, a serem devidamente re-
pudiadas. Igualmente o fize-
ram 130 organizações da socie-
dade civil no documento Jun-
tos pela democracia e pela vida.
O núcleo pensante do País
veio à tona.
Os excertos dos manifestos
mostram viva disposição de
se impedir qualquer retroces-
so autoritário, em “superação
de diferenças políticas em fa-
vor da preservação da demo-
cracia”, a ponto de unir torci-
das organizadas de times ar-
qui-inimigos.
Pode-se, então, destacar
nesses trechos a presença de
duas tônicas: a defesa da inde-
pendência do Judiciário e o
aviso de se estar vigilante con-
tra qualquer tentativa de limi-
tação das liberdades demo-
cráticas, prometendo-se rea-
ção institucional ou uma res-
posta eficaz em face de crimes
e desmandos.
A conduta daqui para a fren-
te desses organismos formais
e informais, que tomam posi-
ção em defesa da democracia,
dependerá de como vai agir o
sr. presidente, que na sua me-
galomania saiu a cavalo levan-
tando o braço esquerdo como
os generais em guerra até o
fim do século 19. Pode ser um
Napoleão de hospício, que, co-
mo dizia Nelson Rodrigues, é
feliz por não ter Waterloo.
Espera-se não ser necessá-
ria nenhuma batalha para o
mandatário sair do seu univer-
so paralelo e cair na realidade
do jogo democrático honesto
e transparente.

]
ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR
SÊNIOR DA FACULDADE DE
DIREITO DA USP, MEMBRO DA
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS,
FOI MINISTRO DA JUSTIÇA

Decisão foi tomada após no-
vas proibições do presiden-
te Donald Trump.

http://www.estadao.com.br/e/cuba

TÓQUIO 2020


Realização da Olimpíada é incerta


Por causa da pandemia do
novo coronavírus o evento
acabou sendo adiado, mas
ganhará uma versão virtual
no dia 14 de junho.

http://www.estadao.com.br/e/lgbt

l“Usar um helicóptero das Forças Armadas pago com nosso dinheiro
pode, não é? Mas fazer manifestação contrária não pode?”
CRISTINA GREEN

l“Os vândalos que agridem, depredam o patrimônio público e desres-
peitam a Bandeira Nacional têm de ser contidos.”
VERA LUCIA SANTOS DE SOUZA

l“Votei em Bolsonaro, mas ele se tornou uma desgraça para o País.
É digno reconhecer que votou errado.”
ADRIANO REGINALDO

l“Se Bolsonaro fizer isso, só estará imitando Nicolás Maduro, presi-
dente da Venezuela que ele criticou tanto.”
MARCOS VINICIUS ALMEIDA FARIAS

INTERAÇÕES


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Fundador da Microsoft vai
investir em construção de
fábricas e compra de doses
de vacina em regiões subde-
senvolvidas.

http://www.estadao.com.br/e/gates

Espaço Aberto


E


m janeiro de 2019 Jair
Messias Bolsonaro su-
biu a rampa do Palácio
Planalto convencido de que
seus eleitores lhe haviam ou-
torgado um mandato para fa-
zer o que bem entendesse. É
um fato comum no sistema
presidencialista de governo.
O eleito tende a pensar que
dezenas de milhões de eleito-
res compareceram às urnas
com um único pensamento.
Sabiam exatamente os objeti-
vos que o candidato de sua
preferência deveria perseguir,
e por que deveriam fazê-lo.
Uma parte deles por certo se
lembrava de que, na democra-
cia, o poder é exercido dentro
de limites estipulados na
Constituição e nas leis, e tam-
bém pela existência do “ou-
tro”, ou seja, dos adversários,
que foram derrotados, mas
não deixaram de existir.
Embora típico do sistema
presidencialista, no caso de
Bolsonaro o sentimento de
onipotência a que acima me
referi apresenta riscos adicio-
nais de suma importância.
Primeiro, ele vê aquela enor-
me massa de votos como a
voz do “povo” – de todos os
brasileiros – e a escolha dele
entre os diversos candidatos
como um reconhecimento
dos méritos que supostamen-
te possui. Ora, ninguém igno-
ra que a maior parte de sua vo-
tação se deveu à rejeição gene-
ralizada ao PT e ao desastroso
legado dos governos petistas;
e, complementarmente, ao
péssimo desempenho dos par-
tidos de centro, que não con-
seguiram se unir em torno de
uma candidatura e de símbo-
los apropriados ao tenso mo-
mento sob o qual o Brasil tem
vivido já há vários anos.
Uma pequena parcela do
eleitorado intuiu que o candi-
dato pretendia fazer refor-
mas. Designado com antece-
dência, Paulo Guedes sinaliza-
va uma orientação liberal na
economia, e ele mesmo, Bol-
sonaro, falava em acabar com
a “velha política”, expressão
tão vaga como o “contra tudo
o que aí está” dos primórdios
do PT. A cereja do bolo – que-


ro dizer, a parte mais esdrúxu-
la do imaginário mandato bol-
sonarista – ficou a cargo do sá-
bio da Virgínia. Seria o comba-
te a um moinho de vento por
ele denominado “marxismo
cultural”.
Mas os riscos embutidos na
visão política de Bolsonaro
vão muito além dos que acima
tentei alinhavar. Mais grave,
ao que tudo indica, é o fato de
tal visão existir muito mais no
campo da psicologia que no
do raciocínio.
Parco em letras, Bolsonaro
parece travar uma luta diária
contra os limites que o siste-
ma político lhe impõe e seu fí-
gado, que o estimula a derru-
bá-los. Desconhece por com-
pleto o significado e o alcance
da expressão “liturgia do car-
go”. Não compreende que,
uma vez investido na suprema
magistratura do País, ele não

mais se pertence.
Sua propensão a demons-
trar “franqueza” tem muito
de infantil. Como chefe de Es-
tado, ele deve se comportar
com moderação e comedi-
mento, abstendo-se de recor-
rer a termos inadequados à
posição que ocupa e de insul-
tar integrantes dos outros Po-
deres e jornalistas.
Esse perfil assaz telegráfico
que estou tentando traçar indi-
ca que o presidente tem uma
indisfarçável inclinação autori-
tária, ditatorial, mas isso ain-
da é dizer pouco. Não por aca-
so, o último rumor que nos de-
via atormentar – a iminência
de alguma aventura golpista –
passou a frequentar diaria-
mente as páginas dos jornais.
Do fígado, que ele a duras
penas tenta controlar, vez por
outra emergem traços franca-
mente paranoicos, notada-
mente a percepção de que de-
cisões ou pronunciamentos
contrários a seus desejos são
indícios de alguma conspira-
ção. Vale dizer, da perfídia de

inimigos empenhados em
apeá-lo do poder.
A controvérsia sobre o arti-
go 142 da Constituição, que su-
postamente confere às Forças
Armadas a faculdade de inter-
vir como um poder modera-
dor na eventualidade de confli-
to entre os Poderes, deu à con-
juntura o toque pitoresco que
talvez lhe faltasse. O que se po-
de sensatamente afirmar, espe-
cialmente em relação ao
Exército, é que sua excessiva
presença no governo empres-
ta uma aura de veracidade a es-
sa tolice, com grave prejuízo
para sua imagem institucional.
Salta aos olhos que a chega-
da da covid-19 – bem como a
atribuição, pelo Supremo Tri-
bunal Federal, da responsabili-
dade primária pelo combate à
epidemia aos Estados e muni-
cípios – elevou os riscos prece-
dentemente mencionados à
enésima potência. Ignorando
e contrariando – exatamente
como fez Donald Trump, nos
Estados Unidos – o diagnósti-
co elaborado pelos serviços de
inteligência, Bolsonaro retar-
dou o sentimento de urgência
que se impunha. E levou-o a
solapar tais esforços, descum-
prindo deliberada e ostensiva-
mente as recomendações ado-
tadas não só no Brasil, mas
em quase todo o mundo.
É triste ver comportar-se
dessa forma um presidente
que deveria contribuir para o
desarmamento dos espíritos
e para a eficácia do atendi-
mento aos doentes. Um ho-
mem corajoso, ex-atleta, não
se deixaria intimidar por uma
“gripezinha”.
Uma palavra de preocupa-
ção ou compaixão pelas famí-
lias enlutadas não parece com-
patível com tal perfil. Pena
não ter ele até agora demons-
trado sua coragem, passando
um dia num hospital e colabo-
rando, quem sabe, em tarefas
que não requerem conheci-
mentos específicos de saúde.

]
SÓCIO-DIRETOR DA CONSULTORIA
AUGURIUM, É MEMBRO DAS
ACADEMIAS PAULISTA DE LETRAS
E BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

IGUALDADE
Parada do Orgulho
LGBT será virtual

Gates tem plano para
levar a cura ao mundo

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

EVELSON DE FREITAS/ESTADÃO

]
Bolívar Lamounier


Tema do dia


O meia e o lateral-direito
Edilson vão deixar o clube
de forma amigável.

http://www.estadao.com.br/e/cruzeiro

Elegia para


um país à deriva


Triste como se comporta
um presidente, que
deveria contribuir para
desarmar os espíritos

Ação


afirmativa


A sociedade civil
resolveu vir à tona
para proclamar a
defesa da democracia

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
TEL.: (11) 3856-2122 /
REDAÇÃO: 6º ANDAR
FAX: (11) 3856-
E-MAIL: [email protected]
CENTRAL DE ATENDIMENTO
AO ASSINANTE
CAPITAL E REGIÕES METROPOLITANAS:
4003-
DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-
https://meu.estadao.com.br/fale-conosco

CENTRAL DE ATENDIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE
PUBLICIDADE: 3856-2531 – [email protected]
PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A
SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Governo discute usar


Força Nacional em


atos no domingo


Presidente Jair Bolsonaro tem criticado
manifestantes contra sua gestão, numa
tentativa de criminalizar os movimentos

]
Miguel Reale Júnior

ISSEI KATO/REUTERS COVID-

No estadao.com.br


CUBA

Rede hoteleira deixa
de atuar em Havana

FUTEBOL

Cruzeiro anuncia
rescisão com Robinho
Free download pdf