O Estado de São Paulo (2020-06-06)

(Antfer) #1

A4 SÁBADO, 6 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»Todo mundo. O Executi-
vo também está vigiando
grupos pró-governo, em es-
pecial o chamado “300 do
Brasil”, liderado pela ativis-
ta Sara Winter. O intuito,
no entanto, é não fazer alar-
de a ponto de “levantar
muito a bola” da ativista.

»Narrativa. Ministro im-
portante do governo enxer-
ga mais ou menos assim a
disputa nas ruas: manifes-
tantes contrários ao presi-
dente “tapam o rosto”,
“usam preto” e “têm tatua-
gens”; nos atos pró-Bolsona-
ro, a turma “veste verde e
amarelo” e “há crianças”.

»Fora ele... O presidente
do PSB, Carlos Siqueira, pe-
diu calma em relação aos
protestos contra Bolsonaro
por causa da pandemia.
Mas admite que, certamen-
te, haverá gente na rua.

»...em casa. “E, obviamen-
te, se houver repressão poli-
cial, seremos solidários. Es-
pero que quem vá fique de
olho e tenha um esquema
de segurança próprio para
evitar excessos. Pode até
haver, quem sabe, infiltra-
dos (para provocar violên-
cia)”, afirmou à Coluna.

»Relax. Mesmo diploma-
tas críticos à política exter-
na bolsonarista acham que
a crítica de Trump ao Brasil
deve ser interpretada sob a
ótica das eleições dos EUA.
O presidente americano
busca exemplos externos
ruins de combate à pande-
mia para diluir a pressão
sobre seu governo.

»Relax 2. O provável em-
baixador do Brasil em
Washington, Nestor Fors-
ter, foi nessa linha, em con-
versa com a Coluna:
“(Trump) Estava mais que-
rendo defender os Estados
Unidos do que atacar quais-
quer países”, disse, lembran-
do que ele também citou a
Suécia como mau exemplo.

»Perigo. A carta dos depu-
tados democratas da Comis-
são de Orçamento da Câma-
ra dos EUA, essa sim, deve
ser motivo de alerta. O tex-
to prega oposição a acordos
comerciais com “o Brasil
do presidente Bolsonaro”.

»Aula. Está nos livros: no
dia 9 de novembro de 1889,
dom Pedro II foi ao Baile
da Ilha Fiscal. Já no salão,
escorregou e caiu. Levan-
tou-se e disse: “O monarca
tropeçou, mas a monarquia
não caiu”. Seis dias depois,
porém, o regime desabou.

»Bastão. Na primeira reu-
nião de secretariado do go-
verno paulista com a pre-
sença de Mauro Ricardo
(gestão orçamentária), o
vice Rodrigo Garcia expres-
sou alívio: “Deixo de ser o
mãos de tesoura do corte
de gastos do governo”. Ri-
cardo absorveu áreas das
secretarias de Garcia e de
Henrique Meirelles.

»Nudes. As fotos de Vam-
peta enviadas a Douglas
Garcia (PSL-SP) devem mo-
tivar outras ações do tipo,
os “vampetaços”, nas redes
sociais. O deputado pediu
“denúncias” de quem são
os líderes dos protestos
contra Bolsonaro. Recebeu
ensaios do ex-volante do
Corinthians peladão.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

A


pesar de Jair Bolsonaro ter subido o tom em relação
às manifestações contrárias a ele, nos bastidores do
governo gente importante ainda não vê motivo pa-
ra pânico: a avaliação é de que, por ora, os protestos não
devem evoluir para um “novo junho de 2013”. O risco de
violência nos atos e a pandemia da covid-19 são fatores de
desagregação da oposição, acreditam. Os serviços de inte-
ligência “oficial” monitoram as movimentações. À Colu-
na, uma autoridade da Segurança disse que o clima é tenso
entre policiais militares, alinhados com Bolsonaro.

Governo ainda não vê


um novo ‘junho de 2013’


ALBERTO BOMBIG
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‘Generais viram que
proposta de Bolsonaro é

a guerra civil’. Pág. A


Fernando Gabeira


Por verbas, TVs católicas


oferecem apoio ao governo


Publicidade. Padres e leigos conservadores que controlam parte do sistema de emissoras


ligadas à Igreja prometem ‘mídia positiva’ para ações do Planalto na pandemia da covid-


Felipe Frazão / BRASÍLIA

A queda de popularidade do
presidente Jair Bolsonaro
tem atraído propostas de
alianças em troca de recursos
públicos. Uma das mais tenta-
doras partiu de padres e lei-
gos conservadores que con-
trolam boa parte do sistema
de emissoras católicas de rá-
dio e TV. Ligados à ala que di-
verge politicamente da Confe-
rência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) dentro da Igre-
ja, eles prometeram “mídia
positiva” para ações do gover-
no na pandemia do novo coro-
navírus. Pediram em contra-
partida, porém, anúncios esta-
tais e outorgas para expandir
sua rede de comunicação.
A proposta foi feita no último
dia 21, em videoconferência
com a participação de Bolsona-
ro, sacerdotes, parlamentares e
representantes de alguns dos
maiores grupos católicos de co-
municação, no Palácio do Pla-
nalto. A reunião foi pública e
transmitida por redes sociais
do Planalto e pela TV Brasil. Na
“romaria virtual”, o grupo solici-
tou acesso ao Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações
e Comunicações, à Agência Na-
cional de Telecomunicações (A-
natel) e, principalmente, à Se-
cretaria de Comunicação Social
da Presidência (Secom).
Dona do quinto maior orça-
mento do Executivo, a Secom
tem R$ 127,3 milhões em contra-
tos com agências de publicida-
de. Bolsonaro prometeu tratar
pessoalmente do assunto. Um
dos pedidos mais explícitos foi
feito pelo padre Welinton Silva,
da TV Pai Eterno, ligada ao San-
tuário Basílica do Divino Pai
Eterno, em Trindade (GO).
Silva afirmou que a emissora,
há um ano no ar, passa por difi-
culdades e espera uma aproxi-
mação com a Secom para ofere-
cer uma “pauta positiva das
ações do governo” na pandemia
da covid-19. “A nossa realidade
é muito difícil e desafiante, por-
que trabalhamos com peque-
nas doações, com baixa comer-
cialização. Dentro dessa dificul-
dade, estamos precisando mes-
mo de um apoio maior por par-
te do governo para que possa-
mos continuar comunicando a
boa notícia, levando ao conheci-
mento da população católica,

ampla maioria desse país, aqui-
lo de bom que o governo pode
estar realizando e fazendo pelo
nosso povo”, disse o padre.
“Precisamos ter mais atenção
para que esses microfones não
sejam desligados, para que es-
sas câmeras não se fechem.”
O padre e cantor Reginaldo
Manzotti, da Associação Evan-
gelizar é Preciso, com rádios e
TV próprias, cobrou agilidade e
ampliação das outorgas e desta-
cou o contraponto que os católi-
cos podem fazer para frear o
atual desgaste na imagem de
Bolsonaro e do governo.
“Nós somos uma potência,
queremos estar nos lares e aju-
dar a construir esse Brasil. E,
mais do que nunca, o senhor sa-
be o peso que isso tem, quando
se tem uma mídia negativa. E
nós queremos estar juntos”, ob-
servou Manzotti, dirigindo-se
ao presidente.
O empresário João Monteiro
de Barros Neto, da Rede Vida,
afirmou que “Bolsonaro é uma
grande esperança”. Argumen-
tou, ainda, que veículos católi-
cos precisam ser “verdadeira-
mente prestigiados”. Barros Ne-
to pediu não apenas mais entre-
vistas, como também a partici-
pação do presidente em even-
tos promovidos por católicos.
“A Rede Vida é a quarta maior
rede de TV digital do País, mas,
para que possamos crescer, pre-
cisamos ter mais investimen-
tos”, resumiu ele.

‘Ciúmes’. Emissoras de TV li-
gadas a grupos religiosos rece-
beram, no ano passado, R$ 4,
milhões em pagamentos da Se-
com por veiculação de comer-
ciais institucionais e de utilida-
de pública. Os veículos católi-
cos ficaram com R$ 2,1 milhões
e os protestantes, com R$ 2,
milhões. Em 2020, emissoras
de TV católicas receberam, até
agora, R$ 160 mil, enquanto as
evangélicas, R$ 179 mil, de acor-
do com planilhas da Secom.
O encontro virtual foi inter-
mediado pelo líder do governo
na Câmara, Major Vitor Hugo
(PSL-GO), com a Frente Parla-
mentar Católica. O deputado
frequentava grupos de oração
da Renovação Carismática Ca-
tólica. Enciumado com o aces-
so da Frente Parlamentar Evan-
gélica ao Planalto, o presidente
da bancada católica, deputado

Francisco Jr. (PSD-GO), pediu
que Bolsonaro promova, men-
salmente, um café da manhã de
conversa e oração com eles.
“Estamos um pouco enciuma-
dos. Nós somos a maioria e a
maioria é que ganha eleição
sempre”, alegou Francisco Jr.,
para quem as pautas da banca-
da “têm a cara de Jair Bolsona-
ro.” O deputado Diego Garcia
(Podemos-PR) afirmou, por
sua vez, que a bancada quer for-
talecer o governo. “O senhor po-
de contar 100% nas matérias
pertinentes em apoio ao gover-
no”, disse Garcia a Bolsonaro.
Já o deputado Eros Biondini
(Pros-MG) afirmou que há “em-
presários católicos alinhados
com o governo” interessados
em investir no Brasil e defendeu
a liberação de verbas para enti-
dades filantrópicas do setor que
mantêm unidades de saúde.

Audiência. A Rede Católica de
Rádio possui oito geradoras
que distribuem conteúdo para
mais de mil emissoras e trans-

mitem em cadeia para cerca de


  1. O sistema de TV também é
    expressivo. No Brasil, há nove
    emissoras católicas de TV, ge-
    radoras de conteúdo: Apareci-
    da, Nazaré, Imaculada, Hori-
    zonte, Pai Eterno, Rede Vida,
    Canção Nova, Século 21 e Evan-
    gelizar – as três últimas ligadas
    a movimentos da Renovação
    Carismática Católica. As pri-
    meiras não participaram da vi-
    deoconferência. Já a Rede Vi-
    da, a maior delas, tem na grade
    programas de ícones do movi-
    mento, como O Terço Bizanti-
    no, do padre Marcelo Rossi, e o
    Rede Vida Sertaneja, do padre
    Periquito.
    Na videoconferência com
    Bolsonaro, o padre João Henri-
    que, da Aliança de Misericór-
    dia, descreveu o presidente co-
    mo alguém que enfrenta uma
    “batalha espiritual” que exige
    “armas espirituais”. “A gente se
    identifica muito com as bata-
    lhas que o senhor está travan-
    do, somos muitos na Igreja Ca-
    tólica que oramos pelo senhor.
    Sentimos saudade do senhor. A
    Igreja Católica quer abraçar o
    seu filho e desejaria tê-lo mais
    próximo e mais atuante dentro
    da Igreja”, insistiu.
    O flerte entre Bolsonaro e veí-
    culos de comunicação católi-
    cos simpáticos ao governo re-
    presenta uma investida do Pla-
    nalto na divisão latente na Igre-
    ja. De um lado, conservadores
    alinhados ao governo, princi-
    palmente aqueles ligados à Re-
    novação Carismática Católica
    e, de outro, progressistas e críti-
    cos do bolsonarismo vincula-
    dos à CNBB. Alguns episódios
    recentes marcaram uma escala-
    da no tensionamento.
    A presença constante do pre-
    sidente em manifestações anti-
    democráticas e a posição dele
    contrária às recomendações sa-
    nitárias no combate à pande-
    mia da covid-19 fizeram a
    CNBB elevar o tom contra o go-
    verno e dizer que Bolsonaro
    “ameaça a saúde” e perdeu “cre-
    dibilidade” social. Entidades li-
    gadas ao episcopado chegaram
    a defender o impeachment do
    presidente.
    Padres identificados com mo-
    vimentos de leigos (católicos
    praticantes não ordenados)
    conservadores e carismáticos,
    por outro lado, se aproxima-
    ram do Planalto.


KLEBER SALES/ESTADÃO

Márcio Jerry

‘Emissora nunca


foi reconhecida’,


afirma empresário


»SINAIS


PARTICULARES.
Vampeta,
ex-jogador de futebol

PRONTO, FALEI!

“Bolsonaro consegue o feito de ter seu nome na la-
ma duas vezes em um único dia. Ao cair, literalmen-
te, e quando seu ídolo o usa como antiexemplo.”

Deputado federal (PCdoB-MA)

l O empresário João Monteiro
de Barros Neto, da Rede Vida,
disse que não teve mais contatos
com o governo depois da video-
conferência do dia 21. Afirmou
ainda que houve queda de veicu-
lação de publicidade estatal da
ordem de 85% no governo Bolso-
naro e que, mesmo em gestões
anteriores, a emissora “nunca
chegou a ser reconhecida pela
sua cobertura e programação”.
“A expectativa que a Rede Vida
tem é que as veiculações publici-
tárias governamentais possam
ser consentâneas com sua abran-
gência e importância.”
O deputado Francisco Jr., presi-
dente da Frente Católica, disse
ao Estadão que o pedido de aju-
da em forma de anúncios “des-
toou” do tom da reunião. “A Igre-
ja Católica não é unânime. Tem
gente de direita, de esquerda e
de centro”, observou.
O Planalto não quis comentar
e a CNBB alegou não ter partici-
pado do encontro. / F.F.

»CLICK. Davi Alcolum-
bre acompanhou Eduar-
do Pazuello (Saúde) na
inauguração do setor do
Hospital Universitário de
Macapá (AP) para o trata-
mento da covid-19.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

YOUTUBE PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Reunião. Presidente Jair Bolsonaro em videoconferência com representantes religiosos, empresários e parlamentares
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