O Estado de São Paulo (2020-06-07)

(Antfer) #1

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A4 DOMINGO, 7 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS PARTICULARES.
Jair Bolsonaro, presidente da República

»Xadrez. Fidelíssima até
aqui a Jair Bolsonaro, Carla
Zambelli (PSL-SP) não hesi-
tou em abandonar seu ex-
padrinho Moro para assu-
mir uma defesa inconteste
do presidente. Ela está arro-
lada em duas investigações
sensíveis: interferência na
Polícia Federal e fake news.

»Ponta. Por 18 meses
Eduardo liderou o ranking
(veja no blog da Coluna)
feito com base no Índice de
Popularidade Digital (IPD).

»Análise. “A fidelidade do
fã-clube bolsonarista é tão
alta que é capaz de mover
popularidade de um ex-alia-
do para um novo, de forma
coordenada e integrada. Tu-
do o que a Joice perde, de-
ságua na Zambelli desde
então”, afirma Felipe Nu-
nes, cientista político e dire-
tor da Quaest. O IPD é cal-
culado usando algoritmo de
inteligência artificial e mé-
todos para fugir dos robôs.

»Bolsonarismo... Outro
estudo que ajuda a explicar
a resiliência do bolsonaris-
mo é o da Friedrich-Ebert-
Stiftung Brasil. Indica que,
apesar do crescente desgas-
te de Bolsonaro, mesmo
seus apoiadores autodecla-
rados “desiludidos” se di-
zem dispostos repetir o vo-
to no presidente em 2022
por “falta de alternativa”.

»....em crise? As pesquisa-
doras Esther Solano (Uni-
fesp) e Camila Rocha (Ce-
brap) selecionaram para
entrevistas três grupos de
“votantes” (eleitores) de
Bolsonaro: fiéis, críticos/de-
siludidos e arrependidos.

»Opção. Entre os arrepen-
didos, alguns citam Moro
como alternativa eleitoral.
Outros dizem que anula-
riam o voto. Apenas duas
eleitoras arrependidas afir-
mam que votariam até no
PT para evitar nova eleição
de Jair Bolsonaro.

»Calcanhar. O maior pon-
to de desgaste de Jair Bolso-
naro entre os três grupos
pesquisados é o comporta-
mento dele diante da pande-
mia da covid-19, considera-
do “desrespeitoso”. Outro
destaque: a percepção de
que os filhos do presidente
são fator de instabilidade. A
pesquisa foi feita entre 9 e
18 de maio, em São Paulo.

»Até quando? Desde o iní-
cio da pandemia, Jair Bolso-
naro já cavalgou, pilotou jet
ski, comeu pastel em feira,
participou de manifestação
e praticou tiro. Mas ainda
não visitou, seja em hospi-
tal ou unidade de saúde, os
doentes da covid-19 e os
profissionais obstinados
em salvar vidas.

»‘Teorização... No afã de
questionar o uso de recur-
sos públicos pela Prefeitura
de São Paulo, Coronel Te-
lhada (PP-SP) relembrou o
personagem Odorico Para-
guaçu (de Dias Gomes).

»...e praticação’. Ao visitar
o hospital de campanha do
Anhembi, o deputado esta-
dual deixou escapar um “in-
felizmente, está tudo va-
zio”. Odorico sofria porque
queria inaugurar um cemité-
rio, mas, para desespero do
prefeito, ninguém morria
na fictícia Sucupira.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

A


lçada recentemente a peça importante em investi-
gações sobre o governo, Carla Zambelli superou
Eduardo Bolsonaro em popularidade digital entre
os deputados federais de São Paulo. Segundo índice da
Quaest, desde o rompimento de Joice Hasselmann com o
presidente, em outubro de 2019, Zambelli galga posições
em ranking elaborado pela consultoria. Em maio, após ter
sido tragada para o olho do furacão provocado pela saída
de Sérgio Moro da Esplanada, a controversa Zambelli
amealhou mais seguidores e mais abrangência nas redes.

Bolsonarismo tem nova


‘líder’ em SP: Zambelli


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

‘Vamos parar de
brincar de ditadura.’

Pág. A


Gilmar Mendes


Governo paulista tenta


conter bolsonarismo na PM


Protetos. Comportamento de policiais nas redes sociais e em manifestações preocupam


gestão Doria; defesa de pauta corporativista aproxima agentes de segurança do presidente


Marcelo Godoy

O governo de São Paulo tem se
empenhado para conter o que
chama de “contaminação” do
bolsonarismo na Polícia Mili-
tar e manter a neutralidade e o
caráter apartidário da institui-
ção. As principais preocupa-
ções são o comportamento de
policiais em manifestações
nas ruas e as postagens de inte-
grantes da ativa da PM em re-
des sociais e em aplicativos, co-
mo o WhatsApp.
São compartilhados desde ata-
ques ao governador João Doria
(PSDB) a teses defendidas pelo
bolsonarismo, como o fim do
isolamento social durante a pan-
demia. Na última semana, gru-
pos de policiais foram invadidos
por postagens que chamavam
de “maconheiros”, “terroristas”
e “arruaceiros” os manifestan-
tes que desejam sair às ruas con-
tra o governo de Jair Bolsonaro.
Há, entre os bolsonaristas da
ativa mais fanáticos, um major,
sargentos e cabos que comparti-
lham postagens de deputados
da bancada da bala na Câmara
dos Deputados e na Assembleia
Legislativa. “Vejo de forma es-
tarrecedora colegas apoiando
ou criticando o governo”, afir-
mou o coronel da reserva da PM
Glauco Carvalho, que coman-
dou o policiamento da capital.
A presença de oficiais e pra-
ças da reserva e familiares de po-
liciais em manifestações na Ave-
nida Paulista de apoio ao presi-
dente e contra o governador, ho-
je opositor contundente de Bol-
sonaro, reforça a preocupação
no Executivo estadual. “O desa-
fio de manter a política longe
dos quartéis é grande. Há limi-
tes à liberdade de expressão,
mas temos mantido a situação
sob controle. A PM trabalha pa-
ra o cidadão, não é polícia de go-
verno, mas de Estado”, afirmou
o secretário executivo da PM,
coronel Alvaro Batista Camilo.
O comando da corporação se

reuniu nesta semana, após a ma-
nifestação no domingo passa-
do, que terminou em confronto
entre a tropa de choque e mani-
festantes contrários a Bolsona-
ro – a maioria torcedores de ti-
mes de futebol – na Avenida Pau-
lista. O Estadão apurou que os
coronéis verificaram erros em
procedimentos operacionais,
como a decisão de deixar livre
uma bolsonarista que perambu-
lava com um bastão de beisebol.
A exemplo do domingo passa-
do, bolsonaristas e críticos do
governo devem novamente sair
às ruas hoje na capital. Como a
Justiça proibiu que ambos os
grupos se manifestassem na Ave-
nida Paulista, os movimentos
contrários ao governo remarca-
ram seus atos para o Largo da
Batata, em Pinheiros. No domin-
go passado, cinco manifestan-
tes foram detidos e dois ficaram
feridos, ambos PMs aposenta-
dos que apoiam o presidente.

Associação. Apontada como
um dos focos do bolsonarismo
na PM, a associação Defenda
PM congrega cerca de 2 mil ofi-
ciais. Ela é presidida pelo coro-

nel Elias Miler da Silva, hoje che-
fe de gabinete do senador Ma-
jor Olimpio (PSL-SP), adversá-
rio político de Doria, mas que
rompeu com Bolsonaro. “A as-
sociação é apartidária. Mas os
associados podem ter suas pre-
ferências políticas”, afirmou o
coronel Ernesto Puglia Neto, se-
cretário executivo da associa-
ção. “Nós nascemos para defen-
der institucionalmente a PM.”
Em seu site, no entanto, a en-
tidade mantém na página de
abertura a seguinte frase: “Go-
vernador João Doria: desprepa-
rado para SP, despreparado pa-
ra o Brasil”. Mantém ainda um
artigo sobre a covid-19 no qual
dá aval a todas as teses do presi-
dente sobre a doença, critican-
do o uso da ciência como pala-
vra final no combate ao vírus.
Uma das razões da adesão
dos policiais ao bolsonarismo é
a identificação do presidente
com a pauta corporativista das
polícias. Segundo o coronel Car-
los Alberto de Araújo Gomes,
que presidiu até maio o Conse-
lho Nacional dos Comandantes
Gerais das PMs e dos Corpos de
Bombeiros Militares, entre es-

sas pautas estão o que os poli-
ciais chamam de maior prote-
ção jurídica aos PMs. O pacote
envolve a aprovação de uma lei
orgânica das polícias, a possibili-
dade de a corporação registrar
ocorrências de menor poder
ofensivo e uma maior participa-
ção das PMs na definição de po-
líticas públicas.
Para Araújo Gomes, no entan-
to, o possível aumento de candi-
daturas de policiais – a maioria
ligada ao bolsonarismo – não
significa a existência de conta-
minação política das polícias.
“Isso se deve ao reconhecimen-
to da sociedade pela função rele-
vante exercida por esses ho-
mens.” Segundo ele, mesmo o
motim de policiais no Ceará,
em janeiro, não teve uma causa
nacional, mas, sim, estimulada
por fatores locais.
Renato Sérgio de Lima, presi-
dente do Fórum Brasileiro de Se-
gurança Pública, disse que o mo-
tim cearense só não se espalhou
pelo País em razão da repulsa da
população às ações dos rebelados
e pelo fato de o governo local ter
aprovado lei proibindo anistia. Se-
gundo Lima, uma ruptura da dis-
ciplina hoje só aconteceria em ra-
zão de evento extraordinário.
Para o coronel Carvalho, essa
possibilidade é improvável. Pri-
meiro, porque as Forças Arma-
das se opõem. “As maiores polí-
cias ainda têm instrumentos de
controle.” Apesar de haver na
tropa um sentimento majorita-
riamente pró-Bolsonaro, o coro-
nel identifica um distanciamen-
to recente de parte da oficialida-
de da PM do bolsonarismo após
a demissão de Sérgio Moro da
pasta da Justiça e das negocia-
ções do governo com o Centrão.
“As pessoas mais atentas sabem
o significado desses fatos.”

Nelson Trad





A luta pela democracia en-
tre 1982 e 1984 uniu torce-
dores organizados, jogado-
res e dirigentes como Adilson
Monteiro Alves. Você vê paralelo
entre a luta do passado e o movi-
mento que começa a se formar
no País hoje?
A Democracia Corintiana foi
idealizada por Adilson Montei-
ro Alves, que foi diretor de fute-
bol do Corinthians na nossa
época e era sociólogo. O nome
do movimento foi sugerido pe-
lo publicitário Washington Oli-
vetto para três jogadores, Sócra-

tes, Wladimir e eu. Nós aderi-
mos. Vejo semelhanças, as lutas
pela democracia são parecidas.
A nossa tinha a participação de
jornalistas, artistas, cineastas e
até do cardeal Dom Paulo Eva-
risto Arns. Naquela época, tí-
nhamos uma ditadura militar
comandando o País, o que tor-
nava a causa mais complexa.





Como você decidiu par-
ticipar do movimen-
to em 1984?
Quem teve no elenco
do Corinthians o pa-

pel principal de unir o grupo e
levar o movimento adiante?
A nossa participação, sem
dúvida, foi importante para
dar mais força ao movimento.
Eu, Sócrates e Wladimir fomos
participar das Diretas Já com
Adilson Monteiro Alves por-
que era naquilo que acreditáva-
mos como o melhor caminho
para o Brasil. Nós tínhamos a
convicção de que o papel da
sociedade era lutar com
todas as forças pela rede-
mocratização do País. /
M.G.

PRONTO, FALEI!

lDepois que a Justiça proibiu,
no fim da noite de sexta-feira,
protestos de grupos opostos na
Avenida Paulista, região central
de São Paulo, atos contra o presi-
dente Jair Bolsonaro programa-
dos para hoje foram transferidos
para o Largo do Batata, em Pi-
nheiros, zona oeste. Em comuni-
cado sobre a mudança de local,
os torcedores do Somos Demo-
cracia, a união de movimentos
sociais ligados à esquerda Fren-
te Povo Sem Medo e o grupo Ato

Urgente SP – Vidas Negras Im-
portam afirmaram que vão cum-
prir a determinação judicial, mas
criticaram a “violação do direito
à manifestação”. Está mantida
na Avenida Paulista uma manifes-
tação a favor de Bolsonaro.
Segundo a Secretaria de Segu-
rança Pública, serão proibidos
nos atos guarda-chuvas, paus de
selfie, tacos de beisebol e outros
objetos que possam ser usados
como armas. Também não será
permitido o consumo de bebida
alcoólica. De acordo com a pas-
ta, policiais vão revistar manifes-
tantes dos dois grupos e monito-
rar os atos pelo sistema de câme-
ras do governo do Estado. /
RENATO VASCONCELOS

Organizadas: amor esportivo e
interesse político

Walter Casagrande, ex-jogador e comentarista de futebol

DUAS PERGUNTAS PARA...

“Pode ser verdadeira a declaração. Não temos disci-
plina para observar o rigor ao isolamento”, sobre Do-
nald Trump ter dito que Brasil é mau exemplo na pandemia.

Senador (PSD-MS)

»CLICK. Mais um exem-
plo de como o governo
negligencia o princípio
da impessoalidade na
propaganda: ação perso-
nalizada no presidente e
no ministro Pontes.

COLUNA DO ESTADÃO

JF DIORIO/ESTADÃO–27/9/

ANDERSON LIRA/FRAMEPHOTO -31/5/

São Paulo. Polícia isola manifestantes pró-Bolsonaro do ato contra o presidente na Avenida Paulista, domingo passado

Atos mudam de


endereço após


decisão da Justiça


Pág. A
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