O Estado de São Paulo (2020-06-07)

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A8 DOMINGO, 7 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Internacional


Kamala Harris
Senadora
Foi procuradora na
Califórnia e pré-
candidata à Casa Branca. Desa-
grada aos progressistas.


Stacey Abrams
Ex-deputada
estadual
Primeira negra a
ser candidata ao governo da
Geórgia.

Keisha Bottoms
Prefeita de
Atlanta
Ganhou destaque
ao denunciar o “caos” em sua
cidade em meio aos protestos.

Elizabeth
Warren
Senadora
Chegou a superar
Biden na disputa pela candida-
tura, mas desistiu em março.

Val Deming
Deputada
Foi escolhida em
janeiro para che-
fiar o processo de impeach-
ment contra Donald Trump.

Amy Klobuchar
Senadora
É a primeira mu-
lher a ser eleita se-
nadora de Minnesota e uma
das 17 dos EUA.

Mario Vargas Llosa


O exemplo uruguaio
no combate ao

coronavírus. Pág. 11


Beatriz Bulla
CORRESPONDENTE / WASHINGTON


Ao menos 100 mil pessoas se
concentraram em frente à Ca-
sa Branca ontem, em
Washington, para o maior
ato de protesto contra o as-
sassinato de um homem ne-
gro por um policial branco,
ocorrido no final do mês pas-
sado nos Estados Unidos.
Apesar das contínuas amea-
ças do presidente Donald
Trump de usar as Forças Ar-
madas para coibir manifes-
tantes, as forças de seguran-
ça estavam reduzidas na capi-
tal americana.
No décimo segundo dia de ma-
nifestações, os protestos aconte-
ceram em diversas cidades ame-
ricanas. Segundo organizado-
res, ao menos um milhão de pes-
soas se reuniram em Washing-
ton, Nova York, Atlanta, Hous-
ton, Los Angeles, Minneapolis,
Nova Orleans em manifesta-
ções quase sempre pacíficas.
Os EUA vivem há quase duas
semanas protestos espalhados
por mais de 140 cidades que pe-
dem o fim do racismo sistêmico


no tratamento dispensado pela
polícia aos americanos negros.
O estopim da agitação civil foi a
morte do ex-segurança George
Floyd, um homem negro de 46
anos, após um policial branco
segurar seu pescoço com o joe-
lho contra o chão.
Mais de 12 dias depois, a pauta
dos protestos se mantém fiel à le-
vada às ruas desde a morte de
Floyd: justiça, responsabilização
dos envolvidos e fim do racismo
dentro da polícia. As pessoas ne-
gras são 13% da população ameri-
cana, mas mais de 30% dos mor-
tos pela polícia. Cada dia mais os
protestos se tornam também con-
tra Donald Trump. “Hoje nós pro-
testamos, amanhã nós votamos”,
diz um dos motes visto com fre-
quência nas faixas de manifestan-
tes em frente à Casa Branca.
Nos pronunciamentos feitos
até agora, Trump não indicou co-
mo pretende abordar o problema
do racismo na polícia e concen-
trou sua energia apenas na repres-
são aos manifestantes, a quem
chegou a chamar de “bandidos”.
A maior parte dos americanos
apoia os protestos. Em uma pes-
quisa conduzida pela Monmou-

th University, que fica em New
Jersey, 57% dos consultados afir-
mou que, independentemente
das ações envolvidas, a raiva dos
que vão às ruas protestar é com-
pletamente justificável, enquan-
to 21% acreditam que é parcial-
mente justificável e 18% afir-
mam que não é justificável.
A morte violenta de um cida-
dão negro nos EUA após aborda-
gem feita por policiais brancos
é uma história que vem se repe-
tindo no país e já causou protes-
tos similares. Desta vez, um ví-
deo que deixa claro a brutalida-
de da ação e o pano de fundo
social e econômico de um país
em recessão e com mais de 100
mil mortos pelo coronavírus co-
laboraram para que a manifesta-
ção ganhasse ares históricos,
comparada aos protestos de
1968, depois da morte de Mar-
tin Luther King.
Ainda não está claro, no en-
tanto, o quanto os protestos po-
dem ameaçar a reeleição de
Trump ou beneficiar o candida-
to democrata à presidência, Joe
Biden. O discurso de lei e de or-
dem de Trump tem apelo entre
a base eleitoral do republicano,

mas integrantes do próprio par-
tido criticaram o uso de bom-
bas de efeito moral e gás lacri-
mogêneo para retirar manifes-
tantes pacíficos da praça em
frente à Casa Branca.
“Este é um daqueles raros mo-
mentos de incerteza em que é
possível que o muro de apoio re-
publicano a Trump finalmente
desmorone. Ainda é improvável
que isso aconteça, mas como já
escrevi antes, se acontecer,
acontecerá repentinamente”,
escreveu Lee Drutman, autor
do livro Breaking the Two-Party
Doom Loop: The Case for Multi-
party Democracy in America, ao
site FiveThirtyEight, que agrega
análises e pesquisas políticas.

Os senadores republicanos
enfrentam um desafio em no-
vembro: manter a maioria da Ca-
sa. Conforme as críticas a
Trump escalam fora do Congres-
so, o apoio ao presidente dentro
do Senado entre os que dispu-
tam a reeleição pode ficar abala-
do, segundo Drutman. Do outro
lado, Biden parece a aposta au-
tomática do eleitorado negro,
mas não a figura capaz de capita-
lizar a força dos protestos.
Nas ruas, a imensa maioria
das manifestações é formada
por jovens. Durante as primá-
rias democratas, foram os eleito-
res negros e mais velhos que pre-
feriram Biden, enquanto a juven-
tude votou em Bernie Sanders.
Savannah, que não quis dar o
sobrenome, tem 18 anos e deci-
diu se registrar para votar na se-
mana passada, depois de partici-
par de protestos em Richmond,
Virginia. Ontem, ela segurava
um cartaz com a foto de Trump
com a bíblia nas mãos em frente
à igreja que tem sido ponto de
encontro para manifestantes.
Ao lado da foto do presidente, a
palavra “racista” estava escrita
várias vezes. Ela diz que Biden é

“o menos pior” e diz que vai vo-
tar em novembro para retirar
Trump da Casa Branca.
Ex-vice do governo Barack
Obama, Biden herdou o capital
político de pertencer ao primei-
ro governo de um presidente ne-
gro nos Estados Unidos e conta
com apoio majoritário do eleito-
rado negro no país. A dificulda-
de do democrata é energizar os
eleitores negros a votar no pata-
mar que fizeram com Obama, o
que poderia devolver aos demo-
cratas Estados-chave para ven-
cer o Colégio Eleitoral. Como o
voto não é obrigatório, muitos
eleitores democratas não saí-
ram de casa para votar em Hil-
lary Clinton em 2017.
O típico democrata jovem
tende a ser mais progressista e
resistente aos nomes do esta-
blishment do partido. Uma pes-
quisa YouGov/HuffPost condu-
zida no ano passado apontou
que, apesar da popularidade ge-
neralizada do governo Obama
entre eleitores, 42% dos demo-
cratas entre 18 e 29 anos dese-
jam que o próximo candidato se-
ja mais progressista do que foi o
presidente.

Manifestações. Apesar de ameaças, Donald Trump tira Guarda Nacional das ruas no maior ato na capital do país desde o início dos


protestos por causa da morte de George Floyd; um milhão de pessoas participaram de passeatas contra o racismo nos Estados Unidos


WASHINGTON


Os protestos antirracismo nos
EUA aumentaram a pressão pa-
ra que Joe Biden, escolhido on-
tem como candidato democra-
ta à presidência, escolha uma ne-
gra para compor a chapa. Em
março, ele já havia anunciado


que sua vice seria uma mulher.
“Precisamos de uma chapa que
represente a diversidade. E pre-
cisamos também marchar para
as urnas”, disse Stacey Abrams,
uma das cotadas.
Stacey perdeu por pouco a
eleição para o governo da Geor-
gia em 2018, quando teria sido a
primeira negra a comandar o Es-
tado. O nome dela tem dividido
as apostas com o da senadora
Kamala Harris, que disputou as
primárias do partido, com a de-
putada Val Deming, e com a pre-
feita de Atlanta, Keisha Bot-
toms, todas negras.

Kamala foi procuradora na
Califórnia. Parte da resistência
ao seu nome é em razão do his-
tórico na condução de casos cri-
minais, o que desagrada a ala
mais progressista do partido.
Ao mesmo tempo, a senadora é
apontada como alguém capaz
de também defender o discurso
de lei e ordem em Estados mais
conservadores.
O histórico beneficia tam-
bém Val Deming, que já foi che-
fe da polícia de Orlando, na
Flórida. Em artigo ao Washing-
ton Post, após a morte de Floyd,
ela defendeu uma ação proativa

da polícia em busca de refor-
mas para mitigar o racismo.
Já Keisha Bottoms aparecia
no final das listas de candidatas
a vice, mas foi a que mais ganhou
força desde a morte de Floyd.
Em discurso comovente, ela afir-
mou que o caso a faz sofrer “co-
mo mãe”. “Sou mãe de quatro
crianças negras nos EUA, uma
delas de 18 anos”, disse. “On-
tem, quando ouvi que havia pro-
testos violentos em Atlanta, fiz
o que uma mãe faria. Liguei para
o meu filho e falei: ‘Cadê você?’.”
Um dilema dos democratas é
que os protestos antirracismo

são maiores em Estados já iden-
tificados com o partido, como
Califórnia, Nova York e
Washington. Por isso, Biden tal-
vez escolha uma vice capaz de
atrair o voto de operários bran-

cos do Meio-Oeste, como a se-
nadora Amy Klobuchar. Eleita
por Minnesota, Estado onde
Floyd foi morto, ela era o nome
mais conservador nas primá-
rias e foi uma das primeiras a
anunciar apoio a Biden.
Desde a década de 70, os presi-
denciáveis deixam o anúncio do
vice para os dias que antecedem
as convenções partidárias. Em
2016, Hillary Clinton e Donald
Trump anunciaram três dias an-
tes. Barack Obama revelou o no-
me de Biden, seu vice, dois dias an-
tes do evento, em 2008. Desta vez,
Biden prometeu divulgar o nome
do vice-presidente no dia 1.° de
agosto – duas semanas antes da
convenção democrata, que come-
ça no dia 17, em Milwaukee. / B.B.

AS FAVORITAS PARA O CARGO


Com segurança reduzida, milhares


protestam em frente à Casa Branca


lIncerteza

lMovimento

DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES

“Este é um daqueles raros
momentos de incerteza em
que é possível que o muro de
apoio republicano a Trump
desmorone. É improvável
que aconteça, mas se
acontecer, será de repente”
Lee Drutman
ANALISTA POLÍTICO

Histórico. Milhares protestam contra o racismo na principal avenida de Washington; Manifestações em várias cidades dos Estados Unidos chegaram ao décimo segundo dia ontem


“Precisamos de uma
chapa que represente a
diversidade. E precisamos
também agora marchar
para as urnas”
Stacey Abrams
DEPUTADA NA GEORGIA

Atos pressionam Biden para nomear uma negra como vice


Democrata já disse que


escolherá uma mulher;


entre as favoritas estão


senadora da Califórnia


e prefeita de Atlanta

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