História em Foco Especial - Edição 13 (2018)

(Antfer) #1

Evangelho de Tomé
Assim como outros apócrifos, o evangelho de Tomé
(o apóstolo) foi descoberto em 1945. Escrito em copta,
o texto é uma lista de 114 frases atribuídas a Jesus, mui-
to semelhantes às passagens citadas nos evangelhos
canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João.
Diferente dos outros evangelhos, Tomé não utili-
za a narrativa para descrever os detalhes sobre Jesus,
apenas cita frases, ditos e diálogos do messias a seus
discípulos. Dessa forma, as frases não estão dentro de
contextos, sendo mais difícil de interpretá-las.
Uma das citações mais polêmicas do evangelho é
sobre uma possível fala de Jesus a respeito do papel
da mulher no reino dos céus. “Simão Pedro disse-lhes:
‘Que Maria saia de nosso meio, pois as mulheres não
são dignas da vida’. Jesus disse: ‘Eu mesmo vou guiá-la
para torná-la macho, para que ela também possa tor-
nar-se um espírito vivo semelhante a vós, machos. Por-
que toda mulher que se tornar macho entrará no Reino
do Céu’”. Muitos estudiosos condenaram a frase como
machista e preconceituosa para com as mulheres, algo
totalmente contraditório ao que Jesus pregava.


Apócrifo de João
Considerado por muitos como o mais impor-
tante dos textos encontrados em Nag Hammadi, o
Apócrifo de João (conhecido também como O Livro
Secreto de João) tem um grande valor para aqueles
que estudam as questões teológicas sem as amar-
ras dogmáticas da Igreja Católica.
Pelo trecho a seguir, é fácil perceber porque foi ba-
nido, já que contradiz o relato dos evangelhos canôni-
cos sobre a ressurreição. “E quando ele estava pendu-
rado sobre a cruz na sexta-feira, na sexta hora do dia,
veio uma escuridão sobre toda a terra. E meu Senhor
ficou no meio da caverna, iluminando-a disse: ‘João,
para o povo lá em baixo em Jerusalém, Eu estou sen-
do crucificado e perpassado com lanças e espinhos, e
estão me dando vinagre e bílis para beber. Mas para
você Eu estou falando, escutai o que Eu digo. Eu colo-
quei em tua mente para vires a esta montanha para
que possais ouvir o que um discípulo deve aprender
de seu mestre e homem de Deus’. E quando Ele disse
isto, mostrou-me uma cruz de luz firmemente fixa, e
em volta da cruz uma grande multidão, que não tinha
nenhuma forma definida, e na cruz estava uma outra
forma, com a mesma aparência”.


Nag Hammadi


Após a decisão de banir os evangelhos apócrifos,
monges – especula-se que pertencentes ao
Monastério de São Pacômio – se encarregaram
de ocultar os livros proibidos em jarros de barro,
levando-os para o penhasco Djebel El-Tarif. Ali,
permaneceram por mais de 1.500 anos, próximos
à cidade de Nag Hammadi, na região do Alto
Egito, até serem descobertos por um camponês.
Foram encontrados 13 códices de papiros
escritos em copta que apenas tiveram seu
conteúdo reunido em 1966, com a realização
do Congresso de Messina na Itália. A partir daí,
os textos foram traduzidos para o inglês e, em
1977, a tradução foi publicada pelo professor de
religião James M. Robinson sob o título de The
Nag Hammadi Library in English ( A Biblioteca de
Nag Hammadi em Inglês ).
Na visão do pós-graduado em teologia Reinaldo
José Barroso, “esses textos apresentam Jesus a
partir da perspectiva de um movimento sectário
chamado ‘Gnoticismo’. São escritos posteriores
aos evangelhos de Marcos,
Mateus e Lucas. Não trazem
nenhum dado confiável
que possa completar as
informações dos evangelhos
atuais”. Contudo, “eles
são úteis para reconstruir
as crenças populares
do Judaísmo na época
Neotestamentária e para
identificar certas correntes
heréticas obscuras da
igreja primitiva”, destaca
Barroso.
Apócrifo do Evangelho de
Tomé com 114 frases de
autoria de Jesus

CONSULTORIAS
João Júnior, professor de filosofia do Colégio Franciscano Regina Pacis em
Sete Lagoas (MG);
Reinaldo José Barroso de Resende, administrador de empresas e pós-
graduado em teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE).

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