História em Foco Especial - Edição 13 (2018)

(Antfer) #1

Pena de morte
A pena de morte já foi um fato e não um assunto
discutido como acontece hoje. Apesar da contradi-
ção – já que no sexto mandamento é dito “Não ma-
tarás” – a pena de morte é aplicada, principalmente
para crimes muito graves como o assassinato, e é
decidida por cada governo.
O professor Luciano lembra que a Bíblia não
dá uma resposta definitiva sobre a pena de mor-
te, mas aquele que atentasse contra a vida e a
integridade de outra pessoa ou servisse a outros
deuses merecia pena de morte. Isto devia servir
como exemplo para os outros, para manter a pu-
reza do povo. Já no Novo Testamento, quem de-
cidia se a pena de morte seria aplicada ou não
era o governo romano.  “A lei dos judeus não era
considerada pela legislação romana. O governa-
dor Pilatos admitiu que Jesus não tinha feito nada
que merecia morte, mas mandou executá-lo”, co-
menta Santos. Isso provavelmente indica que os
romanos tinham orientações sobre a aplicação
da pena de morte, porém não eram regras defi-
nitivas. Se uma pessoa fosse um cidadão romano,
podia apelar em última instância a César, que de-
cidiria se devia morrer ou não.


Tráfico de pessoas
Deus aceitaria escravizar outras pessoas e uti-
lizá-las como moeda de troca? Alguns trechos, so-
bretudo no livro de Êxodo, sugerem que Deus não
criticava esse costume, mas o professor Luciano
ressalta que, no contexto histórico, social e políti-
co no qual o povo da Bíblia surgiu, a compra e a
venda de pessoas, para fins escravagistas, era um
fenômeno arraigado à estrutura social e econômica
do Antigo Oriente e do mundo greco-romano. “Por
exemplo, o guerreiro vencido se tornava proprieda-
de do vencedor que podia matá-lo, escravizá-lo ou
vendê-lo. A escravidão como sistema em que o es-
cravo passa a ser considerado como mercadoria foi
desenvolvida no Antigo Oriente, quando a agricul-
tura alcançou um estágio avançado de produção”,
comenta o estudioso.


A Bíblia foi escrita num contexto que a escra-
vidão era tratada com aceitação social. O relato
do patriarca Jacó que nos oferece duas situações
pode servir como exemplo: a primeira descre-
ve que suas duas esposas, Raquel e Léa, foram
compradas de seu sogro Labão. A segunda, mais
conhecida, apresenta José, seu filho mais novo,
que foi negociado por comerciantes madianitas
por vinte ciclos após ter sido abandonado pelos
irmãos numa cisterna vazia.

Sexualidade e corpo
Como Deus criou o homem e a mulher e os escri-
tos bíblicos reafirmam que um foi feito para o ou-
tro – para que tenham vontade um pelo outro – é
comum falar sobre o assunto, já que o texto só con-
templa esse tipo de relacionamento. Mas a profes-
sora Clélia Peretti ressalta que os comportamentos
sexuais concretos não são objetos de preocupação
dos Evangelhos, mas, sim, as estruturas básicas por
meios das quais a sexualidade se desenvolve e pro-
duz: a família sacralizada; o pai como símbolo de
opressão e a marginalização da mulher.
Quanto à relação que o indivíduo tem com o
próprio corpo, a Bíblia defende que o corpo per-
tence a Deus, mas que no sentido físico pertence
à esposa ou ao esposo. Condenando a prostitui-
ção, o livro aponta que tenha cada homem sua
própria mulher, enquanto cada mulher tenha seu
próprio marido.
Sobre a homossexualidade, alguns livros tra-
zem trechos que condenam e tratam do assunto
como um pecado que afastaria o indivíduo de
Deus. No livro dos Romanos, é mencionado que
aqueles que forem contrários à natureza e deixa-
rem o uso natural da mulher, seriam submetidos a
um sentimento perverso. Para Clélia, “Jesus nunca
se apresentou como inimigo do corpo, pregando
sacrifícios e privações. Não foi um asceta, nem um
essênio, ao contrário, gostava tanto das compa-
nhias humanas que foi acusado de comilão e be-
berrão”, finaliza a professora.

POLÊMICAS

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