História em Foco Especial - Edição 13 (2018)

(Antfer) #1

Q


uais os nomes dos três reis magos que
visitaram Jesus ao nascer? E os dos pais
de Maria? Nem todos sabem as respos-
tas, no entanto, o importante aqui é des-
tacar que essas informações não estão presentes
na Bíblia, mas são conhecidas na cultura popular
e vêm de evangelhos apócrifos (termo de origem
grega que significa “oculto”, “escondido”), escritos
durante os primeiros séculos do Cristianismo e não
inclusos no livro sagrado para os cristãos.
“Os apócrifos tiveram ação na misericórdia po-
pular e em várias obras artísticas. São obras reli-
giosas centradas no messias prometido que foram
recusadas pelos cristãos dos primeiros séculos e
que não se depararam na relação dos livros da Bí-
blia. Dessa forma, os apócrifos não foram aceitos
porque eram visualizados como pouco leais, já que
foram escritos em uma época em que os Apóstolos
e todos os observadores dos fatos ligados à vida e
morte de Jesus Cristo já haviam sumido”, explica o
professor de filosofia João Júnior.


A escolha
Os evangelhos apócrifos foram discutidos no
Primeiro Concílio de Niceia, realizado entre 20 e 25
de julho de 325, na cidade de Niceia (atual Turquia).
O evento havia sido convocado pelo imperador
romano Constantino, que havia se convertido ao
Cristianismo e tornado a religião lícita em 314. Na
ocasião, 300 bispos de diversas regiões participa-
ram e decidiram pela adoção da doutrina da Divina
Trindade – unidade entre Pai, Filho e Espírito San-
to, ou seja, Jesus provém da mesma substância que
Deus, representando o Pai que se fez presente en-
tre os seres humanos. O problema era que alguns
evangelhos usados até então e conhecidos pelo
povo contradiziam essa formação, o que fez com
que muitos textos fossem banidos.
Contudo, o cânon bíblico só foi efetivamente es-
tabelecido anos depois. “O primeiro catálogo ofi-
cial das sagradas escrituras conforme o uso cristão
foi promulgado no Concílio Regional de Hipona, na
África do Norte em 393 E.C (Era Cristã). Reiterado
no Concílio de Cartago em 419 E.C, foi confirmado
em 692 pelos orientais e ocidentais no Concílio de
Florença, em 1441. Para os cristãos católicos, o Con-
cílio de Trento promulgou em 1546 oficialmente o


cânon da atual Bíblia Católica”, explica Reinaldo
José Barroso, pós-graduado em teologia.

Diferentes versões
Mesmo assim, integrantes de dentro e fora da
Igreja têm outras explicações para a seleção dos
evangelhos presentes na Bíblia. A primeira versão
conta que, enquanto os bispos estavam em oração,
os textos divinamente inspirados “voaram” sozi-
nhos até o altar. Já a segunda conta que, quando
os papéis foram colocados sobre o altar, os que não
eram de inspiração divina caíram um a um ao chão,
até ficarem os escolhidos. Ou ainda, o Espírito San-
to teria surgido na forma de uma pomba, pousando
no ombro direito de cada bispo e sussurrando quais
seriam os evangelhos a serem escolhidos. Ao final
da seleção, ordenou que os demais textos fossem
destruídos – mas esse não foi o destino de todos.
Assim, restaram os evangelhos apócrifos que
contam momentos da infância, juventude e vida
adulta de Jesus e Maria, além de um lado mais hu-
mano do dito Messias. A seguir, confira o que reve-
lam alguns deles.

Evangelho de Pseudo-Mateus
O nome original do evangelho de Pseudo-Ma-
teus é O Livro sobre a Origem da Bem-aventurada
Maria e da Infância do Salvador. Datado entre os
séculos VIII e IX, relata com detalhes o nascimento
de Maria e a história de seus pais, Ana e Joaquim.
De acordo com o texto, foram casados por 20 anos,
mas não conseguiram ter filhos. Envergonhado
com tal fato, Joaquim exilou-se por cinco meses
deixando sua esposa sozinha em Jerusalém. Duran-
te o período, Ana recebeu a visita de um anjo que
disse: “Não temas, Ana, porque Deus determinou
que tenhas uma gravidez e tua prole será objeto de
admiração por todos os séculos até o fim”.
No mesmo dia, o anjo também apareceu para
Joaquim, em seu exílio. “Sou um anjo de Deus, que
hoje apareci à tua mulher, quando rezava em pran-
to; consolei-a, porque concebeu uma filha de teu
sêmen. E tu deixaste, ignorando-a. Ela viverá no
templo do Senhor e o Espírito Santo repousará so-
bre ela. (...) Por isso, desce dessa montanha e corre
para o lado de tua mulher e a encontrarás grávida,
pois Deus dignou-se suscitar nela um sêmen o qual
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