Clipping Banco Central (2020-07-31)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Política
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Ortellado lembra que o aplicativo está baixado
em 98% dos celulares no país.


Se no YouTube o problema é o incentivo à
polarização que a monetização representa, já
que o formato da rede favorece a opinião e o
número de visualizações dispara com
mensagens radicais, no WhatsApp a chaga é o
sigilo criptografado de mensagens enviadas em
massa.


“O problema para se conseguir uma ação
efetiva no Brasil que limite guerras digitais não
é apenas tecnológico, é político. A sociedade
está polarizada e dividida sobre o tema”,
comenta Ortellado. O professor da USP refere-
se ao projeto de lei em tramitação na Câmara
que permite o armazenamento de metadados
de redes, o que viabiliza a rastreabilidade e a
punição de criminosos digitais no WhatsApp. A
proposta tende a travar na Câmara, e se
passar, seu veto pelo presidente Jair Bolsonaro
é quase certo.


O demônio é um ser de muitas faces nessa
discussão, não só no Brasil, como no mundo.
Na Turquia, Recep Erdogan articula a
aprovação de uma lei que permite a remoção
de conteúdo ofensivo nas redes. É algo
potencialmente lesivo para a liberdade de
expressão. Nos Estados Unidos, Trump
pressiona empresas a diminuírem sua
autorregulação. Abre caminho para um
provável abuso da liberdade de expressão.


A luta pelo poder reciclou o jargão do general
prussiano Clausewitz, aquele que vaticinou ser
a guerra a continuação da política por outros
meios. Dependendo da forma como as redes
forem disciplinadas, os planos de continuidade
de um grupo à frente de um Estado podem ficar
irremediavelmente comprometidos.


Essa característica dificulta que princípios


prevaleçam entre os tomadores de decisão
sobre o tema. Há um retrocesso claro na
democracia quando as regras do jogo para a
competição política deixam de ser consensuais,
o que é o caso brasileiro.

Em meio ao gelo sendo enxugado, o avanço
mais notável para se colocar um mínimo de
civilidade nas redes sociais partiu das próprias
empresas. Ao limitar no começo do ano
passado o reenvio de mensagens e monitorar
as linhas de transmissão, o WhatsApp tornou
um pouco mais complexo e caro seu uso como
ferramenta política. “Antes você fazia um
grande disparo com um só chip. Para atingir
300 mil pessoas era uma questão de horas.
Agora são necessários dias. A democracia
precisava disso”, comentou o marqueteiro
eleitoral André Torreta.

O aperto do torniquete do WhatsApp gerou dois
fenômenos. Um é a comunicação dentro das
próprias bolhas, o chamado viés de
confirmação. As listas de transmissão vão
virando um instrumento para confirmar pontos
de vistas já existentes. O outro é a migração
para novas plataformas.

“Existe uma tendência crescente de uso do
Instagram e do Tik Tok, para fins políticos,
dentro e fora do Brasil. A produção de ‘fake
news’ aumentou e se sofisticou, com o uso de
‘deep fakes’ (imagens e áudios manipulados)”,
observa Mauricio Moura, diretor do Idea Big
Data.

Para Moura, para combater “fake news” a
estratégia do mundo política em vigiar e punir
os comandantes dos exércitos digitais não é
suficiente. “Infelizmente não é possível agir
apenas sobre a oferta. É necessário agir sobre
a demanda, o receptor. Convencê-lo a se
informar com outras fontes. É uma questão da
educação”, comenta, como quem menciona um
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