O Dia (2020-10-15)

(Antfer) #1

PRÓXIMA ESTAÇÃO:


ABANDONO


O DIA foi a três das oito estações do corredor Transoeste que, há dois meses, seriam


revitalizadas, de acordo com a prefeitura e o BRT. Só uma funciona: Mato Alto


O


DIA visitou três
das oito estações do
corredor Transoeste
que, há dois meses, a
Prefeitura do Rio e o consór-
cio BRT prometeram revita-
lizar. Apenas uma funciona:
Mato Alto. Nas demais (Nova
Barra e Riomar), o cenário é
desolador. Tem estação par-
cialmente queimada, servin-
do de moradia para pessoas
em situação de rua, sujeira
para todos os lados e picha-
ções, entre outras avarias. E
pelo visto, o cenário não vai
mudar nem tão cedo.
“Apesar da grave crise que
atravessa, o BRT Rio vem in-
vestindo em reforma e recu-
peração de estações vandali-
zadas e/ou com equipamentos
furtados. Com o fechamento
hoje das estações Olof Palme e
Padre João Cribbin, no corre-
dor Transolímpica, são 34 fora
de operação por causa desses
crimes”, informou em nota o
consórcio BRT. “Por isso, se-
guimos um cronograma de re-
formas, a partir de avaliações
técnico-financeiras. Neste
momento, estamos trabalhan-
do no corredor Transcarioca.
Vila Queiroz será reaberta na
próxima semana e, em segui-
da, será a vez de Vila Kosmos”,
completa, sem detalhar uma
data. Procurada, a Secreta-
ria Municipal de Transportes
(SMTR) não respondeu até o
fechamento da matéria.
O corredor Transoeste
tem 14 estações fechadas por
conta de vandalismo e furtos
de equipamentos: Riomar,
General Olímpio, Cajueiros,
Vendas de Varanda, Embrapa,
Dom Bosco, Recanto das Gar-


ças, Guiomar Novaes, Nova
Barra, Benvindo de Novaes,
Guignard, Gelson Fonseca,
Golfe Olímpico.
A Nova Barra está abando-
nada, sem letreiro e a placa
de “Saída de Emergência” foi
pichada. Os vidros laterais fo-
ram quebrados e em imagens
feitas pela equipe de O DIA é
possível ver uma das portas
estilhaçada em cima do cor-
redor por onde passa o articu-
lado. Além disso, não recebe
manutenção e tem sido usada
por moradores de rua à noi-
te. No caso da Riomar, tam-
bém tem moradores de rua,
pichações, mas com reparo
poderia retornar à atividade.
Já a estação Mato Alto,
que estava na lista de refor-
mas pela concessionária,


A estação Nova Barra não recebe manutenção e tem sido usada por moradores de rua à noite. Há muito lixo espalhado pelo chão

GABRIEL SOBREIRA
[email protected]


segue funcionando. O mo-
vimento de passageiros era
grande, mas sem muita aglo-
meração. Os ônibus passam
no horário e nos intervalos
regulares. A estação não tem
equipamentos depredados
ou quebrados e um funcio-
nário da concessionária fa-
zia pintura de manutenção
na parte externa.
Apesar de não estar na lis-

Na estação Riomar, também tem moradores de rua e pichações

ESTEFAN RADOVICZ / AGÊNCIA O DIA

> Para Guilherme Braga,
quem sofre “é a popula-
ção pobre e suburbana”.
“Aqui é fundamental
ressaltar que falamos de
maioria feminina e ne-
gra. Ou seja, populações
cujos direitos são viola-
dos em diversos momen-
tos e sofrem mais esta
condição”, reforça.
De acordo com ele,
há soluções pontuais que
amenizam o problema,
mas não o resolvem. Ma-
nutenção do pavimento
para garantir regularida-
de na operação, manu-
tenção nos veículos, es-
pecialmente no ar condi-
cionado, fiscalização de
intervalos, garantia de
operação da frota deter-
minada são apontados
pelo especialista.
“No entanto, o fluxo
pendular, que é mais re-
forçado no Transoeste,
só se resolve com a distri-
buição dos empregos. É
preciso criar mais vagas
em Campo Grande, San-
ta Cruz. Nenhum siste-
ma é capaz de lidar com
a tarefa do Transoeste,
transportando milha-
res de ponta a outra nos
horários de pico, sem de-
manda distribuída”, diz.

Suburbanos e


pobres são os


que sofrem


A Nova Barra está
abandonada,
sem letreiro e a
placa de “Saída de
Emergência” foi
pichada

Colaborou Luisa Bertola (estagiária)

ta das estações que seriam
revitalizadas, a estação Gel-
son Fonseca inspira cuida-
dos. Parcialmente queimada
próximo à área da cabine de
cobrança, o local está com vá-
rios largados no chão. “São da
própria estação Gelson Fon-
seca, deteriorados após o in-
cêndio”, explica o consórcio.

GRANDE ENGRENAGEM

N (^) O pesquisador Guilherme
Braga da Casa Fluminense, que
faz doutorado em Geografia na
UERJ, ao estudar o transporte
público na Zona Oeste carioca
explica que, de maneira geral, o
mesmo raciocínio usado para a
região - com propostas de dis-
tribuição das oportunidades de
emprego, por exemplo -, vale
também para a Região Metro-
politana do Rio como um todo.
Segundo o especialista, a
solução da mobilidade na ci-
dade do Rio de Janeiro está
na compreensão de que o
transporte não é tudo, mas sim
um elemento em uma grande e
complexa engrenagem.
“Precisamos de soluções
que entendam o papel da dis-
tribuição de empregos nos ter-
ritórios, habitações populares
nos centros, equipamentos de
cultura e lazer nas periferias.
Ou seja, reduzir a necessidade
de deslocamentos e reduzir as
distâncias”, defende ele.
“Tudo isso é necessário para
assegurar os padrões mínimos
de qualidade”, aponta como
saída o pesquisador.
Problemas em várias regiões
Precisamos de soluções que entendam a
distribuição de empregos, habitações nos
centros, cultura e lazer nas periferias
GUILHERME BRAGA, pesquisador
Seguimos
cronograma de
reformas, a partir
de avaliações
técnico-financeiras.
Trabalhamos no
corredor Transcarioca
CONSÓRCIO BRT
4 RIO DE JANEIRO QUINTA-FEIRA, 15. 10. 2020 I O DIA

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