Macro
- EXAME. NOVEMBRO 2020
Conhece empresas que o façam?
Há todo o tipo de empresas no mercado,
como agências de detetives. Mas isso não
é inteligência competitiva, que deve ser
uma garantia para as empresas de que es-
tão a fazer a coisa bem feita, sem entrar
em riscos éticos ou legais.
No entanto, eu, o Luís ou o Marcos [Bor-
ga, fotojornalista da EXAME], enquanto
cidadãos e consumidores, não podemos
excluir-nos desse universo que empre-
sas como a sua analisam... Se eu quises-
se dizer que, a partir de hoje, o Luís não
utiliza qualquer informação minha, não
conseguia fazê-lo.
Sim, não pode. Mas tem o direito de não
partilhar, de não pôr nada em ambiente
público que não queira partilhar. E isso
aplica-se a tudo.
E as pessoas têm noção disso?
Não, não. Nenhuma. As pessoas não per-
cebem que são o produto.
É uma inteligência sobre concorrência,
mercado, concorrentes e clientes reser-
vada só a entidades com fins lucrativos.
Não, já fizemos a inteligência competitiva
para uma associação [APCE - Associação
Portuguesa de Comunicação Empresarial]
definir a sua estratégia como organização.
Mas por uma organização não ser lucra-
tiva não quer dizer que não procure o lu-
cro se não o tiver, desaparece. Inteligência
competitiva é o desenvolvimento de in-
sights acionáveis sobre o ambiente com-
petitivo (desde fatores políticos, legais,
clientes, consumidores, concorrentes) que
nos permitam melhorar a performance
das empresas. Não é a lógica da concor-
rência, do “eu sou melhor que o outro”,
mas sim como é que eu faço o shaping da
minha indústria.
Imagine que tenho um pequeno negócio
aqui na Baixa de Lisboa, que deixou de
correr bem nos últimos três meses. Onde
é que me posiciono, com quem falo? É
que, se calhar, este é um serviço que não
é acessível a todos...
Todos fazemos inteligência competitiva.
Se eu for falar com o responsável desse
negócio, vou estruturar com a minha fra-
mework aquilo que ele tem e o que ele
TRINTA ANOS MAIS À FRENTE
As transformações tecnológicas vão permitir acelerar
a análise de dados e a obtenção de conclusões nas próximas
décadas. Mas ainda não chegaremos ao momento em que
a máquina será um ser pensante e com emoções
A disciplina vem dos
anos 30 do século pas-
sado, só se tornou sexy
nas décadas de 1980
e 1990, altura em que
teve um boom e era uti-
lizada, por exemplo, em
business wargames –
simulação de jogadas e
de contra-ataques em
ambiente empresarial,
como se estivesse num
campo de batalha. De-
pois de uns anos 2010
marcados pelo data
science, “uma versão
básica de competitive
intelligence” nas pala-
vras de Luís Madureira,
o consultor antecipou,
em setembro, numa
apresentação na
cimeira Council of
Competitive Intelligen-
ce Fellows, a sua visão
de qual será a evolução
da inteligência com-
petitiva até à década
de 2050. Mas esta é,
salvaguarda, uma visão
“otimista” em relação
ao momento em que
cada transformação
deverá acontecer. Não
sendo uma previsão, é
um foresight, sustenta.
> DÉCADA 2020
REAL TIME
Necessidade de inte-
ligência competitiva
em tempo real, através
de processos como
Inteligência Artificial,
machine learning e
deep learning, que vão
entrar no mainstream
da tecnologia usada
pelos profissionais de
competitive intelligence
- sobretudo depois de
os hábitos dos consu-
midores se terem alte-
rado de forma drástica
durante a pandemia:
“Se não tivermos inteli-
gência competitiva em
tempo real, com o que
está a passar-se agora,
ficamos às escuras”,
reflete o especialista,
que desenvolveu, neste
âmbito, há quase dez
anos, o processo Social
Market Intelligence
(SMINT).
> DÉCADA 2030
HUMANCENTERED
COMPETITIVE
ARTIFICIAL
INTELLIGENCE
Baseada não apenas
nos métodos tradicio-
nais e de lógica, huma-
nos, mas integrando
a máquina no proces-
so, com uma maior
sintonia e inteligência
aumentada. O humano
trabalha os outputs da
máquina, entrega-lhos
de volta, respondendo
àquilo que ela ainda
não consegue (o como
e o porquê). A automa-
tização de partes do
processo contribui para
um melhor trabalho na
seleção e “limpeza” da
informação, escala a
intelligence e permite
acelerar a velocidade
para uma tomada de
decisão. “Numa lógica
de aumento: 1+1=3. Ou
seja, o resultado da
colaboração de homem
e máquina é superior à
soma dos dois”, explica
Luís Madureira.
> DÉCADA 2040
SOCIAL
INTELLIGENCE
Antevê-se uma era
mais colaborativa e de
foresight. Cada vez será
menos o humano e a
máquina a operarem
isolados para serem
humano e máquina
a trabalhar em rede
com outros humanos e
máquinas, com outras
empresas e parceiros.
Será um exercício mais
focado em perspetivar
o que irá acontecer a
seguir.
> DÉCADA 2050
SINGULARITY
Numa altura em que
a máquina terá a
mesma capacidade
de processamento do
ser humano, a era será
de simbiose. Em vez
de foresight, procu-
rar-se-á o forecast,
a previsão com erro
mínimo. Com todas as
capacidades tecno-
lógicas ao serviço
do processo, será
possível validar
mais variáveis
e prever com
maior exa-
tidão.