Exame - Portugal - Edição 439 (2020-11)

(Antfer) #1
Com as técnicas e a informação a que se
tem acesso, a tentação é pensar que nun-
ca se engana e raramente tem dúvidas.
Tem sempre dúvidas. Nesta área, quem não
tem dúvidas não é um bom profissional.
Tenho de estar sempre à procura do cisne
negro, de algo que negue o meu conceito.
O profissional de inteligência competiti-
va é um bicho muito raro, é como se fos-
se uma ovelha que põe ovos, tem de fazer
tudo: ser psicólogo, perceber o usuário, o
consumidor, [ser] um ótimo comunicador,
fazer gráficos maravilhosos, escrever mara-
vilhosamente bem e ser um data scientist.

E nunca se engana?
Enganamo-nos sempre. Quando fazemos
foresight, a regra seria enganarmo-nos. Os
pressupostos são alterados até ao momento
em que se tenta prever. Só quero estar 80%
certo: assim já sei qual a direção e vou estar
preparado para ela. Tenho de ter o melhor
e o pior cenários: o Graal sagrado é gerir
no futuro. E

sabe para que, do outro lado, saiam os
insights. Mas ele já tem os dados quase
todos. Pode usar sistemas como o Goo-
gle Alerts, o Google Trends, que são fer-
ramentas grátis. Qualquer empresa pode
fazer isto com um custo mínimo.


Mas há de haver alguma vantagem em
contratar um consultor e não fazer as
coisas por casa. Quão caro fica?
O insight há de ser melhor, porque essa
pessoa é um especialista. O preço depen-
de muito do âmbito, mas vai de umas cen-
tenas a mais de um milhão de euros.


Nos últimos dois, três anos, fenómenos
como a guerra comercial EUA-China e,
agora, a pandemia exigiram mais da in-
teligência competitiva? As empresas re-
correram mais por causa disso?
Quando há uma crise é que as pessoas se
lembram de que precisam de inteligência
competitiva. Infelizmente, chamam-nos
quando existe um problema, não para


crescer mas para resolver o problema, o
que é superingrato. Na pandemia as em-
presas ainda estão no momento da rea-
ção, que é o que não deviam fazer. Têm
de reagir no imediato, navegar à vista
no presente e preparar-se para o futuro.
São três oportunidades para que o negó-
cio corra muito mal. Acho que ninguém
está a fazer esta análise. O cliente está a
pensar para o agora, e isso não é bom.
Todos deviam estar a fazer planeamento
de cenários.

Como se usam estas ferramentas para
resolver flagelos como as alterações cli-
máticas e as desigualdades? As empresas
pedem-lhe isso?
Há muito potencial, mas não pedem. Só
vão pedir quando lhes entrar no bolso à
séria, quando tiverem um problema de
reputação social. Mas nós [consumido-
res] não somos melhores: dizemos que
preferimos produtos orgânicos, mas de-
pois escolhemos o preço mais barato.

Não há fontes
não éticas.
O que pode
haver é uma
utilização
não ética
do meio”
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