Dossiê Superinteressante - Edição 398-A (2019-01)

(Antfer) #1
Na primeira vez que viu o mar, Olau-
dah Equiano também avistou um navio
negreiro ancorado à sua espera, na cos-
ta da Guiné, área ocidental da África.
Nascido em 1745, em Eboe, no atal
território da Nigéria, Olaudah tnha 11
anos quando foi raptado de casa para
ser vendido como escravo. Não era o
único: ente 1501 e 1870, mais de 12,5 milhões de pessoas
foram arrancadas do contnente africano para tabalhar for-
çadamente no outo lado do Oceano Atlântco. O comércio de
escravos negros já exista muito antes dos europeus pisarem
na América, mas foi a descoberta de novas terras que alçou

o táfco negreiro a um patamar inimaginável e tansformou
a África (e o mundo) para sempre.
Uma vez rendidos, homens, mulheres e crianças eram leva-
dos em marcha forçada até o litoral, onde eram embarcados nos
navios negreiros. Equiano cruzou o Atlântco junto a negros
originários de diferentes povos, amontoados e acorrentados
no interior da embarcação. Temeu a fgura do homem branco,
que até então nem conhecia, sobretdo depois de ter sido
açoitado por não comer, e viu companheiros serem castgados
e mortos por tafcantes. Muitos deles tentaram pular no mar
em busca de alívio com a própria morte. No século 16, a ta-
vessia podia levar meses, a depender das condições climátcas,
mas, na metade do século seguinte, quando Olaudah esteve

Higiene
Para a higiene bucal,
os escravos faziam
bochechos com
vinagre. Para limpar
o corpo, só podiam se
enxaguar duas vezes
durante toda a viagem.
Muitos padeciam
de graves infecções
oculares e intestinais,
e os que não
morriam chegavam
moribundos ou cegos.

As condições
O chão em que
fcavam era grotesco:
coberto de sangue,
suor e outros fuidos
corporais.
As necessidades eram
feitas em baldes ou
em cabines no convés.
Mas nem sempre
essas estratégias
funcionavam.
O cheiro de urina
e fezes era sentido
de longe por quem
esperava no porto.

TrATAmenTo
Um cativo morto era prejuízo
na certa. Para prevenir isso,
os membros da tripulação
obrigavam os negros a dançar
no convés para se exercitar,
além de levarem cirurgiões
a bordo a partir de 1750 – a
preocupação, claro, era com o
lucro e não com os escravos.

BAndeirA
Autorizada por acordos com outras
nações, na luta contra o tráfco, a
Inglaterra seguia e vistoriava navios
suspeitos em alto-mar. Como os
Estados Unidos não permitiam
essa vistoria, barcos negreiros
de várias nações hasteavam a
bandeira americana para passar
por baixo do nariz dos ingleses.

AlimenTAção
Era composta principalmente de
arroz, milho, feijão, carne seca e
farinha de mandioca. Era servida
em baldes onde dez homens
tinham de comer juntos, o
que provocava inúmeras brigas
e infecções alimentares.

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