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opinião
Terça-Feira,3DeMarçoDe 2020 A
erramos
erramos@grupofolha.com.br
Bolsafamília
Excelenteoeditorial “Pobres na
fila”(Opinião, 1 °/ 3 ), sobreoBolsa
Família. Enquantoogovernocri-
ou uma fila de um milhão decan-
didatos ao benefício, querepresen-
ta 0 , 45 %doProduto Interno Bru-
to —míserosR$ 190 porfamília—,
opresidentecedeaocorporativis-
mo militar,destinandoverbas para
aconstrução de navios deguerra.
FranciscoStanguini
(São Caetano do Sul,SP)
*
Esseeditorial mexeunas entranhas
de minha alma.Não pensei queBol-
sonaro, aquem dei meuvoto, fos-
se tãocrueleinsensível.Depoisde
dar R$ 10 bilhõesàuma estatalli-
gadaàMarinha, quer tirar R$ 2 bi-
lhões dos miseráveis.Nãosecon-
dói de saber que por suacausa há
um milhão defamintos na fila para
ganhar em média menos de R$ 200.
Essapequenacontribuição, ridí-
cula secomparada ao queédado
asetores empresariais,fazas cri-
anças não abandonaremaescola,
amenizaamisériaemovimentao
comércio local. Estoumuitoarre-
pendida porter- lhe dado meuvoto.
ÂngelaMariaBedeschiFaria
(BeloHorizonte,MG)
Congresso
ReportagemdaFolhamostraque
os três últimosgovernos perde-
ramoprotagonismoparaoCon-
gresso (“Fragilidade de Dilma,Te-
mereBolsonarolevaCongresso
apapel de protagonismo”,Poder,
1 ° 3 ).Talvez, porcoincidência, is-
so tenha ocorridodepoisdos gran-
des escândalos, algunsatédenun-
ciados pelaFolha,comofoiocaso
do mensalão.
MarcosdeLucaRothen(Goiânia,Go)
*
Omaior protagonismodoCongres-
sotemaver,sim,comafragilida-
dede Dilma,TemereBolsonaro.
Mastemaver tambémcomafal-
ta de qualificação de pessoasque
representamogoverno,oque im-
pede um trânsitomaisequânime
no Congresso. Eessa discussão or-
çamentária nãoatendeoandar de
baixo. Éuma cisão palaciana.Ven-
çaAouB,asclassesC,DeEfica-
rãoapenasassistindo.
ArlindoCarneiroNeto(São Paulo,SP)
PMsnoCeará
Sergio Moro, ministrodaJustiça,
foiaoCeará dar apoio moralapo-
liciais amotinados.Ogestopede
providênciaslegais.Oex-juiz está
ofertando,denovo, motivos sufi-
cientes paranovopedido de sus-
peição,destavezcomo membro
do Executivo. Nãosepodeper-
mitir queumministrode Estado
flerte comamotinados.Oproble-
ma nãoéeles desejarem um auto-
golpe (alguma dúvida de que de-
sejam?),masacondescendência
das instituições.
HumbertoMiranda(Campinas,SP)
*
Essespoliciais milicianizados são
curraleleitoral deBolsonaro. Isso
explicamuitacoisa.
VictorMedeiros(rio de Janeiro, rJ)
MônicaBergamo
Nãoacreditoqueacoluna “Môni-
caBergamo” não tinha ninguém
mais interessantedoque essa se-
nhora AntoniaFontenelle paraen-
trevistar no domingo(“Bolsonaro
éumcaraque choraese senteso-
zinho”).Nuncahavia ouvidofalar
dela —nemprecisava.
TerezaRodrigues(São Paulo,SP)
Inspiração chavista
Muitobemcolocadaaopinião de
Demétrio Magnoli no artigo“Com
fórmula ‘Povo eExército’,Bolsona-
ro inspira-se no chavismo paraen-
saiar rupturainstitucional” (Poder,
29 / 2 ).Temeráriaainércia do Con-
gressoedoSTF.
PatríciaPettinelli
(Bragança Paulista, SP)
Juros, câmbio etc.
Parabéns ao professor Luiz Carlos
Bresser- Pereira(“PauloGuedes, um
novodesenvolvimentista?”,“Ten-
dências/Debates”, 1 °/ 3 )pelalúci-
das lições ao ultraneoliberalPau-
lo Guedes.Faltou trazer ao deba-
te osataquesfeitos aos trabalha-
doresetrabalhadoraseaquestão
do desemprego. Trabalhadores
chutados paraomundo informal
edebaixíssimarenda, desempre-
gadose“desalentados”(como de-
nominaoIBGE) sãoexcluídos da
economia,doPIBedos princípios
constitucionais.
RenéMendes,pesquisadordo
institutodeestudosavançados-
USP(São Paulo,SP)
*
Não, aeconomia do Brasil nãovai
de malapior (“Estrangeirosai da
Bolsa emvelocidaderecordeeti-
ra R$ 34 , 9 bi em janeiroefeverei-
ro”,Mercado, 29 / 2 ).Ou,seprefe-
rirem,todas asBolsas do mundo
éque estão indodemal apiorem
virtude do surtodecoronavírus.
Elas já perderam,emdois meses,
US$ 1 , 2 tri lhão.Edeverão perder
muitomais seovírus nãoforcon-
tido.Sóoturismo chinês,respon-
sávelpor injetar bilhões de dóla-
resnaeconomia mundial, parou
completamente.
EvandroAraújoFerreiraFilho
(São Paulo,SP)
Mas...
ABR- 163 foiasfaltada, mas... (“As-
faltada, estradada soja impulsi-
onaexportação,mas permanece
precária”, Mercado, 1 °/ 3 ). Para a
Folha,sempreháum“mas”.Nada
estábom! Os doisrepórterescons-
tataram“vários pontos” deficien-
tes. Emcercadeincríveis 1. 500 km
percorridos, quantos pontos seri-
am esses?Dois, vinte,cem, mil?
Para aFolha,ocopo estásempre
meiovazio.
Arnaldo AlvesdaCosta Neto
(rio de Janeiro, rJ)
Zeladoria
“Covasignorou mais da metade
dos pedidos de limpeza decórre-
go antes detemporal” (“Painel”, Po-
der, 29 / 2 ). EsseéomodoPSDB de
governar estadoemunicípiohá
vários anos.
Eric Demi(Sã oPaulo,SP)
Cantoras
MuitoimportanteoartigodeRuy
Castro“Aquebradacadeia”(Opi-
nião, 1 º/ 3 ), em querelembraalgu-
mas das maiorescantoras brasilei-
rasbemcomo os destacadoscom-
positores do séculopassado. Re-
cordaréviver.Osjovensdehoje
precisamconheceramusicali da-
de de ontem.
RicardoPedreiraDesio(São Paulo,SP)
Folha, 99
Parabéns pelos 99 anos daFolha,
onde, em 1949 ,trabalheicomocon-
tínuo.Era encarregado de levaro
fechamentodaFolhadaTardeda
rua do Carmo paraovale do Anhan-
gabaú. Esperavaarodagemeleva-
va unsexemplares paraaRedação,
antes de ela mudar paraaalame-
da Cleveland.
CyroBarrella(SãoPaulo,SP)
*
Parabéns paraaFolhapelos 99
anos! Quasecentenária, mascom
fôlegodejovemesabedoriade
quemtem muitaestrada!Para-
bénsatodootime,eumvivaespe-
cial paraarepórterPatrícia Cam-
pos Mello.
Carina Almeida,Ceo efundadorada
Textual Comunicação (SãoPaulo,SP)
*
Parabéns àFolhapelos 99 anos. Es-
peroumacomemoração em gran-
deestilo nocentenário desse im-
portantejornal,que utiliza uma
linhacapaz de esclarecer osfatos
destemomentodifícil peloqual
passaopaís.
AntônioDilson Pereira(Curitiba, Pr)
MERCADO(19.AGO. 2019 ,PÁG.A20)
Diferentementedopublicadono
texto“Ícone, Embraer chegaaos 50
anosebuscauma nova identidade”,
foiaAirbus, nãoaBoeing,que com-
proualinhaC-Series daBombardier.
PaINeL Do LeITor
folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br
Cartasparaal. BarãodeLimeira, 425, São Paulo,CeP 01202-900.aFolha sereserva o
direitodepublicar trechos das mensagens. informe seu nomecompletoeendereço
Asdesigualdades brasileiras são crô-
nicas, agudas,sistêmicasemultifa-
cetadas. Algumas são imperceptíveis
paraamaioria,comoaqueécausa-
da pelo sistema tributário.
Osistematributário nacional é
oexemplo mais antigode agres-
sãoaos princípiosfundamentais
da Constituição presentes no arti-
go 3 º, que determina nosincisos I
eIII: aconstrução de uma socieda-
de livre, justa esolidária;aerradi-
caçãodapobrezaedamarginaliza-
çãoearedução das desigualdades
sociaiseregionais.
Nofinal dos anos 1980 ,oImposto
deRenda de Pessoa Física(IRPF)ta-
xava maisprogressivamente as altas
rendas,comalíquotas deaté 45 %.
Hoje,oIRPFtemumaalíquotamá-
ximade 27 , 5 %enãoincidesobrelu-
crosedividendosrecebidos porpes-
soas físicas,tornando-seummero
impostosobresalários.Poroutro
lado,temosahipertributação so-
breoconsumo,que onera, despro-
porcionalmente,osmaispobresem
favordos mais ricos.
Esse sistema estáenfermo,acome-
tido de uma doençachamadaregres-
sividade queatingiuosseuscompo-
nentes: tributos diretoseindiretos.
Asdoenças sistêmicasexigem trata-
mentodelargoalcance,enão ações
pontuais.Édisso quecuidaaArgui-
çãodeDescumprimentodePrecei-
to Fundamental (ADPF), que chega
nesta terça-feira( 3 )aoSupremoTri-
bunalFederal (STF).
Frutodaideia deOdedGrajewe
de estudo da professoraEloísa Ma-
chado, daFundaçãoGetulioVargas,
aADPFéuma medida judicial que
questionasistemicamenteaforma
como sãocobradosedequem são
cobrados os impostos no Brasil.
AarguiçãopedeaoSupremo “ore-
conhecimentodoestadodecoisas
inconstitucional do sistema tribu-
tário brasileiro”,emrazãodeações
e/ou omissõesdosPoderesExecu-
tivoeLegislativo.
Asdesoneraçõesindiscrimina-
das,aexcessivacargade impostos
sobreoconsumoeatributação in-
suficientedealtasrendas, grandes
fortunaseherançasproduziram es-
sa situação.Nossosistemafomen-
ta as desigualdadesesabotaosob-
jetivosfundamentais daRepública.
Aarguição subscritapelaFena-
fisco, comoapoio da Oxfam Bra-
sil, propõe um olhar sobreosiste-
ma tributário.
OBrasiltem uma oportunidade
única,apartir da Comissão Mista
daReformaTributária no Congres-
so Nacional, dereduzir esse abismo
entrecidadãsecidadãos brasileiros.
Os presidentesdaCâmara dosDe-
putadosedoSenadoFederaltêmda-
do declarações sobreaimportân-
cia dareforma.Porém,énecessá-
rio que seváalémdasimplificação
de impostos.Areformadeve contri-
buir para reduzir as desigualdades
no país. Por isso estamosrecorren-
do aoSTF, guardião último da Cons-
tituiçãoFederal, paraque indique
aos Poderes ExecutivoeLegislati-
voanecessidade de umareforma
que promova aigualdade.
OBrasilnão podedesperdiçar a
chancedecorrigir as distorções de
seu sistematributárioedeconstru-
ir um paísmais justo.
Detectar um novoagenteepidêmi-
conãoétrivial.Quandovejocríti-
casàvelocidadedaChinaem detec-
tareinformaromundo sobreoco-
ronavírus, eu logopenso:esefosse
no Brasil?Estamos preparados pa-
ra detectarumnovoagente?
OvírusHIVcirculoupormaisde
50 anos na Áfricaantes de adquirir
capacidade de transmissão defor-
ma eficienteentrehumanoseche-
garàsAméricas, em 1977 .Asíndro-
me da imunodeficiência adquiri-
da (Aids)foidetectada nos EUAem
1981 .Demoraramoutros dois anos
para queoHIVfosse descoberto, e
um ano paratestessorológicos es-
taremdisponíveis.
Aciênciateveenormeavanço
nos últimos 40 anos.Desdeoma-
peamentodogenoma humano,em
2000 ,astécnicas de sequenciamen-
toevoluíram deforma impressio-
nante,eoscustos baixaramemes-
cala logarítmica. Em 2014 ,naepi-
demia de ebolana África,tentou-
sepelaprimeira vezusartécnicas
de análise paradescrever adisper-
são do vírus duranteosurto. Os pes-
quisadores brasileiros empregaram
tais métodos quandoeclodiuosur-
to de zika, em 2015.
OInstitutodeMedicinaTropi-
cal(IMT), da UniversidadedeSão
Paulo,emconjuntocomaFunda-
çãoOswaldo Cruz, daBahia, inici-
ou em 2016 umacooperação entre
pesquisadores brasileirosebritâni-
cosnaqual sequenciamos 54 geno-
masdovírus obtidos de pacientes
detodooBrasil.Descobrimos que
ozika já circulavano país pelome-
nosumano antesdaprimeirades-
crição,feitanaBahia em 2015.
Apartir daexperiênciacomozika,
opasso seguintefoi fazermoscom
queatecnologia de análise adquiri-
da pudesse ser usada por mais gru-
posepelas instituiçõesresponsá-
veis pela vigilância epidemiológica.
Por isso,em 2019 ,iniciamosopro-
jetoCadde(CentroConjuntoBra-
sil-Reino Unido paraDescoberta,
Diagnóstico, Genômica eEpidemi-
ologiadeArbovírus). Apoiado pe-
la Fapesp (FundaçãodeAmparo à
PesquisadoEstadodeSãoPaulo)
epelogoverno britânico, oproje-
to objetivaestudar emtemporeal
epidemiascomo dengueezika.O
grupo incluioIMT,aFaculdade de
Medicina deSãoJosé do RioPreto
(SP)eaSecretariadaSaúdedeSão
Paulo (InstitutoAdolfoLutz,Cen-
trodeVigilância Epidemiológica e
Sucen),asuniversidades britâni-
casdeOxfordedeBirmingham,e
aLondon School of Hygiene and
TropicalMedicine.
Em 2019 ,trabalhamos os dados
da epidemia defebreamarela.Nes-
te ano,começávamosamonitorar
emtemporeal aepidemia de den-
guequandofomosatropelados pelo
coronavírus.Graçasaoesforçopre-
gresso,sequenciarrapidamente es-
te novo agentefoi maisfácil.OAdol-
fo Lutzrecebeu amostrasdoprimei-
ro caso confirmado no Brasil em 26
defevereiroecompletouosequen-
ciamentoem 48 horas—omesmo
tempo levado por uma instituição
derenome internacionalcomo o
InstitutoPasteurdeParis.
Nóssóconseguimosfazer isso gra-
çasaumapoiocontínuo daFapesp.
Masprecisamos chamaraatenção
aproblemas estruturais importan-
tes. NoBrasil, porexemplo,dispo-
mos de laboratórios de biossegu-
rançaaté onível 3 ,projetados para
confinar vírus de elevado riscoco-
mo HIVefebreamarela. Ainda não
dispomosde um laboratório nível
4 ,desegurançamáxima,projetado
para acontenção de agentes de al-
tíssimorisco, comoovírus ebola. E
vírus parecidos nãofaltam no nos-
so meio ambiente. Porexemplo,o
vírusSabiá, que não se via há mais
de 20 anos emSãoPaulo,foi detec-
tado em janeironum pacienteque
foiaóbitonoHospital das Clínicas.
Como podemos estudar esteagen-
te sem laboratório nível 4 ?Eseocor-
reralguma mutação queotorne
mais transmissível parahumanos
como acaboudeacontecercomo
novo coronavírus?OEstado deSão
Paulotem 44 milhõesdehabitantes,
não podemoscontinuar sem um la-
boratório nível 4.
Eu adoraria dizer queaepidemia
decovid- 19 serácontroladarapida-
mente. Masofatodealguns países
comoaItáliateremdemorado pa-
ra detectarovírus indicaquecon-
tê-lo parececadavez mais difícil. A
covid- 19 já circula em maisde 50 pa-
ísesnos seiscontinentes.Ocustode
uma epidemiaéenorme. Pesquisas
nestaáreanão podemparar.
Aspesquisas
não podem parar
De qualreforma
tributáriaoBrasil precisa?
TeNDêNcIas/DebaTes
folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br
os arti gospublicadoscomassinaturanão traduzemaopinião do jornal. Sua publicação obedeceaopropósitodeestimular
odebatedos problemas brasileirosemundiaisederefletir as diversastendências do pensamentocontemporâneo
- EsterSabino
ProfessoradoDepartamentodeMoléstias infecciosas daFaculdade de Medicina da USP,
integrouaequipe de cientistas brasileiros que sequenciouogenoma docoronavírus
MarlúciaFerreiraPaixãoeKatia Maia
Vice-presidentadaFederação Nacional do FiscoestadualeDistrital (Fenafisco)
Sociólogaediretora-executiva da oNGoxfamBrasil
PauloBranco
Sistema atual agride princípios da Constituição
Faltalaboratório paraconter vírus de altíssimo risco