etc.). No primeiro caso, lamentamos uma realidade e no
segundo, uma virtualidade.
Como e por que passamos da dor pelo que fizemos
ao incômodo pelo que não fizemos? Muitas explicações
são possíveis. Antes de tudo, diversos fenômenos ate-
nuam o tormento dos arrependimentos ligados aos atos:
estes, às vezes, são reparáveis (por exemplo, desculpar-
-se e reconciliar-se depois de uma briga). Além disso,
um trabalho psíquico de
compensação psicológica
frequentemente ofusca as
consequências negativas de
nossos atos, notadamente
impelindo-nos a nos con-
centrar nos aspectos posi-
tivos da situação e não nos
lamentáveis (“Não me casei
com uma pessoa legal, mas
meus filhos são maravilho-
sos”). Para exprimir esse fato,
os anglo-saxões têm um
provérbio: Every cloud has
a silver lining, ou seja, “Toda
nuvem tem uma borda iluminada”.
Contrariamente, a inação é mais insidiosa, e alguns
mecanismos tendem a amplificar a dor do arrependi-
mento causada por ela. Assim, se as consequências de
uma ação lamentável são identificáveis e limitadas, as de
uma ação não realizada são infinitas. Podemos sem di-
ficuldade imaginar múltiplas cenas decorrentes do que
teria acontecido “se” tivéssemos sido mais obstinados,
A “pegadinha”
mental está no
fato de que se
consequências
de uma ação
lamentável são
identificáveis e
limitadas, as de
uma ação não
realizada podem
ser infinitas, e isso
nos atormenta
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