Mente Cérebro - Edição 320 (2019-09)

(Antfer) #1
psicanálise

Para Giselle Galdi, um dos maiores incômodos


provocados pelo pensamento ferencziano vem


da formulação de que, no exercício clínico, o


psicanalista precisa estar disponível para ser afetado


e para sofrer alterações em seu próprio psiquismo


Ferenczi foi, efetivamente, psicanalista de vários outros
analistas de destaque, como Melanie Klein, Ernest Jones, Ali-
ce e Michael Balint. No entanto, é no campo das ideias que
sua ascendência sobre as gerações futuras se tornou eviden-
te. Donald Winnicott, ao comentar suas influências, declarou:
“É inteiramente possível que eu tenha tirado de algum lugar
esta ideia original a respeito da tendência antissocial e da es-
perança (...) Nunca sei o que obtive de dar uma olhada em Fe-
renczi, por exemplo”. Jacques Lacan ressaltou que Ferenczi
fora o “mais autêntico interrogador da sua responsabilidade
de terapeuta”. Mais recentemente, o psicanalista André Green
afirmou que seu papel foi decisivo para a reflexão psicanalíti-
ca sobre a contratransferência, sentenciando que Ferenczi é
“inegavelmente o precursor da psicanálise moderna”.

Porém, desde o início dos anos 1930 Ferenczi fora alvo de
Todschweigen, a morte pelo silêncio usualmente imposta aos
dissidentes pelos representantes da corrente dominante da psi-
canálise. Prevalecera a versão difundida por Jones (biógrafo de
Freud) de que Ferenczi passara os últimos anos da sua vida – du-
rante os quais, convém ressaltar, produziu a parcela mais original
e heterodoxa da sua obra – acometido por perturbações psíqui-
cas provocados pela doença que o matou, a anemia perniciosa.
Free download pdf