Viva Saúde - Edição 197 (2019-10)

(Antfer) #1
“Nunca o nível de vacinação caiu tanto como
agora, e isso tem causado a volta de doenças
que já estavam erradicadas e são facilmente
combatidas com vacina, como o sarampo”,
preocupa-se Diogo Leite Sampaio, aneste-
sista e vice-presidente da Associação Médica
Brasileira (AMB).
Outro assunto que se contaminou com as
fake news é o câncer. “Um caso combatido di-
retamente pela AMB foi o da fosfoetanolami-
na, quando acionamos o Supremo Tribunal
Federal para barrar a aprovação do Projeto de
Lei que liberava a substância”, diz Sampaio se
referindo ao uso da “pílula do câncer” como
salvação, enquanto o composto começou a
ser testado em humanos só em junho de 2019.

Por que parecem verdade?
Infelizmente tem sido comum a divul-
gação de notícias falsas como as indicadas
anteriormente. Um estudo do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT) dos
Estados Unidos aponta que a chance de uma
notícia falsa ser compartilhada na internet é
de 70%. Outra pesquisa, do Contentools &
Opinion Box, mostra que 81% daqueles que
compartilham e comentam nas redes sociais
nem leem o conteúdo inteiro, só observam o
título, o que piora a situação.
Sampaio explica que as fake news são as-
sim mesmo, elas sabem chamar a atenção.
“A tendência para se envolver com notícias
de caráter sensacionalista é algo que faz par-
te da nossa cultura. E as notícias falsas sobre
saúde, na maioria das vezes, possuem esse
perfil. São informações alarmantes, verda-
deiras conspirações que provocam medo e
grande estresse social”, diz. Só que informa-
ções erradas têm reações adversas. “É tão
grave que pode até matar, afinal, interfere na
saúde da pessoa que acredita na notícia falsa.
No caso das curas milagrosas, por exemplo,
isso pode trazer complicações muito sérias.
Uma pessoa pode interromper um tratamen-
to de uma doença como o câncer por acredi-
tar que um chá ou uma forma específica de
alimentação pode curar”, alerta Ugo Braga,
diretor de comunicação social do Ministério
da Saúde. “Além disso, fake news podem levar

ao questionamento indevido de práticas já
consolidadas na saúde e causar problemas
coletivos graves, como a falta de vacinação”,
complementa Sampaio.

como checar uma notícia
Para não ser o próximo a viralizar uma fake
news, previna-se! “É importante procurar
sempre fontes com credibilidade e que de-
monstrem tecnicamente a veracidade das in-
formações passadas. Também é fundamental
exercer o direito de duvidar do que leu, espe-
cialmente se a notícia tiver um grau de posi-
tividade acima do convencional. O paciente
deve sempre procurar orientação médica de
um especialista que possa acompanhá-lo e
ajudar no tratamento das doenças”, diz o vi-
ce-presidente da AMB. “Quando as soluções
da internet prometem verdadeiros milagres
com tratamentos pouco convencionais, é
preciso acender o alerta e optar por aquilo
que é cientificamente comprovado”, reforça.

O que os médicos têm feito
Como forma de combater essa epidemia,
diversas instituições médicas estão crian-
do um caminho para que o paciente tenha
acesso rápido e fácil ao conteúdo que é ver-
dadeiro. “Temos um canal de relacionamen-
to direto com o público e os médicos, que é
o site http://www.suasaude.amb.org.br. Por meio
dele buscamos levar conhecimentos sobre as
principais doenças, sempre com base em evi-
dências científicas”, explica Sampaio.
Já o Ministério da Saúde, há cerca de um
ano entrou também nas redes de conversa por
aplicativo para acompanhar de perto o caso.

O que você
precisa perguntar
na consulta?
Para evitar um branco durante
a consulta, leve anotadas as
principais queixas e até algumas
questões que deseja saber:
l Anote há quanto tempo sente

determinado sintoma.
l Se há histórico familiar de
alguma patologia específica.
l Como será feito o diagnóstico?
l Por quanto tempo devo fazer
o tratamento?
l Na internet diz que certa erva
pode ajudar. É verdade?
l Se tratar, tem cura?

Quando as
soluções
da internet
prometem
milagres, é
preciso ficar
alerta. As
notícias falsas
normalmente
trazem
informações
alarmantes
que provocam
medo e grande
estresse social

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