Viva Saúde - Edição 197 (2019-10)

(Antfer) #1

a genética


do câncer


A


ideia de que um câncer pode não
estar associado a uma parte espe-
cífica do corpo parece bastante
estranha para muitas pessoas.
Afinal, sempre ouvimos falar em câncer de fí-
gado, de rim, mama ou qualquer outro órgão
em particular. Porém, ainda que não seja uma
ocorrência comum no universo da oncologia,
existem casos em que os médicos não conse-
guem diagnosticar em qual estrutura o tumor
se iniciou. Esse tipo é chamado de câncer de
sítio primário desconhecido. “Isso acontece
quando o câncer já está disseminado, mas ne-
nhum dos métodos de rastreio, como exames
de imagem ou biópsia, consegue identificar
onde ele se originou”, explica Olavo Feher,
oncologista do Hospital Sírio-Libanês (SP).
Cerca de 3% a 5% dos tumores sólidos se
manifestam sem que seja possível saber com
precisão onde ele se iniciou. É uma ocorrên-
cia especialmente frequente entre os carcino-
mas – um tipo de tumor maligno que surge
a partir de células da pele, de glândulas ou
do trofoblasto (camada mais externa do em-
brião). Torna-se ainda mais preocupante por
ser identificável clinicamente apenas quando
já está em avançado estado metastático, ou

seja, bastante disseminado no organismo.
Por conta disso, o tratamento é bem difícil, e
a sobrevida é de 23% em um ano, um número
significativamente menor que na maioria dos
tipos de câncer.
De maneira geral, há uma grande desinfor-
mação sobre o câncer no Brasil. Um mapea-
mento realizado pela Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica (SBOC) mostrou que cer-
ca de 40% da população declara ter conhe-
cimento apenas mediano sobre a doença, e
quase o mesmo número de pessoas declarou
ter “muito medo” da enfermidade. Por ser
um tipo de tumor mais raro, de identificação
e tratamento mais complexos, o carcinoma
de sítio primário desconhecido tem seu diag-
nóstico recebido pelos pacientes com ainda
mais temor e ansiedade. “Mesmo em países
com escolaridade mais elevada e maior co-
nhecimento sobre câncer, os pacientes têm
certa dificuldade de entender esse tipo de
situação”, confirma Olavo Feher. “As pessoas
tendem a perceber a tecnologia médica como
muito avançada, próxima à perfeição, e é di-
fícil compreender que, a despeito de todas as
ferramentas existentes, ainda não consegui-
mos identificar o órgão de origem.”

O chamado
câncer de
sítio primário
desconhecido
acontece
quando o
tumor já está
disseminado,
mas nenhum
exame de
imagem
ou biópsia
consegue
identificar onde
ele se originou

certos tipos de tumores têm origem desconhecida, o que dificulta


o combate da doença. Porém, pesquisas sugerem que uma avaliação


do perfil genético do paciente pode apontar possibilidades mais


eficientes de tratamento para esses casos específicos
texto Leonardo Vinhas e Veridiana MercateLLi

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