Aventuras na História - Edição 143 (2015-06)

(Antfer) #1
enfrentando os novos problemas
humanos, econômicos e sociais.
Para isso, João XXIII promulgou
as encíclicas Mater et Magistra e Pa-
cem in Terris, nas quais explicitava
as bases de uma ordem econômica
centrada nos valores e nas necessi-
dades do homem, falando de “socia-
lização” e da necessidade de estrutu-
ras socioeconômicas cada vez mais
justas. Ambas as encíclicas signifi-
cavam uma revolução católica das
questões temporais, pois aceitavam
a herança da Revolução Francesa e
da democracia moderna, fazendo da
dignidade do homem o centro de todo
o direito e de toda a política e a dinâ-
mica social ou econômica.
Pouco antes da sua morte, no dia
3 de junho de 1963, João XXIII con-
vocou um novo concílio que reunisse
e promovesse a manifestação da Igre-
ja, o Concílio Vaticano II, elaborando
uma nova teologia dos mistérios de
Cristo, do mundo físico, do tempo e
das relações temporais, da história,
do pecado, do trabalho, da lingua-
gem, da música e da dança, da cultu-
ra, da televisão, do casamento e da
família, dos grupos étnicos e do Es-
tado. Foi uma tarefa titânica, que
depois da sua morte foi continuada
pelo seu sucessor, Paulo VI.

JUNHO DE
1989

4 MASSACRE DA
PRAÇA DA PAZ
CELESTIAL

Na noite de 3 a 4 de junho de 1989,
civis desarmados foram mortos pelos
disparos dos soldados ou morreram
esmagados pelos tanques do Exérci-
to chinês na Praça da Paz Celestial
(Tian’anmen), em Pequim, depois
que o Partido Comunista Chinês or-

denou que o Exército pusesse fim aos
protestos populares que exigiam re-
formas democráticas. Na atualidade,
o governo chinês continua sem reco-
nhecer a veracidade desses fatos. O
“incidente” de Tian’anmen, como é
chamado oficialmente, que acabou
com a vida de mais de 1 300 pessoas
e acarretou milhares de prisões e tor-
turas, é uma lembrança fan-
tasma na China.Em
abril de 1989, Hu Ya-
obang, líder refor-
mista destituído
pelo presidente
Deng Xiaoping
após as primeiras
revoltas estudan-
tis de 1986, havia
falecido. Sua morte
despertou protestos en-
tre a comunidade universi-
tária, indignada pela maneira como
o líder havia sido tratado pelo Parti-
do. Os estudantes encheram Pequim
de fotografias dele e levaram coroas
de f lores em sua homenagem ao Mo-
numento aos Heróis do Povo da Pra-
ça da Paz Celestial.
Yaobang havia lutado pela reabi-
litação dos perseguidos durante a
Revolução Cultural e era partidário
de uma mudança política na China,
o que havia lhe criado inimigos na
linha dura do Partido Comunista.
A manifestação de luto se conver-
teu em um protesto popular que de-
nunciava o setor mais ortodoxo do
Politburo chinês, reivindicando o
fim da corrupção burocrática e, so-
bretudo, maior liberdade no país. A
visita oficial do dirigente russo Mi-
khail Gorbatchev, em meados de
maio, estimulou estudantes, operá-
rios e profissionais de distintas ci-
dades e províncias chinesas a se
unirem aos protestos.

Tratou-se de um movimento es-
pontâneo. Seu objetivo não era aca-
bar com o comunismo na China, mas
pedir reformas. As greves de fome e
os gritos dos estudantes ref letiram
as reclamações de muitos cidadãos,
embora a maioria da sociedade chi-
nesa não tenha participado da luta
deles. Na cúpula comunista, o pri-
meiro-ministro Li Peng,
partidário do uso da
força para sufocar a
revolta, se impôs à
solução dialogada
proposta por
Zhao Ziyang, se-
cretário-geral do
partido, que foi
destituído. Os es-
tudantes, conscien-
tes da presença de cor-
respondentes estrangeiros
em Pequim, construíram em
Tian’anmen uma estátua, a Deusa da
Democracia, para lançar uma men-
sagem ao mundo.
Liu Xiaobo, um dos líderes infor-
mais dos protestos, tentou sem su-
cesso dialogar com os setores menos
conservadores do regime para evitar
uma matança, mas não pôde evitar
que muitas pessoas morressem de-
baixo dos tanques nas avenidas ad-
jacentes à Tian’anmen; quando o
Exército chegou à praça, os estudan-
tes combinaram sua retirada.
Ainda que os militares tenham
apagado os restos da revolta estudan-
til, a imagem de um rebelde desa-
fiando uma linha de tanques sozinho
até pará-la deu a volta ao mundo. No
Ocidente, essa foto se converteu no
símbolo da resistência democrática
e, na China, foi usada para mostrar
o bom trato que o Exército chinês deu
aos civis em sua intervenção.

Rebelde desafia
tanques na China

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38 | AVENTURAS NA HISTÓRIA

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