Men's Health - Portugal (2016-01)

(Antfer) #1

TODOS NÓS TEMOS AMIGOS QUE NÃO SE PREOCUPAM ASSIM TANTO COM A GORDURA CORPORAL E NEM
sequer se lembram dos perigos para a saúde. Qualquer pretexto é excelente para combinar churrascos
no terraço, encomendarpizzaspara acompanhar os jogos da Champions League e entreterem-se
a “virar” grades de cerveja como se não houvesse amanhã. No dia a dia até são pessoas organizadas
e sabem gerir bem a vida laboral, amorosa e financeira, mas quando chegam à mesa a coisa descamba.
Claro que muitos deles, depois de lerem aMen’s Health, começam a ter uma noção real do perigo a que
se submetem e resolvem fazer algo em prol do seu bem-estar físico. Em muitos casos (e continuamos
a receber inúmerose-mailsde leitores a agradecerem as dicas de alimentação e de treinosMHna sua
senda contra a perda de peso), é notório que a evolução é feita de forma consciente. E quando assim
é os resultados são duradouros. Normalmente, as primeiras medidas passam por reduzir as três cerve-
jas diárias por duas semanais, trocar aspizzasrecheadas de queijo por refeições de peixe/carne branca
com legumes e os cigarros passam a ser substituídos por outro vício mais saudável como lavar os dentes
com maior frequência. Porém, existem depois outros casos em que o radicalismo entra em ação e o mote
passa a ser: “Ou vai ou racha”. Errado! O que antes era uma alimentação sem rei nem roque, transforma-
-se numa dieta ditatorial em que é quase um crime de lesa-majestade comer gorduras, ingerir glúten,
beber uma gota de álcool ou permitir a presença de hidratos de carbono no prato. Depois disto, come-
çam a surgir as desculpas para faltar aos jantares de grupo e ir a um restaurante só é aceitável se o menu
apresentar saladas biológicas. E alinhar numbarbecue? Nem pensar! A não ser que estejam presentes
ingredientes como bagasgoji, grandes travessas de salada, água ou chá (sem açúcar). Quanto aos janta-
res de grupo? Claro que também são olhados com desdém e mesmo que compareçam ao evento, tor-
nam-se ausentes na hora de devorar as febras e entremeadas. Verdade seja dita: não há mal nenhum em
ter cuidado com as escolhas alimentares, mas quandoo (des)controlo toma proporções desmesuradas,
estas pessoas correm o risco de se tornarem mais fechadas,caladas, aborrecidas ou até impacientes, o
que é normal, já que o que estão a fazer soa a sacrifício (e é mesmo um sacrifício). Mais uma vez... errado.
Quando a dieta deixa de ser controlada por si para ser você a estar controlado pela dieta, algo está mal.


Como é que é possível ter uma
obsessão má por uma coisa sau-
dável? Parece uma contradição
demasiado evidente, mas na verdade não o é:
uma obsessão é sempre uma obsessão, mesmo
que seja em prol de algo positivo. Neste caso,
o perigo é ainda maior, pois a ameaça “escon-
de-se” no meio dos vários objetivos positivos
e até é aceite socialmente, já que fazer uma dieta
para melhorar a imagem é sempre benéfico.
No entanto, esta dicotomia tem uma pala-
vra: ortorexia. Vem do gregoorthos(correto)
edeorexis(apetite). Este termo foi criado pelo
médico norte-americano Steven Bratman
e, segundo ele, deve ser atribuído a quem apre-
senta uma fixação por alimentação saudável
e gere a vida pessoal em função disso. Há até
quem coloque a ortorexia ao nível de doenças
como a bulimia ou anorexia. De acordo com
a American Psychiatric Association, a ortorexia
não está tipificada como transtorno, por isso
não se poderá considerar como uma doença,
mas mais como um tipo de transtorno restri-
tivo. Mas o facto de não querer ir comerpizzas
com os seus amigos não faz de si um ortoréxico,
muito menos o facto de se preocupar com a sua
alimentação, gordura corporal e, acima de tudo,
com a sua saúde (afinal de contas é leitor assíduo
daMen’s Healthpor algum motivo). O problema
deste transtorno surge quando interfere com
outros aspetos da vida social – e até emocional –
afetando diretamente a sua saúde. Pense assim:
é saudável passar o dia todo a pensar naquela
fatia de bolo que comeu à sobremesa? É reco-
mendável deixar de comparecer aos jantares
com os seus amigos por ter medo de o menu não

COMER BEM ESTÁ-SE A CONVERTER


NA NOVA RELIGIÃO GLOBAL. ADORAMOS


CONHECER NOVOS SUPERALIMENTOS,


RESTAURANTES MACROBIÓTICOS E DEPOIS


PARTILHAR TUDO NAS REDES SOCIAIS! MAS


ESTA TENDÊNCIA NEM É ASSIM TÃO NEGATIVA.


O PROBLEMA ESTÁ NA OBSESSÃO POR DETRÁS


DE APARENTES PADRÕES SAUDÁVEIS.


E É AQUI QUE TUDO FICA MUITO PERIGOSO!


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UM NOVO PROBLEMA

82 MENSHEALTH.COM.PT|Janeiro 2016

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