Janeiro 2016 |MENSHEALTH.COM.PT 83

UM MAL BEM VISTO

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O que talvez possa tornar a ortorexia
tão perigosa é precisamente o facto de
não parecer perigosa. Até pelo contrá-
rio, pois muitas vezes as pessoas são admiradas – até
invejadas – pelo seu bom aspeto e força de vontade.
Porém, quando os cuidados com a alimentação
chegam a roçar o extremismo há quem coloque no
mesmo saco a ortorexia juntamente com a anorexia
e a bulimia. Mas são coisas distintas. De acordo com
o dr. Alexandre Fernandes, nutricionista e respon-
sável pelositeBem Nutrir (www.bemnutir.com),
os sintomas que diferenciam estas doenças são dis-
tintos, “ainda que sejam doenças com um carácter
obsessivo-compulsivo”. No entanto, para identificar
um indivíduo com ortorexia existem alguns crité-
rios de diagnóstico, tais como “passar mais de três
horas por dia a pensar como ter uma alimentação
saudável; preocupar-se mais com a qualidade dos
alimentos do que com o prazer em comê-los; acre-
ditar que aumenta a qualidade de vida através do
aumento da qualidade da alimentação; sentir-se
culpado quando não cumpre as convicções dieté-
ticas; planificar hoje o que vai comer amanhã ou
tentar convencer os outros de que estão a comer
de forma desequilibrada e errada”. Como em tudo
na vida, existe uma origem para determinadas con-
dições e, na maioria dos casos das pessoas que sofrem
de ortorexia, esta surge após uma primeira refeição
macrobiótica, em que é normal existir um “consumo
exclusivo de alimentos de origem vegetal como fru-
tas, legumes, vegetais, cereais, leguminosas e poucos
alimentos de origem animal: ovos, leite e laticínios.
Mais tarde, quando este consumo se torna diário
e existe um maior interesse por este tipo de alimen-
tação, a personalidade destes indivíduos modifica-
-se e começa a surgir uma forte inclinação obsessiva
alimentar, começando a restringir alguns alimentos”,
indica o nutricionista. Estes excessos de retidão na
alimentação podem colocar a saúde em risco devido
à grande perda de peso e à carência de nutrientes.

Como leitorMen’s Health, certa-

mente que já faz uma alimentação

saudável e preocupa-se com a sua

imagem e excesso de gordura corporal, mas

isso não o impede de estar neste momento

a questionar-se: “Será que sou ortoréxico?”.

Para que perceba melhor, a dra. Júlia Machado,

psicóloga do Hospital Lusíadas Porto, explica que

“no caso da ortorexia, o problema reside numa

obsessão por ingerir alimentos de boa quali-

dade e apenas são permitidos os mais saudáveis.

O lado negativo surge quando esta preocupação

pela alimentação começa a aumentar e a tomar

grande parte do dia a dia destes indivíduos”.

O pior é que como uma coisa leva à outra,

gera-se um efeito bola de neve indesejado

e a culpa também passa a fazer parte da vida

de um ortoréxico, “uma vez que se sentem

culpados por não cumprirem o que consideram

ser as suas regras alimentares. Depois, como

são pessoas de tal forma restritivas, castigam-

-se com uma alimentação ainda mais rígida para

compensar eventuais deslizes na dieta, criando-

-se assim um ciclo vicioso que pode levar ao apa-

recimento de sentimentos de baixa tolerância

à frustração”, indica a psicóloga. Revê-se nesta

situação? Acreditamos que não. Ainda assim,

se já anda a evitar jantar fora com os amigos

por ter receio de não encontrar no menu o tipo

de alimentos de que necessita, é melhor consi-

derar duas vezes a sua posição perante a alimen-

tação, já que “a ortorexia leva a um afastamento

social, visto que desencadeia uma retração

e faz com que a pessoa restrinja do seu lote de

amizades as pessoas que não seguem o mesmo

tipo de alimentação”, alerta a psicóloga Júlia

Machado. E após isto as consequências são

inevitáveis, levando a um isolamento social.

A verdade é que este tipo de transtornos tem,

em grande parte, uma origem social conotada

com a extrema pressão face à magreza, algo

que se tem vindo a confundir com o facto de

cuidarmos de nós. Cuidar é uma coisa, seguir

dietas rígidas é algo completamente diferente

e nada saudável. Se relativamente ao afasta-

mento social estamos elucidados, convém referir

os perigos para a saúde que vão desde “depressões,

crises de ansiedade, hipervitaminoses (falta

de vitaminas), anemia, hipotensão, osteo-

porose e muitas outras patologias”, alerta

o dr. Alexandre Fernandes. Faça o que fizer,

nunca se esqueça do bom senso...

apresentar alternativas macrobióticas? É acei-
tável passar horas a planificar a sua dieta para
o dia seguinte? É sequer concebível não ir ao
cinema, porque tem de preparar as refeições
para levar consigo para onde quer que vá?
A resposta é muito simples: não, não é. Nada
disto é saudável!

SERÁ O SEU CASO?

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O Instagram está recheado

dehashtagsque, talvez

sem o saber, fazem

apologia à ortorexia:

etiquetas como#eatclean

ou#fitfoodsão atualmente

um paradigma decool.