Men's Health - Portugal (2016-01)

(Antfer) #1

É ORTORÉXICO?
Passatrêshoraspordia(ou
mais)apensarnasuadieta?
Planeia as suas refeições com
vários dias de antecedência?
Importa-semaiscomovalor
nutricional dos alimentos do
quecomoseusabor?
Asuaqualidadedevida
diária decresceu à medida
que aumentou a sua dieta?
Ultimamente tem sido muito
rígido consigo?
A sua autoestima eleva-se
quando come de forma sau-
dável?
Deixou de comer alimentos
dos quais desfrutava para op-
tar apenas por aqueles que
“deve” comer?
Asuadietatorna-senumpro-
blemanahoradejantarfora,
distanciando-se da família
eamigos?
Sente-se culpado quando
salta a dieta?
Sente-se em paz consigo,
mesmo quando come de forma
correta?


Um dos piores aspetos da
ortorexiaéoisolamento.Não
existe nenhuma dúvida de que um
comportamento caracterizado pela
necessidade de controlo permanente
é incompatível com a improvisação.
Assim sendo, o risco de ir jantar fora
ou deixar-se levar pelos amigos
é praticamente inconcebível. A dieta
torna-se tão restrita que os ortoréxicos
sóaceitamjantarforaseforemeles
aescolherorestauranteeisso,por
vezes, é o suficiente para criar alguma
tensão no grupo. É que jantar de
vez em quando num restaurante
vegetarianoatépodeserengraçado,
masseorestodogrupogostade
carneepeixe,nãoconvéminsistir
sempre nesta opção. A debilitada
capacidade de adaptação, associada
ao mau humor típico de quem vê os
amigos comerem algo que vai contra
afilosofiadeumortoréxico,levaaum
isolamento social – quer seja imposto
ouporopção–jáqueaconversavai
sempre dar ao mesmo. Mas será que
um ortoréxico acaba sozinho, rodeado
de folhas de couve e montanhas de
tofu?Claroquenão.Oquecostuma
aconteceréqueestaspessoasafas-
tam-sedosseusamigosparasejun-
tarem a outras pessoas que possam
comungar dos mesmos gostos e das
mesmas preocupações alimentares.

O sentimento de culpa não é
nada agradávelenistoestamos
todosdeacordo.Agorapenseem
quantas vezes acaba por saltar
a dieta quando come algo que não
tinha planeado, tal como aquela vez
em que comeu batatas fritas porque
não havia arroz, quando repetiu
ocozidoemcasadossogrosou
atéaquelechocolatequedevorou
para matar a fome antes do treino.
Onossodiaadiaestácheiode
imprevistos e o dos ortoréxicos não
fogeàregra.Adiferençaéque“um
ortoréxiconãosaltaadieta.Oque
pode acontecer é que quando tem
de comer alguma coisa que vai
contra a sua filosofia alimentar, pura
e simplesmente, rejeita esse tipo de
alimentação”, refere o nutricionista
Alexandre Fernandes. O sentimento
de culpa nem sequer chega a apa-
recer,“poisestaspessoasnãose
permitem, em circunstância alguma,
a cometer um desvio no seu tipo
de alimentação”, explica. Como
vê, as semelhanças com a anorexia
eabulimiavoltamasurgir,ouseja,
são doenças que levam ao extremo
a obsessão pela alimentação, assim
como as emoções que elas contêm.
Claro que uma coisa depois leva
àoutraeestacavalgada obsessiva
torna-se galopante.

Para um ortoréxico, ele não
tem nenhum problema,mesmo
que dedique várias horas por dia
aorganizaradieta,outrastantas
à procura de produtos “especiais”
e mais algumas a cozinhar. Pode
até sentir uma tremenda ansiedade
quando salta a dieta e se distancia
da família e amigos por algo tão banal
como os seus gostos alimentares,
mas apesar de todos estes sinais,
raramente o ortoréxico reconhece o
problema, mesmo que esteja à vista
de todos. “Ter cuidado com o que
secomeénormaleaverificação
dos rótulos dos produtos pode ser
apenas uma medida cuidadosa, mas
oqueacontecenaortorexiaéalgo
exageradoaopontodarealidadeda
pessoa impedi-la de ter algum tipo
de discernimento”, alerta a psicóloga
Júlia Machado. Ser-se assim tão
rígidoeexigentenemépropriamente
provocado pelo reflexo da imagem em
frente ao espelho, “mas sobretudo
porumaassociaçãoaalgoemocional,
já que a pessoa passa a ter um medo
irracionalcomoquecome(seéou
nãosaudável)eissochegaaoponto
de causar sofrimento”, assinala. É por
istoqueexistempessoasqueaolerem
numbloguequeoatumtemelevados
níveis de mercúrio resolvem excluí-lo
por completo da sua dieta.

O NEGADOR O AUTOFLAGELADO O MARGINALIZADO

“EU NÃO!” “MEA CULPA” “SOZINHO”


84 MENSHEALTH.COM.PT|Janeiro 2016

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