Sabor Club - Edição 25 (2019-01)

(Antfer) #1

Caetano Veloso chorava muito quando Seu
Heli, o pai do poeta Torquato Neto, lhe
ofereceu um copo de cajuína, para acalmar
a dor que compositor sentia, ao sentir
a falta do amigo (e um dos criadores
da Tropicália) que se suicidara, em



  1. Em seguida ganhou uma rosa e
    a emoção deu origem a uma das suas
    mais belas canções (veja quadro).
    Ela só faz chamar atenção para a
    cajuína cristalina de Teresina, como diz
    a letra, a bebida deliciosa, feita por lá
    desde sempre, a partir da clarificação
    do suco de caju. E mais nada. Não
    tem açúcar senão o da fruta, não tem
    aditivos químicos. É puríssima.
    A preparação começa com o
    suco de caju e a separação do
    tanino existente no fruto
    com a adição de um
    agente precipitador.
    Antigamente, quem
    fazia esse papel era
    a resina do cajueiro;
    hoje é a gelatina
    em pó. Em seguida,
    a mistura é coada
    várias vezes em redes
    ou funis de pano. O
    suco clarificado é então
    cozido em banho-maria,
    já em garrafas de vidro, até


que seus açúcares sejam caramelizados.
Quem já bebeu a cajuína bem geladinha
não esquece. Os piauienses tomam mais
do que qualquer outra bebida, tanto
que o estado produz quase 5 milhões
de garrafinhas por ano. Há das mais
diversas marcas, cada uma com um
toque único, dentro de uma mesma
essência, como diferentes rótulos de
vinho de uma mesma casta.
Sempre, a cajuína é pouco doce,
com uma acidez fascinante, que faz
a gente salivar só de pensar nela.
Normalmente vai para o copo já
refrigerada mas fica ótima também com
cubos de gelo e, mais ainda,
com gelo triturado.
Mais um uso sensacional
é na preparação de
drinques. O pouco
açúcar e o azedinho
a fazem perfeita
para tal. Quer
um exemplo
simples?
Acrescente
uma medida
de cajuína no
seu gim-tônica,
coloque um
raminho de alecrim
e... saúde!

Cajuína cristalina


de Teresina
A bebida ícone do Piauí, pouco consumida fora dali,
é um néctar que inspira – como fez com Caetano Veloso

Produto

Sabor. club [ ed. 25 ] | 23

Cajuína
Caetano
Veloso (Cinema
Transcendental,
1979)

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que será que se
destina?
Pois quando tu
me deste a rosa
pequenina
Vi que és um
homem lindo
e que se acaso
a sina
Do menino infeliz
não se nos ilumina
Tampouco turva-
se a lágrima
nordestina
Apenas a matéria
ZMHEIVEX­SǻRE
E éramos olharmo-
nos intacta retina
A cajuína cristalina
em Teresina

Champanhe
do Piauí
A cajuína é tão típica do estado
que deveria ganhar selo com
Denominação de Origem

O Iphan reconhece que a cajuína, o seu processo
de preparo e tudo o que está em torno dela é
Patrimônio Cultural Brasileiro. A bebida nasceu
nas mãos dos índios e o seu preparo é descrito
como um ritual, no qual ela era servida
a todos os integrantes da tribo. Os
portugueses a batizaram de cajuína
porque, mais tarde, era produzida
apenas pelas mulheres.

eu

ar

que
Q
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