Sabor Club - Edição 34 (2019-11)

(Antfer) #1

56 | Sabor. club [ ed. 34 ]


como vamos nos nutrir implica em
fomentar a maneira pela qual os
ingredientes serão produzidos; é estar de
acordo com as técnicas, com os produtos
que estão envolvidos em seu cultivo ou
preparo. Também por essa razão, discutir
o que comemos tornou-se fundamental
para entendermos o futuro das cidades. E o futuro passa
pela produção de alimentos, pela boa relação entre o
produzir e o meio ambiente. Ao planejar o amanhã, faz-se
necessário atentar ao ontem.
Paisagens Gastronômicas traz em suas narrativas as
histórias de pessoas e lugares e suas experiências com
o alimento. Porque a produção desses insumos está
intimamente ligada ao seu entorno. E como é bonito
ver a classicação proposta pelo grupo editorial: Do
Campo, Do Mar, Da Mata, De Beber e Da Cidade; como

essas paisagens se relacionam com a produção; como o
cenário vai se adaptando à introdução de novos plantios e
processos, novas migrações e imigrações.
As histórias que aqui vemos nos fazem lembrar
como o estado de São Paulo se desenvolveu em função
da relação com o alimento e sua produção. Teve um
dos seus apogeus econômicos com o café. Construiu
impérios e expandiu-se a partir do Porto de Santos. E
hoje, com o advento de modernas tecnologias e conhe-
cimentos adequados para o plantio, colhe azeitonas para a
produção de azeites, desenvolve arrozes especiais, detém
a capacidade do manejo de bois de raças premium. É
também com o devido conhecimento aplicado que são
produzidos queijos, embutidos e conservas defumadas de
altíssima qualidade. Em São Paulo vê-se o fortalecimento
de técnicas para elaboração de embutidos de peixes e
frutos do mar, em mais uma valorização da arte de quem
vive do mar.
Iniciativas como as apresentadas neste livro são
decorrência de nossos novos hábitos alimentares. Eles
pressupõem decisões sustentáveis – e políticas – que

têm trazido ao cidadão a chance de se
relacionar dire- tamente com a origem
do alimento que consome, como no
caso das unidades da CSA (Comunidade
que Sustenta a Agricultura) e de outras
experiências que estreitam a conexão
do consumidor com o produto e o
produtor. São oportunidades de propor novos sistemas
de plantio, como agroflorestas, agricultura orgânica ou
biodinâmica.
De se apropriar de espaços urbanos e coletivos,
como praças e calçadas, para a produção de alimentos,
que podem ser nativos, forasteiros, conhecidos ou não
convencionais. De compreender e usufruir o cinturão
verde da capital, São Paulo, que à margem dos seus
prédios e concreto preserva ainda um oásis natural,
responsável pelo cultivo de parte dos itens orgânicos

vendidos nos mercados e feiras.
Fica claro neste livro o esforço de trazer à tona a va-
lorização das culturas caipira e caiçara e das heranças
indígenas, além do cultivo de espécies nativas do nosso
bioma e da nossa biodiversidade. De destacar produtores
de fermentados e chás milenares e, ao mesmo tempo,
revelar o cuidado com o alimento em hortas, fazendas
urbanas e até no telhado de um shopping center.
Reduzir as distâncias: do alimento ao consumidor,
da terra ao prato. Está cada vez mais evidente que um
público consumidor quer saber de onde vem o que
comemos. E que também é preciso fomentar a produção
com qualidade, compreender a importância dos acessos –
e também dos excessos.
Mais do que uma seleção de paisagens gastronômicas,
este livro traz uma junção de pessoas, produtos e projetos
que são inspirações para acreditarmos na alimentação
como instrumento de transformação.

*Prefácio de Felipe Ribenboim, produtor cultural na área de
cultura alimentar, sócio e cocriador do FRUTO.

Está cada vez mais evidente que é preciso fomentar a produção com qualidade,
compreender a importância dos acessos – e também dos excessos
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