Fotografe - Edição 278 (2019-11)

(Antfer) #1
Antes de descobrir na fotografia
a realização plena, Gabriel Wickbold
passou pela poesia e pela música. A
poesia o despertou para a observação
do mundo, enquanto a música trouxe
a experiência da direção, já que
ele atuou como produtor musical,
conduzindo os músicos para a
sonoridade desejada em cada caso.
A grande transformação se deu
em 2006, quando ele partiu em uma
viagem para percorrer o Rio São
Francisco da nascente à foz. Nesse
percurso, a fotografia deixou de ser
hobby e passou ao primeiro plano.
“Me senti pela primeira vez realizado
como artista e entendi que ali poderia
mudar ou conduzir a forma com que
as pessoas encaram a vida, me senti
puro e verdadeiro, sem ter que fazer
o mínimo de esforço para aquilo
acontecer”, lembra.
A revelação se deu pela
descoberta da fotografia como
ferramenta expressiva e, ao mesmo
tempo, comunicativa. Wickbold entrou
na casa das pessoas para fazer retratos

Retrato realizado durante
viagem pelo Rio São
Francisco, que despertou
em Wickbold o sentimento
de realização como artista

Uma das fotos mais conhecidas da
série Sexual Colors de Wickbold

DA POESIA À FOTOGRAFIA


Fotos:


Gabriel Wickbold


e descobriu um Brasil formado por
gente generosa e acolhedora, capaz
de sorrir e bem receber mesmo em
situações muito precárias. “Retornei
dessa aventura transformado, triste de
ver as condições em que grande parte
dos brasileiros se encontrava, mas
com uma fé na humanidade por sua
empatia”, recorda.
O impacto da viagem fez com que
Wickbold se reinventasse. O primeiro
passo foi criar um estúdio de fotografia
no mesmo espaço em que mantinha
o estúdio de música. Ali começaram as
experiências, sempre como autodidata.
“Nunca fui assistente de fotógrafo.
Simplesmente comecei. Foi na cara
e na coragem que fotografei moda,
publicidade, retratos, e minha forma de
trabalhar os arquivos era diferente, as
fotos tinham uma textura minha, o que
logo ficou como a minha assinatura
em estúdio”, comenta.
Depois de um ano aprendendo
na prática e fazendo um pouco de
tudo, Wickbold se deparou com o que
seria uma das grandes marcas do seu

trabalho: a utilização de pigmentos para
a produção de retratos em estúdio. A
ideia de fazer um trabalho com tintas
surgiu de um amigo. Logo na primeira
sessão de fotos ele sentiu que se abria
ali um longo caminho para pesquisas
e experimentações, que culminou, em
2009, com a série Sexual Colors, na qual
o rosto humano é usado como tela e
sofre mutações inesperadas.
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