Fotografe - Edição 278 (2019-11)

(Antfer) #1
grande agência internacional, Marcelino já
passou por diversos cursos de segurança
para situações de risco. “Nós recebemos
treinamentos para cobrir ambientes
hostis quase todos os anos pela Reuters
e aprendemos algumas coisas simples,
porém muito importantes, como
manter os pés secos, as botas limpas, se
hidratar com mais
regularidade, dormir
assim que puder e
evitar o risco. Acabei
fazendo isso quase
que de maneira
militar, o que me
ajudou muito. O
desgaste físico das
caminhadas dentro
da mata não foi
brincadeira”, recorda.

Os fotógrafos de natureza
e vida selvagem Paulo Behar e
Victor Chahin também estiveram
na Amazônia para registrar o
impacto das queimadas. A partir
de Porto Velho, fizeram incursões
pelo interior de Rondônia, ao
longo da BR-364, e na Vila
Samuel, próxima à Floresta
Nacional do Jacundá.
Behar conta que as paisagens
da floresta em chamas ou em
cinzas são constantes na região.
Os madeireiros retiram primeiro
as árvores nobres e deixam
espaço aberto à ação dos
grileiros, que se apropriam da
terra, colocam fogo na floresta
ou passam o “correntão”, grossas
correntes presas a tratores para
deixar o terreno limpo e pronto
para virar pasto. A terra “limpa”
vale dez vezes mais do que a
terra coberta pela floresta.
“Durante nosso retorno
da Vila Samuel, passamos por
quilômetros de pastos sem fim e
quantidades enormes de terras
improdutivas. São terrenos que
seguem na recuperação da
pastagem, para receber o gado
quando o pasto atingir a altura
adequada. Se a terra não for
usada para boi, certamente será
usada para a soja, alimentação
básica do gado. Num país em
que o rebanho bovino chega
a 215 milhões de cabeças,
manteremos o status de maior
exportador mundial de carne ao
custo das florestas”, prevê Behar.

O olhar de fotógrafos
de natureza

a chamar a atenção da imprensa
internacional, e relata que em poucos dias
a cidade foi “invadida” por jornalistas de
diversos veículos e agências. Da cidade
era possível ver no horizonte os focos de
incêndio. Havia muita fumaça no ar.
Dadas as dificuldades de acesso por
terra e as grandes distâncias a percorrer,
uma boa parte da cobertura foi feita
do ar, em sobrevoos realizados em
pequenos aviões Cessna. Moriyama conta
que o aeroclube de Porto Velho contava
com uma empresa que serviu bem a toda
demanda, cobrando um valor de R$ 800
por hora de voo.
Já as aproximações dos focos de
incêndio, tanto por ar como por terra,
exigiram muita atenção e prudência.
“O risco é real. O fogo vira rápido com
o vento e, se você não estiver bem
posicionado, fica desorientado e preso
no incêndio”, explica Gabriela Biló, cuja
cobertura foi toda feita por terra. “Nas
aproximações por aeronave em áreas
de queimada ou garimpo, sempre pedia
para baixar um pouco mais e o piloto
me alertava até onde poderíamos ir em
segurança, para não ter problemas”,
relata Ueslei Marcelino.
Por conta de trabalhar em uma


Caminhão carrega
toras de madeira
próximo a Porto
Velho (RO), em
foto captada por
Paulo Behar durante
expedição à região

Imagem aérea de
Victor Moriyama:
dificuldade de
acesso aos focos de
incêndio demandou
uso de avião

Victor Moriyama

Paulo Behar
Free download pdf