Vegetarianos - Edição 156 (2019-11)

(Antfer) #1

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capa


O QUE A CULINÁRIA BAIANA TEM


N


em pimenta nem peixe.
O segredo da culinária
baiana, revelou o chef
Rodrigo Isaias, está em uma
mistura chamada “sangue de
negro”, feita à base de dendê
(fruto de uma palmeira), cebola,
castanha, amendoim e, na versão
tradicional, camarão seco. Este
último substituído por outros
temperos ou mesmo excluído
sem dó, até porque mesmo entre
onívoros o camarão nem sempre
é bem-vindo. “Esse refogado é
a base, o que dá início e sabor à
maioria dos pratos da culinária
baiana, além da pimenta-
-malagueta”, revelou o chef.
Em relação ao camarão seco,
o segredo vegano é substituir, na
verdade, o sabor de defumado
que esse ingrediente animal dá
aos pratos. “Na Bahia, o camarão
seco tem um gosto defumado
bem acentuado. Para substituí-lo
nas receitas, podemos conseguir
com óleo de carvão, fumaça
líquida ou ainda pela adição
da infusão de um chá chinês
chamado Lapsang Souchong seco.
Todos são de origem vegetal e
tem um sabor defumado bem
acentuado”, esclareceu o chef.
Na cozinha de Carol Reis
e Luciana Rangel, donas do
restaurante Rango Vegan, em
Salvador, que dedica as sextas-
-feiras para a culinária baiana,
camarão seco realmente não
faz falta. Até porque, observou
Carol, se você considerar que
dos cinco ingredientes-base
da culinária baiana (cebola,
castanha, amendoim, pimenta e


camarão seco), apenas um é de
origem animal, dá para perceber
o quanto esse tipo de culinária
é originalmente bem amiga
dos veganos. E fica ainda mais
rica nas mãos de cozinheiros
criativos como Carol e Luciana,
que também não dispensam em
suas receitas o uso do coentro, do
gengibre, do cominho, do leite e
do bagaço de coco, das pimentas
biquinho e doce, e dos pimentões.
“Às sextas oferecemos caruru,
vatapá, quatro tipos diferentes de
moqueca, farofa, feijão-fradinho,
arroz e salada. E sempre temos
opções sem dendê, porque
geralmente os filhos e filhas de
santos não podem usar dendê na
sexta, que é dia de Oxalá”, contou
Luciana. Para o preparo das

moquecas, elas usam
banana-da-terra, coco e repolho
(dupla que compõe a moqueca
de “siri”), vegetais típicos variados,
como maxixe, plantas comestíveis
não convencionais, como a
língua-de-vaca e, claro,
amendoim. “Temos tantos
ingredientes vegetais de sabores
marcantes que, quando bem
trabalhados, suprem a ausência
de ingredientes de origem
animal”, acrescentou Carol.

As pimentas
Outra constante na culinária baiana
são as pimentas, principalmente
as do gênero Capsicum, como
malagueta, biquinho e pimenta-
-doce. A principal é, sem dúvida,
a pimenta-malagueta (Capsicum

Folhas de bananeira
servem para
acomodar receitas
como acaçá e abará
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