Mente Curiosa - Edição 47 (2019-01)

(Antfer) #1

e estamos dispostos a eliminar certas coi-
sas que já não importam como antes, o far-
do da vida vai, aos poucos, ficando mais
leve. Só que para isso existe todo um ca-
minho a trilhar, e a seguir, vamos tentar
entendê-lo um pouco melhor, a fim de dar
os primeiros passos.


POR QUE A GENTE SE APEGA?
Acumular é um instinto quase que na-
tural do ser humano por um simples mo-
tivo: o simbolismo que atribuímos àquilo
que nos apegamos. “No ser humano, a ca-
pacidade de simbolização permite atribuir
um valor emocional a várias situações, coi-
sas ou vivências”, resume a psiquiatra Ju-
lieta Guevara.
A educadora e especialista em inteligên-
cia emocional Semadar Marques desta-
ca outro ponto importante que nos faz ter
esse apego todo: certas convicções que
são transmitidas por gerações. “São cren-
ças de que somente possuindo determinado
bem é que se é feliz”, indica a profissional.
“Posteriormente, viram uma verdade inter-
na que nos torna profundamente apegados
e ansiosos em possuir determinado ‘objeto
de felicidade’”, diz.
É muito comum, especialmente nas crian-
ças, enxergar esse desejo todo de ter um
determinado objeto que provavelmente vai
trazer muita alegria. O problema é que cres-
cemos e corremos o risco de cair em uma
armadilha: a de adquirir determinados itens
pelo status ou reconhecimento externo
que trazem.


COISA DA CABEÇA
Apesar das questões bastante
fortes mencionadas ante-


riormente, é possível encontrar ainda, em
nosso próprio cérebro, explicações para
o ato de apegar-se às coisas. “O apego é
essencialmente uma atitude que se pro-
tege de perdas”, relata o neurologista Mar-
tin Portner. Segundo o estudioso, algumas
áreas do cérebro estão intimamente liga-
das a esse processo. “Há uma estrutura
cerebral ancestral denominada amígdala,
da qual possuímos um par, que visa prote-
ger o ser humano para situações que são
consideradas de risco de perda”, explica.
Por sua vez, em casos mais sérios, como
no de transtorno de acumulação compulsi-
va, pesquisadores do Instituto de Psiquiatria
de Londres, da Universidade Tecnológica de
Dresden e do Instituto de Radiologia da Uni-
versidade de São Paulo identificaram que
as áreas cerebrais ínsula e do córtex cingu-
lar anterior são disfuncionais e
dificultam o desa-
pego.
Seja nos
casos me-
nos ou mais
sérios, o neu-
rologista alerta
que “o meca-
nismo do de-
sapego de
bens e obje-
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