Adega - Edição 169 (2019-11)

(Antfer) #1

MUNDOVINO |^


EVENTOS DO MUNDO DO VINHO

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Não há autóctone?


Pesquisadores lançam livro que questiona a origem
de variedades consideradas indígenas na Itália

O livro, intitulado “Sangiovese, Lambrusco, e outras
histórias de videira”, recém lançado, questiona o status
de indígena de diversas variedades italianas. Escrito
por Attilio Scienza e Serena Imazio, o trabalho se
concentra na história e ancestralidade das videiras
cultivadas na Itália, mas também inclui variedades
internacionais como Chardonnay, Merlot, Syrah e
Pinot Noir.
O objetivo, segundo eles, é desmistificar a
origem das famosas variedades de uvas da Europa,
analisando relatos de migração e intercâmbio
cultural que formaram uma parte importante do
comércio e da viticultura por séculos. Scienza,
professor da Universidade de Milão, é especialista
em melhoramento genético da videira. Imazio é
pesquisadora em genética de videiras da Universidade
de Módena e Reggio Emilia.
Na introdução do trabalho, os autores afirmam
que, como em grande parte da Europa, as variedades
modernas da Itália foram desenvolvidas através de
“uma hibridação atormentada de contribuições
culturais das mais diversas origens, da Europa à África,
do Oriente Médio à Ásia Central. Nesse sentido, o
caso italiano é arquetípico para toda a Europa: a partir
da pesquisa sobre a identidade da vinha nas diferentes
regiões, emerge um continente sem fronteiras rígidas,
uma encruzilhada contínua de migrações, interações,
hibridizações, contrastes e conflitos entre povos, que
extraiu seiva fundamental da diversidade de raízes, em
um nível cultural e político”.
O trabalho combina pesquisa genética de DNA de
uvas, estudos de botânica e ampelografia, antropologia,
história de civilizações antigas, estudos linguísticos e

literários e questiona se podemos apontar qualquer
variedade de uva como sendo nativa de um país ou
região. Os autores afirmam que a palavra “autóctone”
(significando indígena) perde gradualmente seu
significado, pois as videiras são “o resultado de uma
circulação varietal intensa e antiga entre áreas, às vezes
até grandes distâncias, muitas vezes sem fronteiras
geográficas, então o termo não se refere mais a um
lugar, mas a um tempo em que a videira se manifesta
de maneira ideal por meio de suas características de
produção”. O livro está disponível na Amazon.
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