Adega - Edição 169 (2019-11)

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36 ADEGA >> Edição^169

PERFIL | por^ GUILHERME VELLOSO


Giuseppe Miolo chegou ao Brasil em 1897, mas seus
descendentes só começaram a vender vinhos com o nome da
família na garrafa há 30 anos

Do Vêneto ao


Miolo Wine


Group


O


s números impressionam: 950 hecta-
res de vinhedos próprios, 10 milhões
de litros de vinho produzidos por ano
e quatro grandes vinícolas (Miolo,
Quinta do Seival, Almadén e Terrano-
va) sob o mesmo guarda-chuva, o Miolo Wine Group.
Tudo isso construído em apenas 30 anos, período bas-
tante curto para os padrões do mundo do vinho.
Na verdade, o tempo foi bem maior, 122 anos, se
a contagem começar com a chegada de Giuseppe
Miolo ao Brasil. Italiano da pequena Piombino Dese,
no Vêneto, ele foi um dos muitos emigrantes que,
no final do século XIX, trocaram o país natal e suas
economias pelo longínquo sul do Brasil, atraídos por
um futuro incerto, mas com uma promessa quase ir-
resistível para quem vive do campo: terra. No caso de
Giuseppe, uma parcela inexplorada no município de
Bento Gonçalves, que, muito mais tarde, pelas mãos
de seus netos e bisnetos, daria nome a um vinho fa-
moso, o Lote 43.
Os 30 anos de existência que a Miolo comemo-
ra em 2019 têm uma explicação. Até 1989, a família
apenas produzia uvas, que vendia para terceiros. Foi
somente naquele ano que os três netos de Giuseppe
(Darcy, Antônio e Paulo) decidiram construir uma
pequena vinícola e engarrafar vinhos com marca pró-
pria, produzidos com uvas cultivadas nos 30 hectares
que possuíam na época. O primeiro exemplar, um
Miolo Reserva Merlot safra 1990, chegaria ao merca-
do em 1992. A partir daí, o crescimento foi pratica-
mente constante, em que pesem os anos considerados
difíceis, não por conta das safras, o que é normal no

mundo do vinho, mas das condições econômicas do
país, nem sempre favoráveis. E foi justamente um pe-
ríodo de crise no mercado que determinou o nasci-
mento do que é, hoje, o grupo Miolo.

Solução na crise
Ao longo dos anos 1980, com boa demanda por produ-
tores como a Martini & Rossi, que elaborava o Baron
de Lantier, o vinho brasileiro mais conhecido na épo-
ca, a Miolo investira na melhoria da qualidade de suas
uvas e na expansão de seus vinhedos. Mas, na segunda
metade da década, o mercado para uvas finas entrou
em crise, a ponto de o preço de venda ser menor do
que o custo de produção. “Aí começou a dar prejuízo
e a uva apodrecia no vinhedo porque não tinha como
vender”, lembra Adriano Miolo. Enólogo formado em
Mendoza, na Argentina, onde permaneceu de 1988 a
1995, ele pertence à quarta geração da família e hoje
comanda os negócios do grupo. A solução encontrada
foi começar a engarrafar com marca própria, numa pe-
quena vinícola, para complementar a venda de uvas e
vinho a granel para outros produtores.
Do Merlot pioneiro, lançado em 1992, foram pro-
duzidas apenas 8 mil garrafas e a empresa logo perce-
beu que, para tornar-se viável, a produção teria que ser
maior, o que levou ao nascimento da linha “Seleção”,
em 1994, ainda hoje um dos maiores sucessos da Mio-
lo. Curiosamente, até então, como lembra Adriano,
o mercado brasileiro era dominado por vinhos bran-
cos, estimulado, inclusive, pelo boom dos chamados
vinhos de “garrafa azul” importados em larga escala
da Alemanha.
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