Adega - Edição 169 (2019-11)

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Edição 169 >> ADEGA 39


capacidade de produção era apenas um dos aspec-
tos da questão. Em paralelo, era preciso investir na
qualidade do que seria produzido, uma exigência
do próprio mercado que, com a abertura às impor-
tações promovida no início da década, ainda no
governo Collor, se acostumara a vinhos de melhor
qualidade, vindos principalmente do Chile, mas
também de outros países.
Nesse processo, duas providências foram fun-
damentais. Primeiro, arrancar os antigos vinhedos
plantados no tradicional sistema de latada ou “pér-
gola”, que proporciona maior produção, mas não
garante a qualidade das uvas, pelo sistema de espal-
deira, que privilegia a qualidade em detrimento da
quantidade. Segundo, usar apenas mudas certifica-
das nos novos vinhedos. O problema é que tanto
uma como a outra, num primeiro momento, signi-
ficavam “gastar mais para produzir menos”, ainda
que com maior qualidade.
Para exemplificar a dimensão desses investi-
mentos, Adriano lembra que, na época, o custo de
uma única muda de videira certificada era de 5 dó-
lares. E que até então produtores como a Miolo não
gastavam praticamente nada com mudas. “Bastava
pegar do vizinho e usar um porta-enxerto; o único

custo era mão de obra, barata, para fazer os enxer-
tos”. Adriano é cuidadoso ao falar do assunto, mas é
sabido que esse foi um período de grandes conflitos
na família, principalmente entre ele e o pai, líder
do clã familiar por ser o neto mais velho do funda-
dor. “Foi briga séria”, comenta sorrindo.
Ao final, prevaleceu a orientação de investir na
qualidade. E a razão, segundo ele, era simples. “Tí-
nhamos que fazer um vinho de qualidade superior,
porque o mercado aceitaria”. Ele explica que até
então os melhores vinhos eram fruto do acaso, ou
de uma excelente safra, como 1999. Foi nesse ano
que a Miolo produziu pela primeira vez seu vinho
mais emblemático, o Lote 43, corte de Merlot e
Cabernet Sauvignon, que homenageia a própria
origem do grupo e só foi lançado dois anos depois.
“Hoje, nós planejamos o que vamos fazer e sabemos
o que vai dar. Naquela época, como todo mundo,
a gente engarrafava o que dava”, admite Adriano.

Expansão para além da Serra
Os anos 2000 foram marcados pela expansão geo-
gráfica da Miolo. “A ideia foi fazer vinhedos mo-
dernos e trabalhar outras variedades que não se
davam tão bem na Serra e no vale dos Vinhedos”,

Giuseppe


Miolo


emigrou


do Vêneto


para Bento


Gonçalves


há mais de


120 anos


Jefferson Bernardes

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