Adega - Edição 169 (2019-11)

(Antfer) #1
46 ADEGA >> Edição^169

PERFIL | por^ CHRISTIAN BURGOS


Em um piquete nasce um vinhedo, e deste uma paixão familiar


CRIAÇÃO DE


PURO SANGUES


N

o alto de uma gentil colina, senti-
mos a brisa constante do oceano a
30 quilômetros de distância. Esta-
mos próximos da represa de Aguas
Blancas, em Solís de Mataojo, no
Uruguai, construída na década de 1940 sobre as
águas do Arroyo Mataojo. Era um dos três proje-
tos de represas do governo uruguaio para o desen-
volvimento da fruticultura. E a região se tornou a
maior produtora e exportadora de maçãs do país.
Convertida em parque nacional e com aces-
so fácil tanto de Montevidéu (pela Ruta Nacio-
nal 8), como de Punta del Este (pela RN 60), a
represa é um ponto turístico frequentado pelos
amantes da pesca, dos barcos e do camping. Nos
anos 2000, monges budistas decidiram construir
um enorme templo no local. Com doações de
todo o mundo, compraram 600 hectares sobre a
serra mais alta da região (400 metros de altitude)
e construíram o templo Sengue Dzong (Fortale-
za do Leão). Ao estilo tibetano, o templo tem seis
andares e predomínio das cores laranja, verde,
azul e amarelo.
Em 2004, o brasileiro Benjamin Steinbruch,
empresário e criador de cavalos de corrida, também
sentiu que o local era especial. O turfe é um dos
esportes mais populares do Uruguai, reunindo pú-
blico de quase 20 mil pessoas para assistir as corri-
das, que são até televisionadas. Esse ambiente levou
Benjamin a visitar o país algumas vezes, em busca
do local ideal para estabelecer um haras. Numa das
viagens, entrou na estância La Poderosa. A proprie-
dade estava em completo abandono, mas ele andou
um pouco pelo local e decidiu “é aqui!”.

Cavalo e vinho
A propriedade se tornou um dos mais reputados
centros de criação de cavalos de corrida do Uru-
guai, mas, acima de tudo, converteu-se no paraíso
pessoal da família Steinbruch. Felipe Steinbruch,
filho de Benjamin, conta que passava as férias em
La Poderosa e que é impossível dissociar a estância
de sua infância e convívio familiar. O vinho veio
depois, de um desafio... Com muitos amigos por-
tugueses, Benjamin brincou que faria um Touriga
Nacional melhor que o deles...
Foi assim que, em 2008, nasceu o vinhedo
com a variedade portuguesa acompanhada de
Tannat, Merlot, Cabernet Sauvignon, Marselan,
Alvarinho, e de uma fileira de uva de mesa, em
resposta à crítica de Mendel, um dos quatro filhos
de Benjamin e Carolina: “mas só tem uva de vi-
nho, não pode ter uva de chupar?”.
Hoje os vinhos são elaborados pelo enólogo
Jorge Pehar e os vinhedos manejados pelo agrô-
nomo Dario Gonzales, com consultoria agrícola
de nosso amigo Eduardo Félix, diretor agrícola da
Bodega Garzón.
La Poderosa tem toda infraestrutura de um hotel
de campo: quartos com decoração primorosa, sala de
degustação, cozinha externa conduzida pela cozi-
nheira Maria Inés Quintero, que combina pratos tí-
picos uruguaios e brasileiros, além de uma pâtisserie
de dar inveja a muitos restaurantes. Mas tudo está de-
dicado exclusivamente à família e seus convidados.

12 mãos
O principal resultado de La Poderosa foi unir a fa-
mília, e poucas coisas unem tanto quanto o vinho.
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