Adega - Edição 169 (2019-11)

(Antfer) #1

Edição 169 >> ADEGA 49


quisemos. Nosso objetivo era compreender a fru-


ta local e o efeito de cada barrica sobre cada va-


riedade. A curiosidade de Pehar não se limita aos


experimentos, ele queria genuinamente saber o


que pensamos dos vinhos, mesmo quando nossas


visões podiam divergir, e realmente se emociona


com o seu trabalho e com o que ainda vai fazer.


Entrevistador entrevistado


Nesta visita a La Poderosa nosso anfitrião foi Feli-


pe, que além de nos mostrar tudo, estava sempre


atento a observações. Aliás, em nenhum momen-


to recebemos um discurso promocional dos vi-


nhos. Foi como degustar entre amigos e conversar


abertamente. Não posso dizer que isso não acon-


teça com frequência, mas nunca experimentei isso


com produtores que encontrava pela primeira vez.


Ficou mais fácil compreender quando Felipe fa-


lou que um dos mantras do pai é descobrir como


fazer as coisas cada vez melhor. Tanto que antes


de irmos embora ele perguntou o que eu queria


degustar enquanto me “entrevistaria” para tomar


notas e compartilhar suas impressões com a famí-


lia e com o pai, que acompanhava a visita à distân-


cia e queria saber como estavam as coisas e o que


estávamos achando.


Optamos por uma (re)degustação de vinhos


prontos e amostras de barricas. Assim poderíamos


fazer algumas comparações e conversar não ape-


nas sobre os vinhos, mas sobre vinho. A sala de de-


gustação não podia ser mais bonita: um deck sobre


a represa dentro da fazenda, onde, numa corrida


matutina, eu havia parado para admirar uma famí-


lia de lontras e muitas aves.


Já tivemos a oportunidade de degustar diversas


safras de Mataojo e ano passado seu Mataojo Re-


serva Tannat 2013 apareceu pela primeira vez no


Top 100 de ADEGA. Os vinhos estão melhores a


cada safra. A compreensão dos vinhedos e do poten-


cial de cada casta se sente na elaboração e também


nos vinhedos. Algumas videiras de Cabernet Sau-


vignon, por exemplo, estão sendo enxertadas nova-


mente com outras variedades. Os vinhos apontam


rumo à valorização da fruta e ao uso cada vez mais


parcimonioso da madeira. Exatamente como o ca-


minho deve ser: fazer experiências, adquirir conhe-


cimento e caminhar para a maturidade, sem nunca


perder a curiosidade.


VINHOS AVALIADOS

AD 90 pontos
MATAOJO ALBARIÑO FRESCO 2019
Mataojo, Sierra Oriental, Uruguai (Winebrands
R$ 105). O Alvarinho é franco e, até por isso,
um de nossos prediletos na casa. Tem muita
erva (alecrim e tomilho) e delicioso floral. Em
boca, a pera protagoniza, com corpo médio
e acidez na medida aportando o frescor e
vibração. Companhia ideal para vieiras. CB

AD 90 pontos
MATAOJO BLEND LA PODEROSA 2018
Mataojo, Sierra Oriental, Uruguai (Winebrands


  • não disponível). Uma amostra do vinho que
    está em afinamento em garrafa antes de ser
    lançado. Um vinho que já carrega no nariz
    a complexidade da boa madeira junto com
    muita ameixa. Ervas, como tomilho, abrem-se
    com o tempo em taça (ou decantação). Em
    boca, tem boa estrutura, confirma a ameixa,
    que agora é acompanhada de mirtilos. Tudo
    envolto em taninos finos e boa acidez, que se
    unem à untuosidade láctea e chocolate. Um
    vinho para quem ama o estilo clássico e que
    vai evoluir muito bem até 2025. CB


AD 90 pontos
MATAOJO ESPUMANTE NATURE ALBARIÑO 2015
Mataojo, Sierra Oriental, Uruguai (Winebrands
R$ 236). Deliciosa surpresa! Um pioneiro no
uso de Alvarinho para a criação espumantes
no Uruguai. Elaborado pelo método
champenoise e mantido em uma pequena
câmara refrigerada durante todo processo.
É muito elegante, com floral, frutas frescas
e perfil mineral. Em boca, tudo se confirma
em um espumante esbelto e vibrante para
ser apreciado sozinho ou com os pratos mais
delicados. CB

AD 91 pontos
MATAOJO TANNAT RESERVA 2018
Mataojo, Sierra Oriental, Uruguai (Winebrands
R$ 118). O frescor, textura de taninos e a
pimenta negra são as virtudes deste vinho.
Nada de supermaduro, nem superextraído.
Há também flores azuis. A madeira é presente
e, como já vimos no 2013, deve se integrar
muito bem. Um vinho com mais fruta fresca
do que as safras passadas, e aqui há também
um toque quase salino, muito elegante. Logo
imaginei uma carne grelhada apenas com sal
e pimenta negra. CB
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