National Geographic - Portugal - Edição 215 (2019-02)

(Antfer) #1

102 NATIONAL GEOGRAPHIC


ANTIGUA E BARBUDA
Em Fort James,
na ilha de Antigua,
as máscaras cor-
-de-rosa usadas
pelas companhias
de palhaços durante
o Carnaval talvez
representem os
colonizadores
europeus.
As indumentárias
carnavalescas usadas
no continente
americano têm raízes
nas tradições africanas,
europeias e indígenas,
mas evoluem
constantemente,
reagindo à cultura
contemporânea.

Ao contrário das festividades centradas nas
méringues, as melodias de Carnaval neste país de
expressão francesa, Jacmel proporciona uma
experiência mais enraizada na tradição local.
Dos rapazes cobertos de fuligem negra ao som
dos rara (os ritmos vodu são uma componente
essencial das celebrações carnavalescas no
Haiti), passando pelos músicos a tocar tambores
ou trombetas feitas de metal reciclado e trompas
de bambu, cada ritmo conta a sua própria histó-
ria e convida-nos a dançar. Vi interpretações
assustadoramente belas do diabo, grandes ani-
mais míticos e máscaras de aspecto grotesco
confeccionadas com pasta de papel.
Em algumas regiões das Caraíbas, o Carnaval
é mais do que a folia que transformou as festi-
vidades tradicionais desta época numa atrac-
ção turística vistosa. É um espaço artístico, um
megafone público, uma expressão descarada de
identidade cultural por parte dos descendentes
dos escravos africanos. Proibidos de prestar cul-
to às suas divindades, impedidos de participar
nos bailes de máscaras pré-quaresmais dos se-
nhores franceses e britânicos do século XVIII,
os escravos fundiram as tradições e o folclore
africanos com rituais coloniais, criando assim a
sua própria festa.
Actualmente, celebrações como o Corpo de
Deus, o Dia de Reis e o Dia de Finados assumem
formas diferentes na diáspora africana e podem
ser organizadas noutras épocas do ano, mas são
festividades com elementos em comum. Persona-
gens vestidas com roupa garrida e desrespeitando
as normas sociais combinam o cristianismo, o fol-
clore e as interpretações indígenas num ritual de
rebelião vivaz.


Durante uma viagem ao


Haiti há alguns anos, fugi


às estradas principais e


visitei a cidade portuária


de Jacmel, no Sudeste da


ilha, onde o Kanaval (a


grafia do crioulo haitiano)


se comemora uma semana


antes do Carnaval Nacional


em Port-au-Prince.


(Continua na pg. 108)

Free download pdf