National Geographic - Portugal - Edição 215 (2019-02)

(Antfer) #1

72 NATIONAL GEOGRAPHIC


A progenitora e a cria atravessam


a rua aos pulos, desejosas de se


alimentarem num relvado perto


de uma bomba de gasolina.


Dois jovens machos
travam um combate
perto do Parque
Nacional das Grampians,
no estado de Victoria.
A imagem de um
canguru “pugilista” (um
símbolo omnipresente
da Austrália) apareceu
pela primeira vez numa
banda desenhada de
1891, inspirada por
espectáculos que
promoviam combates
entre homens e
cangurus.

É o fim de tarde de um dia fresco de Primavera
em White Cliffs, uma invulgar cidade conhecida
pela exploração de minas de opalas na província
de Nova Gales do Sul e pelo facto singular de os
habitantes locais viverem em buracos ventila-
dos, como os hobbits. Milhares de poços de ex-
tracção mineira esburacam o solo ressequido.
E, no entanto, os dois cangurus-cinzentos-orien-
tais são o factor mais peculiar em todo o cenário.
“Nunca os tinha visto na cidade desta manei-
ra”, afirma George Wilson, professor universi-
tário e ecologista que estuda cangurus há cinco
décadas. “Talvez sejam os animais de estimação
de alguém.”
Os turistas apontam as objectivas e os telefo-
nes e abrem a boca de espanto. As crianças estão
deliciadas. Quando o Sol avança para o horizon-
te, os animais vão-se embora. Um pouco mais
tarde, um homem acaba de beber a sua cerveja
num bar local. Paga a conta, sobe para um ca-
mião branco com ganchos na retaguarda e inicia
a marcha. A sua missão desta noite é matar tan-
tos cangurus quantos conseguir.
A Austrália vive uma relação complicada com
o seu símbolo nacional. Os cangurus são uma das
espécies mais icónicas e carismáticas do mundo
e constituem os símbolos vivos e representativos
da biodiversidade do país. Ao mesmo tempo, são
um absurdo sublime e adorável, são maravilhas
da evolução: o único animal grande que pula.
Os australianos continuam comprovadamente
orgulhosos deles. Os cangurus são estrelas de fil-
mes e espectáculos de televisão, poemas e livros
infantis. Há imagens de cangurus em todos os
ícones nacionais – das notas bancárias ao bra-
são, das linhas aéreas comerciais aos navios de
guerra, dos símbolos olímpicos aos uniformes
dos atletas. Para os estrangeiros, estas criaturas
de patas grandes, cauda espessa e orelhas pontia-
gudas são a metonímia do próprio país: Austrália
significa cangurus e cangurus significam Austrá-
lia. Talvez não exista no mundo um animal e um
país que se identifiquem tanto um com o outro.
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