CANGURUS 81
gato precisar de ser abatido, é o veterinário que
trata disso. Eles não têm responsabilidade di-
recta. Nós temos.”
HOWARD RALPH, um médico alto e magro, sentado
na sua sala de espera varrida por correntes de ar,
descreve outro tipo de responsabilidade em relação
aos cangurus. Há 18 anos, Ralph e a mulher,
Glenda, transformaram a sua terra em Braidwood
num refúgio para animais selvagens. Hoje, com a
ajuda de um pequeno exército de voluntários, a
Southern Cross Wildlife Care trata mais de dois mil
animais por ano. Mais de metade são cangurus.
“O objectivo principal das nossas vidas é o
bem-estar dos animais”, diz Ralph. “Tentamos
ajudar estas criaturas e pô-las num estado que
permita a sua restituição à natureza. Não faze-
mos discriminação entre espécies. E não desis-
timos facilmente.”
Isso significa tratamento da dor e gestão do
stress, problemas potencialmente fatais. Os can-
gurus, em especial os cangurus-cinzentos-oci-
dentais, entram facilmente em stress e podem
desenvolver insuficiência renal e doença car-
díaca. “Vemos esses problemas constantemen-
te”, diz Ralph.
Também vêem muita crueldade: cangurus ba-
leados no rosto, atacados à machadada, propo-
sitadamente atropelados por camiões. Alguns
não conseguem saltar porque têm fracturas ex-
postas nas pernas.
“Neste país que se diz civilizado, fazem-se coi-
sas que não deveriam fazer-se”, conta Ralph. “In-
felizmente, muitas não se devem à explosão de-
mográfica, mas porque os seres humanos acham
divertido, ou agradável, infligir tormentos a pe-
quenas criaturas. Já deveríamos ter ultrapassado
a fase de considerarmos a crueldade aceitável.
Sejam quais forem as circunstâncias.”
Por toda a Austrália, dezenas de refúgios para
cangurus emergiram nos últimos anos. À seme-
lhança da Southern Cross, a maior parte concen-
tra-se em organizações sem fins lucrativos no
sentido mais estrito: praticamente todos os cên-
timos são gastos em fármacos e fornecedores de
serviços públicos.
Garry McLean alimenta
cangurus órfãos no
refúgio Horizons, em
Agnes Water, Queens-
land. “São animais que
vivem em família, tal
como nós”, afirma Nikki
Sutterby, da Sociedade
Australiana para os
Cangurus. “Sofrem
muito quando perdem
uma cria ou quando
uma cria perde
a progenitora.”