Veja - Edição 2661 (2019-11-20)

(Antfer) #1
20 de novembro, 2019 71

vilma gryzinski


A mulher de 50 trilhões de dólAres


Propostas da candidata americana resumem falência de ideias


Seguidora da conhecida escola
econômica que acha que dinheiro dá
em árvore, Elizabeth Warren tem um
plano. Aliás, muitos. Fez disso o slogan
da sua campanha para conseguir ser
eleita candidata a presidente pelo Parti-
do Democrata. O plano principal é
criar um sistema universal de saúde,
cujas desvantagens sempre parecem
maiores que as vantagens para os ame-
ricanos. O custo da coisa toda foi calcu-
lado em 50 trilhões de dólares. Os elei-
tores decidirão, mas a candidata, uma
professora da Harvard que fala exata-
mente como todas as mestras universi-
tárias de esquerda, pre-
fere um almoço íntimo
com Donald Trump a
admitir de onde vai tirar
o dinheiro. Com razão,
pois muita gente tem
certeza: dos bolsos sem-
pre violentados da classe
média, que nos EUA é
sinônimo da maioria de
renda mais baixa, mas
não pobre. Os impostos
sobre fortunas, que já fizeram até o só-
brio Bill Gates estrilar, são uma cortina
de fumaça eleitoreira.
O deserto de homens ó e agora mu-
lheres ó e de ideias levou Michael Bloom-
berg a atravessar o espaço entre desejo
e realidade e pedir inscrição entre os
pré-candidatos democratas. Com 50 bi-
lhões de dólares no cofre, no caso dele o
espaço é bem curto. As ideias, embora
não exatamente brilhantes, pretendem
escantear as propostas malucas de Eli-
zabeth Warren e o esgotamento, mental
e intelectual, de Joe Biden, ainda o pri-
meiro colocado. O ex- vice-presidente
já deixou cair a dentadura num debate,
teve um derrame de vaso sanguíneo no
olho em entrevista na televisão e segui-
das falhas de memória. Mas a encrenca
mesmo é o filho Ronaldinho, o dos con-

tratos superamigos na Ucrânia e na Chi-
na. Qual a probabilidade de que os ame-
ricanos encontrem um candidato com a
empatia de Barack Obama, a lábia e a
produtividade de Bill Clinton (no servi-
ço público, bem entendido) e a capaci-
dade de ativar a economia de Donald
Trump? Nenhuma.
No resto do mundo, a coisa não vai
melhor. Angela Merkel e Emmanuel
Macron, os dois europeus com PIB e
peso intelectual, estão encolhendo em
lugar de crescer. Na Espanha, um dos
mais promissores políticos dos últimos
tempos, Albert Rivera ó catalão pela
união nacional, centris-
ta, moderno, articulado
e ainda por cima bonito
ó foi esmagado na últi-
ma eleição. Deixou não
só a direção de seu parti-
do, o Cidadãos, mas a
política. Boris Johnson
treina gestos e discursos
de Churchill, cinicamen-
te ó sabe muito bem o
ridículo da comparação.
Só vai ganhar ó eleição e Brexit ó, se
ganhar, porque o rival, Jeremy Corbyn,
que faz Elizabeth Warren parecer uma
discípula de Adam Smith, está sim-
plesmente implodindo. Políticos im-
portantes não apenas deixaram o Par-
tido Trabalhista por causa de Corbyn
como recomendaram o voto em Boris.
“Nunca atribua a más intenções o
que é devidamente explicado pela bur-
rice”, prega a máxima conhecida como
Navalha de Hanlon (referência à Nava-
lha de Occam, o monge medieval que
estabeleceu o princípio lógico da preva-
lência das soluções simples sobre as
complicadas). Quais desses princípios
se aplicam ao Brasil, onde um líder que
já teve enorme expressão sai da cadeia,
onde cumpria pena por corrupção, e
prega a violência? Navalha na carne? ƒ

“Nunca atribua


a más intenções o


que é devidamente


explicado pela


burrice”, diz


uma máxima


car”, diz o cientista político Brian
Gaines, professor da Universidade
de Illinois. O ex-prefeito começou
a fazer fortuna no mercado finan-
ceiro. Aos 40 anos, fundou a
Bloomberg LP, empresa de tecno-
logia e análise de dados que en-
globa a maior agência de notícias
econômicas do mundo. Sua fortu-
na, acima de 50 bilhões de dóla-
res, engole os 3,1 bilhões que
Trump diz ter (mas não prova).
Natural de Boston, em Massa-
chusetts, neto de imigrantes ju-
deus russos e lituanos, Bloomberg
não prima pela fidelidade parti-
dária. Em 2001, filiou-se ao Parti-
do Republicano para concorrer
pela primeira vez à prefeitura de
Nova York. Assumiu um ano de-
pois, reelegeu-se para mais um
mandato e achou que era pouco.
Move daqui, move dali, conseguiu
alterar a lei municipal, disputar
de novo a eleição e ganhar, dessa
vez como independente. Na cam-
panha legislativa de 2018, empe-
nhado em impedir que Trump ob-
tivesse maioria nas duas casas, fi-
liou-se ao Partido Democrata pa-
ra ter condições de fazer gordas
doações aos candidatos de sua
preferência. “Bloomberg mostrou
ser muito qualificado na prefeitu-
ra, apesar das circunstâncias tur-
vas em que conseguiu aprovar o
terceiro mandato”, diz o sociólo-
go Robert Y. Shapiro, da Univer-
sidade Columbia. Rompendo a
tradição, ele planeja não partici-
par das quatro primárias de feve-
reiro de 2020, em estados menos
importantes. Prefere mergulhar
direto na chamada “Super Terça-
Feira”, em 3 de março, quando pe-
lo menos catorze estados reali-
zam prévias ó justamente aque-
les em que a propaganda vira uma
guerra de foice e ter muito dinhei-
ro faz toda a diferença. E isso, con-
venhamos, ele tem de sobra. ƒ

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