Veja - Edição 2661 (2019-11-20)

(Antfer) #1
geral entretenimento

78 20 de novembro, 2019

a ProPaganda


é a alma


da novela


Para se adaptar ao público pulverizado entre diversas plataformas, o merchandising
deixa de fingir que não é anúncio e se integra à programação

sofia cerqueira

unca se viu novela como
A Dona do Pedaço ó pelo
menos em matéria de
merchandising, nome da-
do àquele comercial que
sai da boca do persona-
gem como se fizesse parte
do roteiro. No folhetim glo-
bal das 9 que está prestes
a acabar, a regra de ouro desse tipo de
publicidade ó fingir que não é anún-
cio ó foi subvertida, com atores indo
da trama direto para o intervalo co-
mercial. O novo padrão se insere em
uma vasta reestruturação da área co-
mercial do Grupo Globo, que busca
fórmulas inovadoras de se adaptar à
variedade de plataformas e de conteú-
dos dos tempos atuais ó e assim re-
verter o resultado operacional negati-
vo de 530 milhões de reais em 2018.
“Todas as emissoras estão revisando o
modo como se relacionam com o anun-
ciante. O desafio é aproveitar ao máxi-
mo as ações a favor do cliente sem

N


comprometer a qualidade do conteú-
do”, diz Eduardo Schaeffer, diretor de
negócios integrados da Globo.
A nova maneira de fazer merchan,
o apelido afetuoso do comercial den-
tro da novela, quebra em pedacinhos a
antes vigente norma pétrea de que ato-
res jamais podiam aparecer em peças
publicitárias no intervalo de atrações
que os tivessem no elenco. Atuar em
um anúncio na pele do personagem,
então, era considerado pecado mortal.
Pois em A Dona do Pedaço o público
viu a influencer Vivi Guedes, interpre-
tada por Paolla Oliveira, ser contrata-
da para um anúncio de automóvel na
trama e, no intervalo seguinte, apare-
cer no comercial já gravado. Em outro
capítulo, o lutador Rock, vivido por
Caio Castro, entrou em uma loja para
comprar um celular e ali, em cena, foi
convidado a fazer um comercial de
uma rede varejista. Chega o intervalo
e lá está Rock/Caio no tal anúncio. A
protagonista Maria da Paz (Juliana

Paes) visitou a mesma loja, e batata:
logo depois, em anúncio pago, o
garoto- propaganda dizia: “A Maria
da Paz acabou de sair daqui”. A Glo-
bo não revela o valor das ações, mas
um comercial de trinta segundos no
horário custa 831 900 reais.
Até a duração dos anúncios entrou
na roda de inovações: além dos trinta
segundos de praxe, o anunciante agora
tem como opção os breaks de seis, dez
ou quinze segundos e, no extremo
oposto, os de um minuto e meio. Resul-
tado: nos últimos três meses, a receita
com comerciais aumentou em 200
milhões de reais. Em outra revolução, a
emissora liberou os jornalistas espor-
tivos para fazer merchan, e a estreia foi
exatamente com sua maior estrela:
Galvão Bueno deu uma voltinha em
um novo modelo de carro e a gravação
foi exibida em reportagem em três pro-
gramas. Mesmo as transmissões de jo-
gos entraram no pacote. Recentemen-
te, numa partida entre Flamengo e Pal-

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